Alerta para a necessidade de economia de água

24/06/2015

“Estamos trilhando um caminho de travessia, pois estimamos chegar a agosto com uma vazão abaixo dos 12 metros cúbicos por segundo”, afirma o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano.

Quando a presidente da Companhia de Saneamento de
Minas Gerais (Copasa), Sinara Meireles, anunciou oficialmente a crise de
abastecimento de água na Grande BH, em janeiro, a perspectiva da empresa era
esgotar os reservatórios até maio, caso não houvesse economia e a chuva fosse
insuficiente, já com adoção do racionamento. Cinco meses depois, a presidente
voltou a falar em restrição do consumo, desta vez prevendo a medida drástica
para, no máximo, agosto, caso a economia não seja o dobro da registrada em
maio, quando a população conseguiu redução de apenas 14,5%. As chuvas de março,
abril e maio deram sobrevida aos reservatórios, mas a população não conseguiu
ir além de uma média de economia de 13,72% por mês. Com a chegada da estiagem, pelo
menos até setembro a expectativa é que apenas o racionamento evite o colapso,
caso não haja a redução no consumo de 30% projetada pela Copasa.

Grande BH pode ter racionamento de água em agosto

“Ainda estamos em situação extremamente
preocupante. A vazão do Rio das Velhas tem caído dia a dia, assim como o nível
dos reservatórios. Estamos em pleno início do tempo seco e não descartamos,
infelizmente, a possibilidade de racionamento nem a cobrança de sobretarifa
(nas contas de água)”, disse Sinara Meireles, durante seminário que trouxe a
Belo Horizonte a experiência espanhola de enfrentamento da crise hídrica vivida
pelo país europeu em 2007.

Nessa mesma época de 2014, a situação do Sistema
Paraopeba, um dos responsáveis pelo abastecimento dos 5,5 milhões de habitantes
da Grande BH, era capacidade de 56,1%. Um ano depois, a reserva é de 36,3%,
mesmo tendo recuperado volume entre janeiro, data do anúncio oficial da crise,
e ontem.

“Na Grande BH, os reservatórios estão com 30% do
volume de água acumulado. Isso significa que estamos entrando em um período de
seca com um terço do que usualmente se tinha. Daí a importância de reforçar o
apelo, pedindo à população que economize água. Os 30% são essenciais nesse
momento”, alertou a presidente da Copasa. A empresa ressalta que o programa
Caça-Gotas, lançado no início do ano para diminuir o tempo de solução dos
vazamentos, já surtiu efeitos na Grande BH. O tempo médio para atender as
ocorrências, que era de nove horas, caiu para quatro horas e 31.

SOBRETARIFA A sobretarifa nas contas de água também
está na mira da empresa, cuja metodologia é definida pela Agência Reguladora
dos Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário (Arsae/MG). “A
Arsae já avançou na metodologia. A Copasa solicitou que ela suspendesse a fase
externa de desenvolvimento, que é justamente a parte de audiência pública.
Vamos em meados de julho definir, de acordo com o nível dos reservatórios, se
trabalharemos com a sobretarifa”, acrescenta Sinara Meireles.

O diretor-geral da Arsae/MG, Antonio Caram Filho,
diz que o pedido de suspensão da Copasa vale por 30 dias e vence em 11 de
julho. “Se não houver outra solicitação, a partir dessa data a Arsae volta a
trabalhar na sobretarifa, mas novos estudos referentes a julho deverão ser
considerados”, afirma o diretor.

Outra situação que preocupa bastante é a do Rio das
Velhas, que fornece 60% da água consumida em Belo Horizonte. Desde 18 de maio,
o manancial está em estado de atenção, pois o resultado de sua vazão na estação
de tratamento Honório Bicalho da Copasa, em Nova Lima, na Grande BH, é igual ou
menor do que 200% do nível mais baixo medido nos últimos 10 anos, em sete dias
consecutivos, o chamado índice Q7,10.

Essa situação prevê bastante cuidado, pois o
próximo nível na escala da escassez dos recursos é o estado de alerta, que
antecede a restrição de uso da água. “Tivemos uma ajuda importante do tempo até
maio, que contribuiu para a recarga hídrica do Velhas. Mas agora estamos trilhando
um caminho de travessia, pois estimamos chegar a agosto com uma vazão abaixo
dos 12 metros cúbicos por segundo”, afirma o presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano.

A Q7,10 do Rio das Velhas na Estação Honório
Bicalho é 10,25, valor muito próximo do estimado pelo ambientalista para
agosto, mês considerado crítico no período seco. Se a vazão se repetir durante
sete dias em um valor que não ultrapasse a Q7,10, automaticamente o rio entra
em estado de alerta. “Estamos tentando trabalhar com o Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (Igam) e com os usuários da bacia para fazer um plano de
contingenciamento. Como a vazão vai baixar, teremos que fazer ajustes nas
outorgas. É importante lembrar também que o rio não serve só para suprir BH,
ele tem que seguir o caminho até o São Francisco e para isso precisa ter
vazão”, completa Polignano.

O objetivo é evitar que aconteça com o Velhas o que
já está acontecendo com o Rio Piranga, primeiro manancial a entrar em estado de
alerta, em 19 de maio, quando saiu o primeiro boletim do Igam com o
monitoramento hidrológico dos cursos d’água em Minas. O manancial, que integra
a Bacia do Rio Doce, ficou sete dias com vazão inferior ou igual ao valor total
de sua Q7,10.

“Esse é um resultado do perfil de dois anos de
chuvas. Nos últimos dias, houve oscilação entre os estados de alerta e atenção
e ele ainda não está totalmente consolidado em estado de alerta”, informa a
engenheira civil do Igam, Patrícia Carvalho. A estação que registra as vazões
que foram consideradas para que o manancial entrasse em estado de alerta fica
em Ponte Nova, na Zona da Mata.

 Palavra de
especialista

Carlos Martinez, coordenador do Centro de Pesquisas
em Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG

Sobretaxa não é razoável

“Observando os dados disponibilizados pela Copasa,
é possível perceber que a situação é crítica, pois os reservatórios estão bem
abaixo do que foi registrado na mesma época do ano passado em um momento de
período seco mais crítico. Porém, antes de racionamento, é importante saber
sobre as perdas do sistema, que ficam na faixa dos 40%. Se existem perdas
acentuadas no sistema, a captação continuará alta para atender a uma demanda
que se perde no meio do caminho. Se houver redução de perdas confiável e, mesmo
assim, a situação ainda for crítica, o certo é partir para o racionamento.
Sobretaxa não é uma alternativa razoável em um momento de crise econômica e
inflação alta.”

Prefeito veta proposta

O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB),
vetou uma proposição de lei para criar normas de captação, conservação e uso de
água nos prédios do município. De autoria do vereador Adriano Ventura (PT), a
lei pretendia também promover a conscientização dos usuários sobre a
importância do uso racional da água. Entre as normas, estava a instalação de
sistemas hidráulico-sanitários com materiais reconhecidos como de menor consumo
de água, dispositivos economizadores como chuveiros e lavatórios de volumes
fixos de descarga. A regra também estabelecia a captação de água de chuva para
regar jardins e hortas, lavagem e roupas, veículos, vidros, calçadas e pisos.

Repórter: Guilherme Paranaiba

Matéria veiculada no jornal Estado de Minas 

Data: 24-06-2015

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