A cidade precisa respeitar seus rios - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

A cidade precisa respeitar seus rios

20/01/2020

Única saída sustentável para as enchentes em Belo Horizonte e região é criar soluções integradas e sistêmicas, que respeitem a lógica das bacias hidrográficas

O Projeto Manuelzão atua há mais de duas décadas na busca por compreender os impactos entre saúde e meio ambiente. As tragédias deste início de 2020 em Belo Horizonte e região (MG) são tão doloridas quanto anunciadas. Ao longo de vários anos, o Manuelzão tem acompanhado e se aprofundado nas discussões sobre nossos rios urbanos e a forma como construímos nossas cidades. Infelizmente, insistimos em um modelo de cidade que não respeita os cursos d’água em ambiente urbano.

A formação dos rios é um processo lento e dinâmico. Os cursos d’água naturalmente se enchem em épocas de chuva, estamos cansados de saber disso. Nenhum rio passa aqui ou ali por acaso. Assim, impermeabilizar o solo, retificar os cursos, transformar córregos em avenidas, desconsiderando todo um sistema hídrico, é programar tragédias futuras. Com as chuvas, certamente, essas avenidas voltarão a ser rios.

No último domingo, mais uma vez, centenas de famílias tiveram que enfrentar essa luta. De acordo com o portal G1,

“As regiões de Venda Nova, Barreiro e Oeste, em Belo Horizonte, tiveram inundações por causa da chuva deste domingo (19). 

Naquela  tarde, a Avenida Vilarinho, em Venda nova, teve o trânsito fechado às 15h por conta de alagamentos. A Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste, também foi bloqueada para tráfego, porque o Ribeirão Arrudas transbordou em vários pontos. Também choveu forte na região Centro-Sul, com enchentes registradas na avenida Olegário Maciel, e em Contagem, na região metropolitana. ” 

Em Contagem, também em consequência das chuvas de ontem, foram mais de 200 desalojados.

“Cerca de 200 pessoas ficaram desalojadas em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, após o temporal que atingiu uma região da cidade na tarde deste domingo (19). Segundo a Defesa Civil municipal na manhã desta segunda-feira (20), sete famílias estavam desabrigadas, sem condições de voltar para casa.

Choveu mais de 100 milímetros em cerca de 40 minutos em Contagem na tarde de domingo. Os moradores mais impactados são da Vila Barraginha. Ainda de acordo com a Defesa Civil, moradores das vilas Itaú, São Paulo e Frigodiniz também foram impactados.”

Segundo o depoimento de uma moradora do Bairro das Indústrias:

“Aqui na região, há uma galeria apertada e toda agua que desce passa por essa galeria. Há  24 anos meus familiares sofrem com isso. Então, chegamos a construir um degrau na entrada da casa e colocamos uma chapa de ferro ainda mais alta, mas nada adiantou…  A água passou por cima de tudo, arrebentou tudo… Eu estava na casa e foi uma experiência terrível para mim. Mas minha sogra vive há 24 anos na região, todo ano é a mesma coisa”, afirma a moradora.

É urgente redesenhar nossos centros urbanos a partir da lógica dos rios, consolidada ao longo de milhões de anos. E não o contrário. Deve-se entender que funções cada área possuía antes da urbanização e, então, pensar que função pode desempenhar agora. Famílias que vivem em áreas de inundação precisam ser removidas para moradias dignas. 

Grandes centros urbanos, como a Região Metropolitana de Belo Horizonte, precisam de uma política consolidada de gestão hídrica, soluções integradas e sistêmicas urgentemente. Só assim para que possamos imaginar que cenas como a deste janeiro parem de se repetir.

Projeto Manuelzão

 

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