Após estiagem, chuvas provocam mortandade de peixes no VelhasProjeto Manuelzão

Após meses de estiagem, primeiras chuvas provocam mortandade de peixes no Rio das Velhas

25/10/2024

Situação foi relatada em Sabará, Baldim, Jequitibá e Santana de Pirapama, na região do Médio Rio das Velhas

Mortandade registrada no Rio das Velhas em 14 de outubro. Imagem: Reprodução redes sociais.

[Notícia publicada pelo CBH Rio das Velhas em 15 de outubro de 2024; o texto é de Ricardo Miranda.]

Moradores ribeirinhos de diferentes municípios ao longo da Bacia do Rio das Velhas estão preocupados com a quantidade de peixes mortos nas águas. A situação já foi relatada em Sabará, Baldim, Jequitibá e Santana de Pirapama, na região do Médio Rio das Velhas. Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram centenas de peixes grandes, de diferentes espécies, sendo levados pela água escura do Velhas.

O fenômeno acontece dias após a volta das chuvas na região. Depois de meses de um longo período de estiagem, choveu em várias cidades da Bacia do Rio das Velhas. Na visão de especialistas, a mortandade dos peixes está ligada diretamente a isso. O biólogo, mestre em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, e pesquisador do NuVelhas – Projeto Manuelzão, Carlos Bernardo Mascarenhas, explica que a água da chuva leva para o rio a poluição que estava acumulada no solo durante o período de estiagem. “Foram seis meses de acúmulo da poluição, agrotóxicos, rejeitos, lixo e, especialmente esse ano, muitas cinzas provenientes das queimadas. E a mortandade dos peixes ocorreu tanto na bacia do Velhas, quanto na do Rio Paraopeba, depois das chuvas da semana passada”, explica. Carlos afirma que as primeiras chuvas após longos períodos de estiagem são sempre mais prejudiciais para os rios.

A situação observada esta semana é semelhante ao que já foi registrado em anos anteriores. Ainda segundo Carlos Mascarenhas, o aumento abrupto na vazão do Rio das Velhas, durante os períodos de forte chuva na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), acaba revelando outro problema da bacia. “Em função do passivo ambiental do sedimento depositado em seu leito, todo esse volume expressivo de matéria orgânica e poluentes acumulados durante décadas, até o início de operação das ETEs [Estações de Tratamento de Esgoto na Grande BH], acaba sendo revolvido e transportado para outras áreas, modificando as características do ambiente aquático”, conta.

Comitê em alerta

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH do Rio das Velhas) monitora a situação. “O Comitê acompanha de perto as situações de mortandade que, infelizmente, tendem a ser comuns nesse período logo após as primeiras chuvas, provenientes dessa baixa da qualidade de água. Essa situação recorrente traz sempre uma preocupação de todos nós e um clamor, principalmente dos ribeirinhos, pescadores e de quem vive ali do lado do rio”, afirma a presidenta do CBH, Poliana Valgas.

Ainda segundo ela, a situação é sistêmica e complexa. “Temos uma bacia com 51 municípios e mais de 800km de calha de rio que recebe contribuição de poluentes dos centros urbanos as áreas rurais da bacia. Este processo de drenagem das águas das primeiras chuvas carreia sedimentos, óleos, graxas, minérios, matéria orgânica, agrotóxicos, resíduos para dentro da calha, impactando diretamente as águas do rio. Para além desta situação, precisamos muito ainda avançar no tratamento dos esgotos nos municípios da bacia e em formas de contenção da poluição difusa para termos águas de melhor qualidade e a volta e permanência dos peixes ao longo da bacia”, destaca Poliana.

Para o vice-presidente do Comitê, Ronald Guerra, o caso não pode ser banalizado e exige máximo compromisso do poder público e demais órgãos. “Não podemos normalizar a mortandade. A morte dos peixes anuncia a nossa condição civilizatória. Ainda temos muita poluição de esgoto doméstico, poluição difusa e industrial, além do revolvimento de sedimentos tóxicos. Os peixes anunciam a morte lenta do Rio das Velhas. Precisamos revitalizar o rio e concentrar esforços na sua recuperação”, afirma o vice-presidente do CBH Rio das Velhas, Ronald Guerra.

Ainda segundo Carlos Mascarenhas, a mortandade deve ser objeto de análise. “Eu acho que, além da investigação da própria mortandade em si, é uma boa oportunidade para se abordar a questão dos eventos climáticos extremos. As mortandades de peixes que ocorrem após as primeiras chuvas haviam diminuído, tanto em número de ocorrências quanto em relação à quantidade de peixes e área afetada. Mas este ano foram mais intensas, provavelmente por conta dos seis meses atípicos de estiagem em 2024”, conclui.

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