CBH Rio das Velhas realiza vistoria e confirma alterações de cor e turbidez em afluente - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

CBH Rio das Velhas realiza vistoria e confirma alterações de cor e turbidez em afluente

12/04/2023

Integrantes do Comitê foram em pontos do rio que, há duas semanas, registram alterações de turbidez e mortandade de peixes, após vazamento em barragem da CSN

[Notícia de João Alves para o site do CBH Rio das Velhas, publicada nesta quarta-feira, 12 de abril; a foto é de Fernando Piancastelli.]

Integrantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) realizaram, nesta terça-feira, 11, uma visita técnica em pontos do rio que, há duas semanas, registram alterações de cor e turbidez, e mortandade de peixes.

A vistoria – acompanhada por membros dos Subcomitês Águas do Gandarela, Rio Itabirito, Nascentes e Águas da Moeda, lideranças comunitárias, representantes do poder público local e veículos de imprensa – constatou visualmente que as alterações de cor e turbidez permanecem no afluente Córrego Fazenda Velha até o seu encontro com o Rio das Velhas.

O Comitê aguarda as análises da qualidade das águas, promovidas pelo Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), que confirmarão qualquer tipo de contaminação no Córrego Fazenda Velha.

As alterações são semelhantes às observadas na semana passada, quando a Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) autuou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por causar poluição/degradação ambiental. Os sedimentos que impactaram o rio na última semana teriam vindo das barragens da Mina do Fernandinho, que, segundo a empresa, é usada para contenção de sedimentos. Durante uma limpeza da estrutura o material acumulado no fundo se soltou.

Na ocasião, o CBH Rio das Velhas repudiou o ato e cobrou dos órgãos gestores do Estado de Minas Gerais, em especial Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) e Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), informações periódicas da real situação da qualidade da água do Córrego Fazenda Velha e do Rio das Velhas, como também da segurança das estruturas de mineração da CSN.

Após a vistoria, a presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, lamentou o que foi observado. “É notória a alteração na turbidez e coloração do Córrego Fazenda Velha. Inclusive totalmente distinta da própria coloração das águas do Rio das Velhas, quando se encontram. Não podemos naturalizar essa situação e a recorrência em que isso tem ocorrido” afirmou.

Risco à qualidade da água da Região Metropolitana de Belo Horizonte

Especialmente por se tratar de uma região extremamente sensível e estratégica para a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o Comitê vê com preocupação qualquer tipo de eventual contaminação ou insegurança nas estruturas de barragens de rejeito. “Milhões de pessoas dependem dessa água em quantidade e qualidade” explicou Poliana Valgas.

As barragens da Mina Fernandinho estão a 17 km do centro de Rio Acima, a 6 km do Rio das Velhas e a aproximadamente 10km da Estação Bela Fama, da Copasa, de onde sai a água que abastece metade dos 5 milhões de habitantes da RMBH.

Cabe destacar que a captação no Rio das Velhas ocorre a fio d’água, sem reservação. Portanto, qualquer eventual rompimento de barragem que comprometa o rio pode levar a Grande BH a uma situação extremamente grave no que diz respeito à segurança hídrica.

Cobrança de medidas e respostas

A bacia do Rio das Velhas contempla 51 municípios, mais de 4 milhões de habitantes ao longo de toda a sua extensão e 19 Subcomitês instituídos e vinculados à estrutura do CBH. Em uma situação de contaminação como essa, é comum que essas lideranças também participem da visita técnica para articular medidas e cobrar respostas.

O secretário de meio ambiente de Ouro Preto, Chiquinho de Assis, assistiu as lamentáveis notícias de contaminação e se assustou. “(…) muito nos preocupa porque embora esteja a jusante a Ouro Preto, a cidade tem toda uma preocupação com a integridade do Rio das Velhas” afirmou.

O secretário de Ouro Preto ainda reforçou a necessidade de trabalhar o Rio das Velhas como um território único e de preservação comum entre todos. “(…) temos que trabalhar o território do rio com todas as suas potencialidades e com toda a sua solidariedade também”. Um trabalho de parceria entre os secretários de meio ambiente de Itabirito e Rio Acima está sendo articulado para buscar respostas imediatas e as devidas sanções aos causadores.

Também presente, o membro do Subcomitê Rio Itabirito, Odilon de Lima, comentou sobre sua motivação e a importância de se envolver em causas como essa. “Convivendo com muitos ambientalistas, acabei aprendendo sobre o valor do meio ambiente, e me sinto inteiramente e sempre motivado a participar desses movimentos que estão sendo propostos. Infelizmente, o sentimento é de tristeza, de revolta com toda essa situação” afirmou o membro.

O futuro do rio e a possibilidade de seus netos e bisnetos não verem o Córrego Fazenda Velha e o Rio das Velhas sadios também preocupa o Sr. Odilon. Ele explica, “Tenho 72 anos, filhos e netos. Um rio é uma riqueza social. Não há alegria maior que um passeio com a família à beira de um rio. Não tem como estimar o valor”.

