Viajantes do passado

12/08/2018

Os textos acima baseiam-se em informações contidas no livro “O Caminho dos Currais do Rio das Velhas: a Estrada Real do Sertão”, de Eugênio Goulart.

Fernão Dias

Casa de Fernão Dias em processo de restauração em 2009 (Foto: Procópio de Castro)

O bandeirante Fernão Dias realizou uma famosa expedição em busca de metais e pedras preciosas. Saiu de São Paulo em 1674 e passou por Minas deixando legados históricos marcantes para a região. Conheceu o sertão mineiro como poucos o fizeram. Percorreu os caminhos da serra do Espinhaço, em especial pelo lado que abriga o cerrado, abrindo uma picada em direção ao norte. Desempenhou um papel importante para o povoamento de Minas Gerais por ter traçado trilhas que orientaram a ocupação das terras ao longo da serra do Espinhaço.

Em 1676, Fernão Dias passou pela Estrada Real do Sertão, conhecida como Caminho dos Currais, quando saiu da feitoria que fundara com o nome de Sumidouro em direção à lendária “Serra Resplandescente”, que seria a grande e esperada fonte de esmeraldas. A princípio julgou ser a serra da Piedade a serra que procurava, mas descobriu que aquela não era o reduto dos minerais preciosos que pensara. Algum tempo depois, ao atravessar o mesmo caminho, Fernão morreu acometido pela malária que contraiu após anos como expedicionário.

Sumidouro, hoje distrito de Lagoa Santa, foi palco de uma tragédia pessoal na vida de Fernão Dias. Após longa permanência de sua bandeira em um local hostil enfrentando dificuldades e tendo de sacrificar-se muito, um grupo que o seguia se amotinou contra ele, sendo que o líder do motim era seu filho, José Dias. Ele então puniu o traídor com a morte. Mandou enforcar seu próprio filho ali.

Barão Langsdorff

Vista de Sabará pintada por Rugendas

Este viajante navegou pelo Velhas em 1824 até Jequitibá e depois tomou o caminho terrestre para o interior dos morros de Minas. Era membro da Academia de Ciências da Rússia Imperial. Produziu muitos documentos, como cartas, livros e mapas, dos quais grande parte não foi divulgada devido a uma proibição do governo russo.

Um de seus relatos conhecidos refere-se à passagem de sua expedição científica pelos caminhos da “Serra da Lapa”, posteriormente denominada serra do Espinhaço, em direção a Diamantina. Há também um mapa em que descreve os principais rios da região, como o rio das Velhas, estradas e elementos do relevo.

Langsdorff deixou vários registros sobre o Brasil. Dentre os mais interessantes, encontra-se o quadro pintado por Rugendas, que era desenhista de sua expedição, intitulado “Sabará e o rio das Velhas”, no qual a Vila Real de Sabará é representada com grande destaque para o rio das Velhas, imponente na região.

Barão de Eschwege

Barão de Eschwege

Eschwege foi um geólogo nascido na Alemanha que estudou e escreveu a respeito da mineralogia brasileira. Descreveu caminhos de Minas Gerais, entre eles o que liga Sabará diretamente a Diamantina. Acredita-se que ele tenha atribuído o nome à serra do Espinhaço, ao associar as formas da serra à de uma coluna vertebral.

Auguste de Saint-Hilaire

Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853)

Naturalista francês, Auguste de Saint-Hilaire conheceu o Caminho dos Currais do Rio das Velhas. Em sua obra, relatou sobre o Caminho do Mato Dentro, isto é, a Estrada Real que passava pela parte leste da serra do Espinhaço. Ele percorreu parte do Brasil entre 1816 e 1822.

Peter Lund

Peter Lund (1801-1880)

Naturalista vindo da Dinamarca, Lund passou vários anos de sua vida estudando paleontologia em Lagoa Santa, cidade situada próxima à margem direita do rio das Velhas. Veio para o Brasil em 1825, buscando um clima mais ameno para viver e fugindo do frio extremo de sua terra e da tuberculose. Aqui ficou por muito mais tempo do que pretendia, até seu falecimento, em 1880, quando já estava com 79 anos.

Lund ficou fascinado com a abundância de fósseis que encontrava facilmente nas grutas calcárias da região de Lagoa Santa. Ele estudou a paleontologia brasileira como até então jamais alguém havia feito. Descobriu muitos fósseis de espécies de animais e plantas cuja existência nunca havia sido identificada e estudada, chegando a enviar para a Dinamarca 12 mil deles. Lund foi o primeiro a encontrar um fóssil humano pré-histórico nas Américas.

Suas descobertas paleontológicas foram mais tarde utilizadas por Charles Darwin para consolidar sua argumentação acerca da Teoria da Evolução, que orienta o atual entendimento científico sobre a história da vida na Terra.

Richard Burton

Richard Burton (1821-1890)

O lendário aventureiro inglês Richard Francis Burton navegou, em 1867, o trecho do rio das Velhas que vai de Sabará ao rio São Francisco. Nesta viagem, conheceu uma paisagem peculiar e instigante, mesmo para ele, que já tinha atravessado lugares exóticos e deslumbrantes ao redor do mundo.

Burton realizou sua expedição a bordo de uma canoa, que ele mesmo descreveu como “(…) o ajojo ou balsa (…) embarcação tão decrépita, verdadeira Arca de Noé, semelhante a uma carroça de ciganos flutuante, coberta por um toldo, cerca de dois metros e trinta centímetros de altura e um de comprimento, assentando-se sobre dois troncos ocos.”

O expedicionário esteve na região do rio das Velhas durante o período de chuvas, o que lhe pareceu desagradável pelo excesso de umidade e calor. No entanto, durante sua expedição fez registros minimamente detalhados que discorriam sobre características da vegetação, da hidrografia e do relevo, além de observar atentamente os traços culturais da população que habitava a região e denotavam sua curiosidade e admiração por essas terras.

Spix e Martius

Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e Johann Baptist von Spix (1781-1826)

Oriundos da Alemanha, Spix e Martius percorreram parte do Brasil entre 1817 e 1820. Os dois cientistas haviamsido nomeados pelo rei bávaro para acompanhar a jovem imperatriz, a arquiduquesa austríaca D. Leopoldina, que vinha ao Brasil para se casar com D. Pedro I.

A Estrada Real foi uma etapa importante da viagem dos cientistas. Eles passaram pelos caminhos antigos que foram trilhados ao longo do rio das Velhas e descreveram o trajeto que ligava Ouro Preto a Sabará, tendo chegado até Diamantina. A cavalo e em lombo de burro, os dois naturalistas levaram 15 dias para percorrer os cerca de 400 quilômetros que separam as duas localidades.

1. Os textos acima baseiam-se em informações contidas no livro “O Caminho dos Currais do Rio das Velhas: a Estrada Real do Sertão”, de Eugênio Goulart.

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