16/03/2011
Construção de condomínio na Mata do Planalto preocupa mobilizadores na Região Norte de Belo Horizonte
A população teme que as nascentes próximas à area do empreendimento sejam degradadas. (Foto: Iury Valente) Moradores dos bairros Planalto, Campo Alegre, Vila Clóris e
outros no Vetor Norte, área de expansão urbana na Região Metropolitana de Belo
Horizonte, estão atentos ao projeto de construção de um condomínio na Mata do
Planalto. No último sábado, dia 12, o movimento Salve a Mata do Planalto reuniu cerca de 300 pessoas em uma caminhada
em prol da preservação do local. Os manifestantes desceram a Avenida Doutor
Cristiano Guimarães até a Mata, onde foi realizado um abraço simbólico.
A Mata do Planalto é composta por áreas particulares e pelo
Parque do Bairro Planalto. Uma das partes da Mata, também conhecida como Mata
do Maciel, foi negociada pelo proprietário do local com a Construtora Rossi e
poderá receber empreendimento residencial. Segundo a empresa, o projeto abrange
115 mil metros quadrados, onde serão construídos 8 prédios de 15 andares cada,
num total de 752 unidades residenciais. A proposta da construtora é reservar
70% desse terreno à criação de dois parques: um destinado aos moradores do
condomínio e outro que será aberto ao público, sendo doado para a Prefeitura de
Belo Horizonte.
Para
o diretor regional da Rossi, Frederico Kassler, o principal beneficio da
construção é a entrega para a comunidade de uma área pública de 44 mil metros
quadrados, que será revitalizada e estruturada. Como medida compensatória, a
proposta é oferecer no parque que será doado, um centro de educação ambiental.
“A gente não proporia um empreendimento que fosse contra a lei ou que não
fosse, de alguma forma, bom para os dois lados”, afirma Frederico.
Conseqüências
Mas os impactos que a construção causará sobre a
biodiversidade, micro clima e nascentes da região preocupam os moradores da
região e mobilizadores do Núcleo Manuelzão Bacuraus. Para o biólogo Iury
Valente, morador do bairro Planalto há 25 anos, há uma relação de proximidade
entre a comunidade e a Mata. “Se ela está preservada até hoje é por causa dos
moradores. É como se fosse o quintal da casa de todo mundo”, conta. Em
maio do ano passado, ele realizou estudos para demarcar nascentes, observar a
fauna e impactos que o crescimento urbano desordenado estariam causando no
local.
O pesquisador identificou três nascentes no local da
construção e outras 14 localizadas 50
a 100
metros do local previsto para o empreendimento. Essas
nascentes ajudam a compor o corpo d’água do Córrego
Bacuraus, um afluente do Ribeirão Isidoro. De acordo com estudos da Rossi,
há apenas uma nascente na área da construção e outras 15 externas. Segundo a
empresa, haverá um programa para avaliar, monitorar e propor melhorias para os
cursos d’água à montante e jusante do empreendimento e também para aqueles em
seu entorno.
Iury
verificou também a existência de 60 espécies de aves, cinco de anfíbios, três
de répteis e ainda mamíferos como o mico-estrela, gambás e camundongos. Segundo
Iury, a fauna que compõe o lugar é a mesma da Lagoa do Nado e Pampulha. Para
ele, a alteração da Mata do Planalto pode influenciar nesses outros dois
ecossistemas. O biólogo ressalta ainda a importância de preservar a vegetação
local. “Dentro desse fragmento foram encontrados o jacarandá-caviúna, espécie
em extinção em Minas
Gerais e no Brasil, e vários ipês-amarelos”. Essa última,
embora não esteja em extinção, tem o corte proibido por lei
estadual.
Além
dos prejuízos ao ambiente, o grupo defende que a implantação do empreendimento
também é inviável dos pontos de vista social e urbanístico. “Só esse
empreendimento vai aumentar em mais ou menos 4 mil habitantes [o contingente da
região]. Não tem ônibus pra essa gente. O esgoto que o pessoal vai produzir vai
para onde?”, questiona Iury Valente.
Proposta do Movimento
A
sugestão da comunidade é que a Mata seja preservada sem prejudicar o
proprietário, permitindo que ele construa em outro lugar de Belo Horizonte por
meio da Unidade
de Transferência do Direito de Construir. A ideia é criar uma Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que implante e desenvolva na
região ações de recuperação, preservação e educação ambiental com ajuda
orçamentária de parceiros do setor público e privado.
Na
próxima quarta-feira, dia 23, haverá nova Audiência Pública na Câmara
Municipal, às 10 horas. A reunião contará com a presença de representantes do
Ministério Público para apresentação de estudos sobre a Mata. Interessados em
comparecer podem se encontrar no Street Shopping Planalto, Avenida Doutor
Cristiano Guimarães, 1691, às 9 horas.