China e Estados Unidos ratificam o Acordo de Paris

05/09/2016

Os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, anunciaram a ratificação do Acordo de Paris, que estabelece esforços do mundo inteiro para reduzir as mudanças climáticas e controlar o aumento da temperatura. Juntos, os dois países respondem por 38% das emissões do planeta.

China e Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, anunciaram conjuntamente na manhã deste sábado, 3, na China (noite de sexta-feira no horário de Brasília), a ratificação do Acordo de Paris, que estabelece esforços do mundo inteiro para reduzir as mudanças climáticas e controlar o aumento da temperatura.
Juntos, os dois países respondem por 38% das emissões do planeta. China é o líder atual, com cerca de 20%, e os EUA, que historicamente assumiram essa posição, respondem hoje por 18%. São os primeiros grandes países a ratificarem o acordo, o que deve acelerar sua implementação em todo o mudo.
Para entrar em vigor, o acordo, estabelecido no ano passado na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-21) em Paris, precisa ser ratificado por 55 países que respondam por 55% das emissões. Até antes do anúncio, 24 países já tinham feito a ratificação, mas eles respondiam por apenas cerca de 1% das emissões. Com o anúncio, essa fatia subiu para 39,06%, segundo informações passadas pelos próprios países à ONU.

A expectativa é que se alcance o total necessário até o final do ano.
O compromisso acordado por 195 nações do mundo é de se fazer esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa a fim de que o aumento da temperatura do planeta não passe muito de 1,5ºC, ficando “bem abaixo de 2ºC”.
Assim como já tinham feito antes, quando também anunciaram conjuntamente seus compromissos de redução de gases de efeito estufa (cada país do mundo disse quanto pode contribuir para o esforço global), os presidentes Barack Obama (EUA) e Xi Jinping (China) fizeram o anúncio na véspera da reunião do G-20 em Hangzhou, na China.
“Assim como eu acredito que o acordo de Paris vai se revelar um ponto de virada para o nosso planeta, acredito que a história vai julgar os esforços de hoje como fundamentais”, disse Obama, ao lado de Xi Jinping e do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

A secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) saudou o anúncio. “Gostaria de agradecer China e Estados Unidos por ratificarem o acordo, sobre o qual repousa a oportunidade de um futuro sustentável para todas as nações e todas as pessoas”, disse por meio de nota. “Quanto mais cedo o acordo for ratificado e totalmente implementado, mais seguro o futuro vai se tornar”, acrescentou.
China se comprometeu a atingir o pico de emissões de CO2 até 2030, reduzir a intensidade de carbono de sua economia (quanto de carbono é emitido por unidade econômica produzida), aumentar as fontes não-fósseis de energia e aumentar os estoques florestais. Os Estados Unidos se comprometeram a reduzir entre 26% e 28% suas emissões até 2025, em relação aos valores de 2005.
De acordo com análise feita pelo Climate Interactive com a escola de economia Sloan do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as duas metas juntas devem responder por 51% das emissões evitadas entre 2016 e 2100 considerando todas os compromissos anunciados pelos demais países.

Além de ser o maior poluidor histórico, a ratificação por parte dos EUA é simbólica porque o país por anos foi considerado o maior entrave a acordos climáticos. A primeira tentativa de se controlar as mudanças climáticas foi o Protocolo de Kyoto, que estabelecia metas de redução das emissões por parte dos países ricos. Mas os EUA, apesar de terem o assinado, acabaram se recusando a ratificá-lo quando o ex-presidente George W. Bush, do partido republicano, assumiu o governo e o protocolo naufragou.
A pressa de Obama se justifica também porque o atual candidato republicano, Donald Trump, já manifestou que, se eleito, iria rever a assinatura do Acordo de Paris, o que deve ficar mais difícil com a ratificação.
Para o ambientalista brasileiro Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, o anúncio à véspera da reunião do G-20 “é uma demonstração de liderança e deve colocar outros grandes poluidores sobre pressão para acelerar seu processo de ratificação”.
Por meio de nota, ele afirmou: “Antes tarde do que nunca, já que EUA e China foram os principais responsáveis pelo fracasso da conferência de Copenhague, que deveria ter-nos dado um acordo do clima global sete anos atrás.

É preciso agora começar a falar sério sobre o grau de ambição das metas de redução de emissões de todos os países do G20, inclusive as brasileiras, que ainda nos levam a um mundo de caos climático.”
Ele se referiu a diversos cálculos científicos que mostraram que apenas as metas anunciadas pelos países deixam o planeta bem além da temperatura desejada. As estimativas são que podemos chegar a um aumento de 3ºC até o final do século se os países fizerem apenas as reduções prometidas.

Brasil

O Brasil, que já teve o acordo aprovado por Câmara e Senado, perdeu o oportunidade de se tornar o primeiro grande país entre os maiores poluidores a ratificar Paris. O presidente Temer chegou a anunciar que o faria na última segunda-feira (29), quando começava o julgamento do impeachment da presidente Dilma, mas o cancelou na véspera e o remarcou sem mais explicações para o dia 12 de setembro.

Matéria veiculada no jornal Estadão

Giovana Girardi
03 Setembro 2016 | 12h04

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