Exposição ‘Á Margem’ tem sua primeira mesa redonda

06/04/2017

Participantes relataram experiências com os rios e córregos e revelam saudades dos tempos em que esses não eram canalizados. Exposição terá outros encontros como este.

Contar histórias e relembrar a vivência das pessoas e sua relação com os rios e córregos da capital, foi o quer propôs a primeira Mesa Redonda realizada na programação paralela à exposição ‘À Margem’, sobre a Bacia do rio das Velhas e o Projeto Manuelzão que estão acontecendo no Espaço do Conhecimento da UFMG, na Praça da Liberdade. O encontro reuniu personalidades simples do cotidiano belo-horizontino para contar um pouco sobre sua relação e identidade com os córregos que passam perto de suas casas e hoje estão encaixotados.

“Tenho 77 anos e vivi muito em minha infância o contato com o córrego dos Pintos que passava em frente a minha casa. No local pegávamos passarinhos, podíamos pisar na água e brincar com as borboletas. O que atualmente meus netos e as crianças não podem mais fazer devido à canalização dos cursos d’água”, disse o aposentado, Maurício Santiago que cresceu às margens do córrego, hoje coberto pela Av. Francisco Sá. Para ele, é necessário rever essa atual política urbana e cuidar mais para que os rios e córregos da capital não desapareçam por completo.

Já Cássia Cristina moradora do Quilombo urbano Manzo Ngunzo Kaiango, situado no bairro Santa Efigênia, revelou que na infância conviveu com dois córregos: o Cardoso (hoje coberto pela Av. Mem de Sá) e o Córrego do Navio-Baleia; e acompanhou os processos de degradação, canalização e esquecimento da memória dessas águas. “Como venho de matriz africana, temos muita relação com as águas e matas, pois, para nós a natureza é sagrada e nela buscamos nossas curas e também o divino. Buscamos sempre uma história que ficou para trás, mas ao mesmo tempo é tão viva. O rio foi o principal sustento social e religioso da nossa comunidade. Infelizmente vemos toda a nossa história canalizada e isto é muito triste para as futuras gerações que não viverão o que nós vivemos e aprendemos”, disse.

Fundadora do Instituto Undió, a professora da Escola Guignard-UEMG, Thereza Portes desenvolve o projeto ‘Nessa rua tem um rio’. A iniciativa surgiu da própria vivência com o Córrego do Leitão, que corria em leito natural na rua Padre Belchior e de sua adolescência nadando numa das nascentes deste córrego, no bairro Santa Lúcia. “São muitas as minhas lembranças do local; meus familiares se reunindo na beira do córrego e minha mãe recebendo amigos. Até brincávamos com a divisão do córrego, pois tínhamos a rua do lado de lá e de cá do rio. Lembranças fortes, que ainda pairam em nossas mentes”, disse emocionada.
Para ela, é preciso rever a política de canalização e realmente investir em propostas que revitalizem os rios e não os aprisione dentro de canais. “É preciso mudar o rumo dessa política para que nossas crianças possam também ter um rio ou um córrego para brincar, conhecer e aprender com ele. Nossa entidade trabalha justamente isso, vivenciar e reverenciar nossas águas”.

Mediador da mesa, o professor da Escola de Belas Artes da UFMG, Carlos Falci, atualmente é pesquisador de poéticas e políticas da memória em ambientes programáveis, especificamente narrativas da água. “Estamos reunidos para ouvir e compartilhar histórias. Todas elas chegam com a força do testemunho de quem viveu aquela realidade, pois toda história contada ganha mais força quando é compartilhada”, revela o professor que também participou de vários projetos envolvendo produções na área de memória, arte e tecnologia e desenvolveu pesquisa sobre criação de memórias culturais. Segundo a organização, acontecerão outras mesas redondas e a exposição seguirá até o dia 18 de junho.

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