Jonathan de Souza Matias

31/12/1969

Jonathan de Souza Matias – 27 anos Sabará Tudo começou quando eu tinha 6 anos e morávamos de favor na casa de um pessoal que não me recordo no bairro São Geraldo, em Belo Horizonte. Éramos minha mãe, meu pai, e eu. Minha mãe estava grávida da minha irmã. Então meu pai comprou um lote […]

Jonathan de Souza Matias – 27 anos

Sabará

Tudo começou quando eu tinha 6 anos e morávamos de favor na casa de um pessoal que não me recordo no bairro São Geraldo, em Belo Horizonte. Éramos minha mãe, meu pai, e eu. Minha mãe estava grávida da minha irmã. Então meu pai comprou um lote em Sabará, perto de Roça Grande, no Bairro Rosário II. A partir de então, comecei a ter os primeiros contatos com o Rio das Velhas. Começamos a ir ao lote para desaterrar e construir. Nessa época, ainda pegávamos o trem que acompanhava o Rio das Velhas. Ele passava (além de outras cidades) em Raposos, Sabará (Roça Grande), Marzagão, …, São Geraldo, …, Belo Horizonte (Praça da Estação). Então, saíamos de um lado que era o da BR hoje conhecida como BR-262 (antiga MG-5) e atravessávamos dentro do rio (a nado) para o outro lado, de forma a pegar o trem. Deixávamos as ferramentas na casa de um vizinho. Isso foi por volta de 1990. Aproveitávamos pra tomar um banho no rio. Esse processo seguiu no ano de 1990 até que nossa casa ficou de pé (não tinha porta, janela, reboco, etc…). Então, no mês de Junho de 1991, nos mudamos pra lá do jeito que estava (havia urgência, pois morávamos de favor). Eu tinha 7 para 8 anos. Lá, conheci a filha daquele vizinho onde deixávamos as ferramentas. Ela tinha a minha idade. E com ela, continuou minha história com o “Velhas”, pois tomávamos banho em sua “beirada” quase todo dia na época do verão. Além do rio, alí perto, havia um afluente que saía da montanha onde eu morava (a casa ficava no alto do morro), e desaguava no rio. Nós o chamávamos de “corguinho”! Ele passava por baixo da BR, dentro de manílhas, caindo do outro lado formando um “laguinho”, antes de caír no Rio. Tinha uma água límpida e clara, que dava até pra beber. Esse era nosso ponto de encontro, lugar de lazer. À beira do “Velhas”. Bem, minha amiguinha se afastou de mim por amadurecer mais cedo do que eu. Isso me tornou isolado do mundo no meu bairro. Não tinha amigos e meus vizinhos eram as cobras (7 cascavéis que já matamos e outras), carrapatos e as galinhas dos meus pais. Os anos se passaram e quando assustei estava na 5ª série (1995) quando conheci aquele que hoje é meu melhor amigo, Wesley, (15 anos de amizade). Comecei a frequentar a casa dele. Ele morava em um bairro de nome estranho, chamado Paciência. Ele tinha vários primos, e isso me chamou a atenção, pois não ter amigos me fez ficar próximo dele. Mas o que mais me aproximou do meu amigo, bem como de seus primos, foi o fato de que jogavam bola em um “campinho” à beira do “Velhas” (que também passava perto da casa dele). Comecei a jogar bola com eles e no final da pelada, todo mundo sujo daquela areia barrosa, pulávamos no rio e ficavamos nadado por um bom tempo.
Além de mim, meu pai adorava morar perto do rio, tinha como paixão a pescaria. Começamos, eu e Wesley, a ir pescar com meu pai na beira do rio. Meu pai descobriu uma isca pra pegar os bagres (e mandis amarelos) melhor do que minhoca. Então, começamos a pegar vários peixes. Contudo, devido à alta poluição no rio (já na época, por volta de 1998), os peixes eram muito sujos. Meu pai os lavava com escova de roupa e sabão de barra, saindo deles uma água preta. Minha mãe nem gostava de comer os peixes, mas eu, meu pai e Wesley comíamos mesmo (ô época boa!).
Os anos voaram e meu pai faleceu no ano 2000, eu entrei na Puc-minas no curso de Economia e lá procurei a coordenadora uma certa vez pra tentar, junto com outros colegas dos cursos de Biologia, Ecologia, Fonoaudiologia e do próprio curso de Economia, montarmos uma ONG, voltada à preservação da água. Infelizmente não deu certo. Então formei, fiz mestrado e hoje dou aula no curso de Economia da Puc, além de trabalhar em uma agência reguladora dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento saniário do estado de Minas Gerais. Infelizmente, no meu trabalho descobri (pois nunca tinha pensado nisso) que o esgoto da minha casa cai no Rio da Velhas. Fui decobri isso um dia que trouxe a conta de água para o trabalho de forma a servir como modelo e vi que cobrava-se “zero” pelo serviço de esgotamento sanitário. Eu acho isso um absurdo, em pleno século XXI, a cidade de Sabará não ter Esgoto tratado. Uma cidade que é tão perto de um centro urbano e é banhada por uma das maiores bacias do mundo (do Velhas)! Gostaria muito que Sabará assinasse o contrato de concessão com a concessionária de saneamento ou o próprio município construisse uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto). Tenho certeza que isso ia contribuir para o projeto Manuelzão, diminuindo drasticamento a emissão de esgoto no rio.

No mais, a história é essa e estou no trabalho. Logo, tenho fotos de peixes pescados pelo meu pai no rio, mas estão em casa.

Abraço a todos e continuem seu ótimo trabalho no projeto Manuelzão, para que meus filhos talvez um dia possam ter suas próprias histórias com o “Velhas”.

Página Inicial

Voltar