Ambientalistas se reúnem no Manuelzão para discutir Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA)

23/08/2017

Os preparativos buscam unir movimentos para o encontro que ocorrerá paralelamente ao 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, em marco de 2018. Participe das reuniões e acompanhe as discussões pelo nosso site.

Com a iminência
do 8º Fórum Mundial da Água, que acontecerá em março de 2018 em Brasília,
discussões acerca da temática hídrica vem tomando lugar em diversas esferas da
sociedade. Assim, organizações populares e militantes estão trabalhando na
ideia da realização do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), que ocorrerá
paralelamente ao evento oficial e com um viés voltado para a democratização e
sociabilização da água. Com alcance nacional, os organizadores do FAMA têm
buscado a adesão de grupos de diversas localidades do país para compor o
evento. “Estamos propondo a criação de Comitês Locais – coletivos de indivíduos
da sociedade civil e de outras entidades ambientais – para se juntarem a
organização nacional em busca do fortalecimento do Fórum Alternativo”, explica
Camila Mello, organizadora do FAMA na área de articulação e mobilização. 

Em Belo
Horizonte, o Projeto Manuelzão realizou durante a tarde desta segunda-feira
(21), um encontro preparatório para o FAMA, no qual foi lançado o Comitê Local
de Minas Gerais. Ambientalistas, quilombolas, representantes dos subcomitês e
pessoas interessadas na luta em prol do meio ambiente se reuniram na Faculdade
de Medicina da UFMG para discutirem sobre os rumos dos recursos hídricos
mundiais e possíveis alternativas para a atual mercantilização da água.

Chamado pelos
organizadores do FAMA de “Fórum das Corporações”, o Fórum Mundial da Água tem
sido criticado por ser caráter economicista e não democrático. O evento é
coordenado pelo Conselho Mundial da Água, que, por sua vez, é dirigido por
diversas instituições “globalistas”, como o FMI, o Banco Mundial, a OMC etc. Segundo
Camila, para essas grandes corporações, a água é tida como bem econômico; como
mercadoria. “Na concepção dessas congregações, para além do Petróleo, a água é
o melhor negócio do mundo, pois é indispensável para as pessoas”.

Durante o
evento, o coordenador do Projeto Manuelzão e presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano, refletiu sobre a
relação entre a questão hídrica ea questão territorial. A água é, naturalmente,
um divisor de territórios e um indicador do desequilíbrio espacial existente em
suas margens. Dessa forma, quando são observadas águas poluídas a jusante,
percebe-se que houve uma alteração não sustentável nas terras a montante; ou
seja, as formas de ocupação de um território e as relações da comunidade lá
habitante são refletidas na qualidade dos recursos hídricos. Para ele, o
reconhecimentodo pertencimento à determinada localidade, cria,consequentemente,
uma noção de responsabilidade sobre aquele local. Assim, a articulação social
para uma “água com território” é importante para a proteção efetiva deste
recurso inerente à vida. “Ao levantarmos a bandeira da água, temos que trazer,
também, a bandeira de território”, afirma Polignano.

“Água essencial
à vida: direto e não mercadoria” foi escolhida como lema do Comitê Local de
Belo Horizonte e sua sede será no Projeto Manuelzão. Reuniões e ações de
mobilização serão realizadas pela comissão organizadora do Comitê, que atuará
diretamente com os organizadores nacionais do FAMA.

Fórum Alternativo Mundial da Água x Fórum
Mundial da Água

Pela primeira
vez no hemisfério sul, o Brasil receberá em março de 2018 o Fórum Mundial da
Água, onde representantes de mais de cem países se reunirão para discutir temas
relacionados aos recursos hídricos mundiais. O Fórum foi criado em 1997 pelo
Conselho Mundial da Água e acontece a cada três anos, estando em sua 8ª edição.

Durante seis
dias – 18 a 23 de março de 2018 – debates, exposições e outras atividades farão
parte da programação do evento, que calcula a participação de 30.000 pessoas de
mais de cem países.Segundo estimativas do Governo do Distrito Federal, o Fórum
deve custar cerca de R$80 milhões, com 40% do valor pago pelo Governo
Federal. 

Ganhando mais
força nas últimas duas edições do Fórum Mundial da Água – 2012, em Marseille,
França, e 2015, em Daegu, Coréia do Sul – a sociedade civil e entidades
ambientais se uniram e organizaram o Fórum
Alternativo Mundial da Água
. Também chamado de FAMA, o fórumse consiste em
um evento que reúne ambientalistas de diversos países em prol de um objetivo
comum: a transformação da relação humana com os recursos hídricos, fugindo do
viés economicista e alcançando a noção de “água como direito e não mercadoria”.

O Fórum
Alternativo ainda está em fase de estruturação, mas pretende ser um evento de
debates, mobilizações e planejamentos estratégicos diferentes do tradicional,
pensando a relação com a água de forma ecologicamente harmoniosa e com inúmeras
dimensões. “Pensamos no desafio de lidar com a diversidade sociocultural que
envolve a água e em maneiras de garantir sua oferta a todos”, comenta Camila.
Além disso, reforça outro importante objetivo do FAMA, que se baseia no desejo
de “denunciar o caráter corporativo e privado do Fórum das Corporações”.

O FAMA,
portanto, nasceu como uma forma de resistência à estruturação econômica do
Fórum Mundial da Água. Enquanto o primeiro tem em sua organização membros da
sociedade civil organizada somados às entidades ativistas não governamentais
(MAB, FNSA, PROAM, SINFRAJUPE etc), o segundo é estruturado por grandes
corporações privadas de influência mundial. Dessa forma, a falta de vinculação
do Conselho Mundial da Água à Organização das Nações Unidas (ONU), promove a
luta da equipe do FAMA para o não reconhecimento da legitimidade do Fórum e de
suas decisões.

Após 20 anos da
criação do Fórum Mundial da Água, a preocupação de Camila também se consiste na
crescente influência das corporações globalistas, principalmente quando analisa
o aumento da potência do evento. Informações do site oficial do Fórum
demonstram este crescimento: em 1997, estiveram presentes cerca de 400 pessoas;
já em 2015, contabilizam-se em torno de 40 mil participantes. “Penso que o
Fórum é apenas uma pontinha do iceberg. O que será que já está organizado por
trás das cortinas?”, indaga.

 

 

Página Inicial

Voltar