O ambientalista, ribeirinho e morador de Honório Bicalho, Renato Bernardo, explica que após a contestação da coloração da água, diversos contatos foram feitos aos órgãos gestores, contudo, apenas as instâncias municipais responderam. “Nós formalizamos a denúncia no Igam e no Comitê da Bacia do Rio das Velhas, que mobilizou os demais Subcomitês, e assim, formamos uma força para fazer essas visitas” explicou Renato.

Além da qualidade da água, a presença de peixes mortos nas margens também foi um dos vestígios que contribuíram para a constatação da contaminação da água. O ambientalista Renato Bernardo chegou a recolher esses animais das margens e avaliou que não havia marcas de morte por predadores, e que uma possível causa seria a água turva e avermelhada.

Posicionamento da CSN e demais órgãos envolvidos

Em nota à equipe de reportagem e jornalismo do G1, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) declarou:

“Ocorre que, durante essa atividade, necessária para o desassoreamento da estrutura ECO 1, houve um revolvimento do material que estava acumulado no fundo. Isso desencadeou, na última semana, uma elevação da cor aparente e da turbidez da água, gerada pela retirada de sedimentos da própria estrutura e fortes chuvas dos últimos dias. Após inspeções locais realizadas pelo corpo técnico da Minérios Nacional, não foi constatado prejuízo ambiental já que não houve qualquer vazamento de material para o Córrego Fazenda Velha e Rio das Velhas. Além disso, importante ressaltar, que a elevação da turbidez e coloração da água (cor aparente) foi imediatamente resolvida.

Sobre as barragens existentes no complexo de Fernandinho, cabe informar que não houve qualquer alteração em seus níveis de segurança, visto que não há nenhuma relação entre o acontecido e a segurança ou quaisquer outros aspectos relacionados às demais barragens do complexo.

A Minérios Nacional destaca que todas as demandas e esclarecimentos trazidos pelos órgãos de controle foram seguidos e executados, e reafirma que não houve qualquer vazamento de material das barragens. Por fim, a Companhia informa que todas as medidas foram tomadas para que eventos semelhantes não voltem a acontecer quando da realização dessa atividade que é de rotina e realizada periodicamente.”

Já o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) respondeu:

“No dia 28/03, foi realizada fiscalização para averiguar a existência de intervenções que poderiam estar influenciando na turbidez do córrego, na confluência com o Rio das Velhas. No local, foi observado provável presença de precipitado de manganês e/ou finos de minério de ferro, de coloração avermelhada e de turbidez mais acentuada que a das águas do Rio das Velhas. Foram então vistoriadas as barragens de rejeito e estruturas auxiliares na Mina do Fernandinho, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Foi constatado, no ato da fiscalização, que a Barragem Ecológica 1 estava passando por manutenção do canal do vertedouro, que deságua no Córrego Fazenda Velha. Diante da constatação visual de ocorrência de sedimento avermelhado da Barragem Ecológica 1, e leitura de relatórios de monitoramento de qualidade da água, foi verificado que os teores de manganês, ferro, cobre, cor e demanda bioquímica de oxigênio estão acima dos padrões de lançamento preconizados em legislação vigente. Por esse motivo, a CSN foi autuada por causar poluição/degradação ambiental, além de ter sido determinado que a empresa cessasse imediatamente o lançamento desse material que está atingindo o corpo d’água.

Foram determinadas ainda algumas medidas como: apresentar ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) os relatórios de monitoramento quali-quantitativo de águas superficiais, subterrâneas e sedimentos dos corpos hídricos na área da mancha de inundação, bem como o mapeamento e os dados brutos, em planilha, do monitoramento realizado; apresente a Ficha de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) dos produtos utilizados para floculação e a coagulação; intensificar a frequência do monitoramento de água superficial para diário e semanal, reportando ao Igam semanalmente os resultados. Cabe ressaltar que os dados estão sendo analisados pela equipe técnica.

Uma nova vistoria será realizada nos próximos dias e, também, será avaliado se as medidas determinadas na última semana foram adotadas. Em paralelo, estão sendo coletadas amostras de água para análise”.

Sobre a captação de água na Estação Bela Fama, a Copasa afirma:

“A Copasa informa que faz o monitoramento frequente da água captada para abastecimento público e reafirma que toda a produção de água na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Sistema Rio das Velhas encontra-se dentro dos parâmetros estabelecidos pela Portaria 888/21 do Ministério da Saúde, que determina os padrões de potabilidade e os procedimentos de controle da qualidade de água.

A Companhia esclarece que foi ampliada a frequência da coleta e análise da água bruta, proporcionando maior segurança operacional para a continuidade da produção de água.”

Página Inicial

Voltar