Cianobactérias assombram novamente Rio das Velhas e São Francisco

22/05/2015

As cianobactérias voltam a ser apontadas como uma mancha verde de poluição e degradação. O Projeto Manuelzão e suas equipes de monitoramento de rios já vinham denunciando essa realidade desde o ano passado.

Matéria veiculada na edição de hoje
(22) do jornal Estado de Minas revela a preocupante situação dos rios das Velhas
e São Francisco. Para o coordenador geral do Projeto, Marcus Vinícius Polignano,
a situação preocupa. “O projeto já anunciava desde 2014 essa constante mancha
verde no rio. A situação comprova a falta de gestão das águas das bacias desses
rios e o agravamento da poluição na Região Metropolitana de Belo Horizonte , o
que reforça a necessidade urgente de manter as ações das Metas 2010 e 2014
criando um constante pacto pelas águas”, afirmou.

Leia matéria completa:

Concentração de bactérias no Rio
São Francisco dispara alerta para poluição

Com quilômetros de extensão,
mancha, perto de Xingó, lança alerta para trechos poluídos e vizinhos a outras
barragens, como a de Três Marias

Uma mancha de 28 quilômetros de
extensão por sete metros de profundidade no Rio São Francisco, entre Bahia,
Alagoas e Sergipe, na qual foi detectada alta densidade de cianobactérias
tóxicas, faz disparar o alerta em toda a extensão do Velho Chico, inclusive em
Minas Gerais, principalmente próximo a áreas com alto despejo de esgotos. A
proliferação, atribuída a manobras de retenção de vazão na usina de Paulo
Afonso (BA), foi detectada acima da hidrelétrica de Xingó (AL/SE). A informação
foi divulgada ontem, durante a 27ª Plenária do Comitê de Bacia Hidrográfica do
Rio São Francisco (CBHSF), em Petrolina (PE), pelo representante do Ibama,
Célio Costa Pinto. Em território mineiro, a situação é preocupante abaixo da
represa de Três Marias e em relação ao maior afluente da bacia, o Rio das
Velhas, que deságua no distrito de Barra de Guacuí, no município de Várzea da
Palma, Norte mineiro.


 
O biólogo Rafael Resck,
especialista em recursos hídricos, explica que, mesmo com os tratamentos de
esgoto de grandes centros – como em Belo Horizonte, no Ribeirão Arrudas e
Córrego do Onça, afluentes do Velhas –, ainda é lançada grande quantidade de
água impura na bacia, favorecendo o aparecimento dena estação seca. “Aqui no
estado essas algas já estão presentes ao longo do Rio São Francisco, ainda em
baixa densidade. Mas, no período de estiagem, aumenta demais essa concentração
e surge a mancha verde, que tem várias espécies de organismos, alguns
produtores de toxinas”, explicou.

Resck destaca a necessidade de
constante monitoramento pelos órgãos ambientais, principalmente em relação ao
consumo humano de água. Segundo ele, no Brasil a maneira de eliminar as
cianobactérias em rios é pelo aumento da vazão. É o que vem ocorrendo por meio
das manobras do reservatório de Três Marias, cuja vazão mais que duplicou no
início deste mês. O que preocupa é a pressão para segurar água e evitar o
colapso do lago, que esteve perto de secar no início do ano. “A contaminação em
grande densidade é grave, pois compromete o abastecimento público de cidades
ribeirinhas, contamina o ecossistema e consequentemente toda a cadeia
alimentar, do peixe ao homem. A curto prazo, é preciso aumentar a vazão do São
Francisco. A longo prazo, precisamos implantar o tratamento de esgoto não só
nos grandes centros, mas em cidades menores, eliminando material orgânico e
metais pesados. De certa forma, nós, aqui em Minas, temos responsabilidade pela
má qualidade da água no Nordeste”, pontuou.

