Causa e catástrofeProjeto Manuelzão

Causa e catástrofe

09/05/2024

Calamidade no Rio Grande do Sul, que vive a pior inundação de sua história, representa confirmação trágica e dolorosa de uma lógica míope

Cheia do Rio Guaíba na capital Porto Alegre. Foto: Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil.

Nos últimos dias o Brasil tem acompanhado atônito a calamidade enfrentada pelo Rio Grande do Sul, que vive a pior inundação de sua história. Em meio à destruição e ao caos decorrentes dela, assistimos à formação de redes de ajuda e solidariedade e contribuímos como podemos para amenizar a situação enfrentada pelas pessoas e pelos animais arrasados e ilhados.

Mas, é bom perguntar, até quando a forma escolhida pela sociedade para lidar com eventos climáticos extremos, na maioria dos casos previsíveis e cada vez mais comuns, será baseada em respostas a alertas e não em defrontar às causas?

Se parece claro que a culpa não é da chuva ou das condições que nos escapam, o problema só pode residir nos modelos de produção, habitação e, em último nível, convivência com o ambiente que nos envolve.

Para o Projeto Manuelzão e tantas outras organizações, movimentos, pesquisadores e cidadãos que acompanham atentamente as questões ambientais no país, tal cenário representa uma confirmação trágica e dolorosa de uma lógica míope.

Ao mesmo tempo que nos espanta essa repetição das tragédias e o recalque dos inúmeros sinais que as antecedem, resta-nos bater nas mesmas teclas até o dia em que um descompasso tão abissal entre análise e realidade seja suplantado.

Lemos por exemplo que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), alterou quase 500 normas do Código Ambiental do estado em 2019, seu primeiro ano de mandato. Ele flexibilizou a construção de barragens e reservatórios em áreas de proteção permanente e afrouxou a lei de agrotóxicos.

Na última quinta-feira, 2, rompeu-se parcialmente a barragem 14 de Julho, entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, após a cheia do Rio das Antas. Outras quatro estruturas estão em situação de emergência.

Por sua vez, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), não investiu qualquer recurso na prevenção a enchentes no ano de 2023, mesmo tendo R$ 428,9 milhões em caixa.

Não tomaram essas decisões sozinhos, é claro, sem base de sustentação política e algum respaldo social.

Entre os 34 deputados federais pelo Rio Grande do Sul, Fernanda Melchionna (Psol) foi a única a destinar emendas parlamentares para a prevenção de desastres climáticos no estado em 2024.  Maria do Rosário (PT) e Reginete Bispo (PT) disponibilizaram verba para ações de educação ambiental.

Em síntese, a combinação de fenômenos climáticos e vulnerabilidades geográficas do Rio Grande do Sul intensificaram o impacto das enchentes e falhas de governança foram determinantes para agravar a tragédia.

A negação das advertências científicas sobre mudanças climáticas e a negligência na adoção de medidas de adaptação resultou em perdas irreparáveis. As consequências dessas ações, e da falta de muitas outras, evidenciam os impactos devastadores de uma política de desmonte ambiental em curso no estado.

De acordo com o último boletim da Defesa Civil, emitido às 12h desta sexta-feira, 10, o estado registra 113 mortos, 146 desaparecidos e 435 municípios afetados. São quase 2 milhões de pessoas atingidas no estado.

O Rio Guaíba, na capital, ultrapassou o nível de 5 metros — o maior da história —, superando a marca de 4,76 metros registrada há 83 anos, nas cheias de 1941.

Como ajudar?

Diversos movimentos sociais estão mobilizando todo tipo de apoio para as vítimas das enchentes, que também afetaram os territórios e a população indígena que vive no Rio Grande do Sul. As ações incluem arrecadação de doações em dinheiro, alimentos não perecíveis, itens de higiene pessoal e de limpeza; além de cozinhas solidárias e brigadas voluntárias de resgate.

Alguns dos pontos de coleta e dados bancários para doações podem ser encontrados nos perfis dos movimentos no Instagram, listados abaixo:

Página Inicial

Voltar