04/09/2015
A preocupação com a atual realidade do rio das Velhas devido às cianobactérias e também a baixa vazão do rio dominaram a pauta de reunião da 85ª plenária do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas.
O encontro se tornou um desabafo coletivo da grande
luta pela revitalização, conscientização e preservação do rio por parte do
Comitê e, por outro lado, da não colaboração e respaldo dado por partes dos
órgãos de Estado à causa.
O não repasse dos recursos pela cobrança da água
que já chega há três semestres foi um dos pontos discutidos e levou a plenária
a preocupar-se com o futuro da gestão da bacia. “Não podemos mais esperar por
uma solução. Já tivemos várias reuniões com o Igam e outros órgãos do Estado e
nada está sendo feito para agilizar ou resolver o processo. Sem os recursos da
cobrança teremos que parar nossas atividades e o já prejudicado rio das Velhas
poderá sofrer ainda mais com a crise hídrica”, afirmou o presidente do CBH Rio
das Velhas, Marcus Vinícius Polignano.
De acordo com o presidente, por várias vezes o Igam
foi alertado da ilegalidade do processo de contingenciamento. “No início deste
ano assinamos um “Termo de Compromisso” com o governador e um dos pontos dizia
que não haveria contingenciamento, o que não aconteceu. Os recursos têm por
destino de lei o Comitê de Bacia, por isso estamos veementemente solicitando ao
Estado uma posição sobre isso’’, declarou Polignano.
Em recente entrevista à “Revista CBH Rio das
Velhas”, a diretora-geral do Igam, Maria de Fátima Chagas, revelou que o
governador assinou o Pacto das Águas com os Comitês e por isso daria celeridade
ao processo dos repasses.
Restrição de
uso
Rio das Velhas em Sabará, em 2015.O rio das Velhas, no trecho monitorado pela estação
Santo Hipólito, entrou em Estado de Restrição de Uso, alerta máximo dado pelo
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que obriga os usuários da água a
reduzir a retirada para consumo humano, irrigação e uso industrial. O trecho em
restrição atinge os municípios de Curvelo, Cordisburgo, Inimutaba, Santo
Hipólito, Presidente Juscelino e Santana de Pirapama. Segundo a Agência
Nacional das Águas (ANA), a vazão chegou por sete dias consecutivos a 29,9 metros
cúbicos por segundo (m³/s), 70% abaixo do nível mais baixo medido nos últimos
10 anos (Q7,10). A Q7,10 no trecho é de 45,5 m³/s.
A situação apresentada é grave e preocupou os
integrantes do CBH Rio das Velhas, que também denunciaram o desastre que a baixa
vazão tem provocado na região de Santo Hipólito, onde já acontece a
proliferação das cianobactérias tóxicas. “A baixa vazão do rio, que provoca a
restrição, piorou e muito a qualidade das águas do Velhas. As cianobactérias
estão se espalhando pela bacia, o que inviabiliza o uso da água para qualquer
fim”, destacou Polignano.
As cianobactérias produzem e liberam substâncias
tóxicas, que podem provocar o envenenamento de animais que dividem o mesmo
ambiente, atingindo toda a cadeia alimentar ou contaminar a água potável,
provocando doenças em seres humanos. “Muitos dos elementos prejudiciais que
produzem não podem ser eliminados pelo processo de fervura da água nem por
métodos tradicionais usados em estações de tratamento”, alertam especialistas.
Outro ponto que preocupa o Comitê é a baixa
capacidade de diluição do rio atualmente, o que compromete toda a sua vida
aquática até o rio São Francisco. “Essa situação é complexa porque faz com que
espécies de peixes e a própria vitalidade do rio das Velhas esteja ameaçada”,
revelou Polignano.
Honório
Bicalho também preocupa
O abastecimento humano também preocupa o Comitê e
na assembléia foi exposto que essa situação é mais preocupante na Estação
Honório Bicalho, em Nova Lima, de onde sai 60% da água que abastece Belo
Horizonte. Na região, de acordo com o monitoramento do Igam a vazão está entre
11 e 12 m³/s, bem próximo de atingir o menor nível dos últimos 10 anos (Q7,10)
que é de 10,25 m³/s. Hoje, na Estação Honório Bicalho a classificação é Estado
de Alerta.
“Atualmente são retiradas do trecho 7,5 m³/s de
água, sendo 6,5 m³/s só pela Copasa. Isso é muito mais do que o rio pode
suportar. As autoridades precisam entender que a crise não é de abastecimento,
a crise está nos rios”, explicou Polignano ao ressaltar que há muito tempo a
bacia sofre com a falta de gestão.
“Não gerimos números, gerimos o rio. As imagens
confirmam que a situação é crítica. Estamos em uma situação grave a anterior a
2010. E hoje a situação é pior desde aquele ano. É lamentável nos depararmos
com essas cenas. Temos que fazer algo urgente, pois os baixos níveis do rio das
Velhas comprometem também o rio São Francisco”, afirmou o presidente.
Conselheiros
apoiam diretoria
Esse sentimento também é de todos nós”, ressaltou o
Conselheiro Tarcísio de Paula Cardoso. Já o coordenador do Subcomitê Poderoso
Vermelho, Deusdedite Ferreira Aguiar, destacou que é preciso chamar os
municípios também à responsabilidade. “Precisamos fazer uma gestão
compartilhada e convocar a todos a assumir seu papel”, disse.
“A crise é de gestão. Está faltando rio. O problema
é a gestão da Bacia. Por isso toda a diretoria do Comitê quer convocar a todos,
governo e sociedade, para discutir a realidade da situação. Para isso
precisamos contar com todos integrantes, conselheiros e parceiros do Comitê
para debater a crise e buscar soluções concretas”, defendeu Polignano.
Ficou agendado que o Comitê realizará uma reunião
com todos envolvidos, governo e população ainda em setembro sobre a real crise
hídrica, seu agravamento e a gestão dos recursos da cobrança.
Matéria:
site CBH Rio das Velhas
Repórter:
Renato Crispiniano