22 de Março, Dia Mundial da ÁguaProjeto Manuelzão

22 de Março, Dia Mundial da Água

22/03/2024

O Projeto Manuelzão celebra nesta data não só esse elemento essencial à vida, mas também as pessoas que lutam para defendê-lo

Para tantos povos indígenas de países sul-americanos, a água é como um membro da família. É um ente ancestral que conecta a vida humana e as demais criaturas. Para os Krenak, o Rio Doce, conhecido pelo povo como Watu e vítima do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, é agora um irmão morto. Este Dia Mundial da Água, 22 de março, é não só uma data para recordar os efeitos das violências contra as nossas águas e refletir sobre o que elas têm sofrido, mas para, acima de tudo, resgatar a relação afetiva entre os seres humanos e esse elemento do qual a vida é também composta.

A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1993, com o objetivo de celebrar e reconhecer a importância desse elemento para a vida e sobrevivência dos ecossistemas terrestres.

Para o professor da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, ela representa uma possibilidade de contemplação desse elemento sagrado. “Esse planeta só existe com vida porque nós temos água em qualidade e quantidade”, comenta Polignano.

Como determina o artigo 4 da Declaração Universal dos Direitos da Água, produzido pela ONU junto ao lançamento da data, “o equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam”.

Em 2010, a água foi declarada mundialmente como um direito humano fundamental. Apesar desse reconhecimento, esse é um direito que tem sido violado em toda parte. Se a nossa sabedoria é a dos rios, como escreveu o poeta Carlos Nejar, é lamentável  que a humanidade esteja tão afastada da compreensão da água como um componente da vida, que ela tenha se tornado apenas um recurso.

É o que defende Polignano: “A minha lembrança, e queria deixar isso como um sentimento do Manuelzão, é que acima de tudo a água é um bem natural sagrado, amado e que tem que ter na nossa relação com o ambiente um lugar de destaque. É preciso entender que a água é, na verdade, a única grande moeda da vida”.

Água para a Paz

O tema definido pela ONU para este Dia Mundial da Água, “Água para a Paz”, reconhece a água como uma possível “ferramenta para a paz”. Para a organização, “a cooperação no domínio da água abre caminho à cooperação em todos os desafios partilhados”.

Sobre a escolha, Polignano reflete: “Não é por acaso, porque a falta de água, ou o conflito pelas águas, está tornando o mundo muito mais inseguro. Pelo menos um terço da população mundial hoje transita com escassez hídrica, e os povos estão entrando inclusive em conflitos em função disso. E os conflitos também se repetem nas microbacias e nas bacias, porque você tem atividades econômicas que, por outro lado, competem com o abastecimento humano. Estamos vivendo numa sociedade que se não tiver a água como um bem quase que sagrado e preservado, vai caminhar para uma civilização cada vez mais sedenta, cada vez mais insegura. Então, dizer que da água só brota vida. E que nós temos que ter para com ela um olhar de encantamento”.

Neste dia 22, o Manuelzão celebra esse elemento vital e também as pessoas que lutam para defendê-lo e protegê-lo. Cuidar das águas é reconhecer o quanto elas conferem sentido à existência, além de garantirem a sobrevivência e o futuro de tantas espécies. Como defende Polignano, ainda é possível tomar emprestado da água essa potência de tomar diferentes caminhos e, com essa arma, mudar de rumo. Afinal, “o caminho da água pode ser tortuoso, mas ele tem razões para isso. As coisas que fluem, transformam o próprio contorno”.

 

Nossa sabedoria
Carlos Nejar

Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
onda a onda.

Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.

E nos moveremos,
rio dentro do rio,
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros […]

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