O representante do Ibama na
plenária do comitê de bacia, Célio Pinto, diz que a situação é preocupante nos
locais onde o nível do rio pode cair muito. Ele alerta também para as manobras
de redução de vazão, como tem sido reivindicado pelos operadores de barragens,
entre elas Três Marias e Sobradinho, na Bahia. Em relação à mancha tóxica
detectada entre Paulo Afonso e Xingó, o secretário do Comitê da Bacia do São
Francisco, Maciel Oliveira, destaca que no momento a grande preocupação é com o
abastecimento humano. “Alertamos os órgãos de meio ambiente e concessionárias
de distribuição de água de Alagoas, Sergipe e Pernambuco para que façam
acompanhamento, inclusive da água tratada. Foi encontrada no rio a alga que
produz toxinas e provoca problemas de saúde, que podem ser fatais em hospitais,
sobretudo para pacientes de hemodiálise”, destacou.

Foto do Rio das Velhas em 2014, situação já era garve.

 

No Rio das Velhas, afluente do
velho chico, contaminação é recorrente, devido ao alto nível de poluição

PRESSÃO

 No caso da mancha detectada nos estados do
Nordeste, as suspeitas são de que testes de redução de vazão na represa de
Paulo Afonso pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf),
autorizados pelo Ibama, tenham colaborado significativamente para o problema.
Ambientalistas acreditam que a contaminação possa se repetir em outros
reservatórios que apresentam níveis baixos e nos quais há demandas para redução
de vazão, para que não sequem na estiagem. Com menos água no rio, a poluição se
concentra e possibilita a proliferação dos organismos nocivos, que se alimentam
de material orgânico, matam peixes e podem intoxicar a população.

O secretário Maciel Oliveira
disse que a maior preocupação é que o baixo nível de água e manobras nas
represas que têm acúmulos de nutrientes no fundo possam servir de gatilho para
florações desse tipo de alga tóxica. “Para que esses organismos se reproduzam,
é preciso que encontrem um ambiente favorável. No caso de Xingó, o comitê de
bacia local afirmou que manobras feitas pela represa com redução de vazão
revolveram o fundo e nutrientes acumulados por 40 anos foram aproveitados pelos
micro-organismos para crescer”, disse. “Nossa prioridade, agora, é que os
órgãos competentes consigam uma solução emergencial. Queremos também o
relatório final do Ibama, que possa nos mostrar o que realmente causou isso,
para que não se repita”, afirma.

Devido ao aparecimento das algas,
o Instituto de Meio Ambiente de Alagoas multou a Chesf em R$ 650 mil. A Casal,
que é a empresa alagoana de fornecimento de água, teve de suspender por
diversas vezes o abastecimento da capital e de outras cidades, e agora estuda
alternativas de captação. A Chesf informa que ainda não se pode dizer que foi
somente a alteração de vazões que causou a mancha de microalgas. A empresa
aguarda laudos ambientais e fez levantamento de todos os lançamentos de esgoto
em seus reservatórios.

Em Minas, de acordo com o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), há propostas para que a vazão de
Três Marias fique em 300 mil litros por segundo – quase quatro vezes acima do
volume liberado em abril –, o que projeta o nível útil da represa chegando a
20% até o fim da estiagem.

O representante do Projeto Manuelzão,
do Rio das Velhas, Ronald Guerra, afirma que o aparecimento de cianobactérias
já foi detectado no afluente do Velho Chico e que, com a crise hídrica, isso
pode se agravar.

Cianobactérias

São micro-organismos com
estrutura que corresponde à célula de uma bactéria, mas realizam fotossíntese.
Algumas espécies são fixadoras de nitrogênio atmosférico e outras, produtoras
de hepatoxinas ou neurotoxinas. Uma grande flexibilidade a adaptações bioquímicas,
fisiológicas, genéticas e reprodutivas garantiu a esses organismos distribuição
em diversos ambientes, tanto terrestres quanto aquáticos (rios, estuários e
mares). As espécies que produzem e liberam substâncias tóxicas podem provocar
envenenamento de outros animais que dividem o mesmo ambiente, atingindo toda a
cadeia alimentar, ou contaminar a água potável, provocando doenças em seres
humanos. Muitos dos elementos prejudiciais que produzem não podem ser
eliminados pelo processo de fervura da água nem por  métodos tradicionais usados em estações de
tratamento.

 

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