Dores e luta da população de Antônio Pereira são registradas em documentárioProjeto Manuelzão

Dores e luta de pessoas exiladas e remanescentes de Antônio Pereira são registradas em documentário

16/07/2024

“Quanto Vale o Que Não Tem Preço?” revela como uma barragem em risco de rompimento mudou os rumos da vida da população do distrito de Ouro Preto

Ana Carla Cota, moradora retirada da sua casa em 19 de janeiro de 2022. Foto: Instituto Guaicuy.

O Instituto Guaicuy lançou, no último dia 3, o documentário Quanto Vale o Que Não Tem Preço?, que retrata os severos impactos à vida da população de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, decorrentes das obras de desmonte de uma barragem da Vale em risco de rompimento. O filme testemunha como a rotina dos moradores foi virada do avesso após a retirada de centenas de famílias da Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem Doutor. Para os que ficaram, foi deixado um cenário desolador.

O Pereira e a Vila Samarco, construída para abrigar os trabalhadores da mineradora de mesmo nome, hoje de propriedade da Vale, estão a poucos metros de 32 milhões de m³ de rejeito. Doutor entrou em nível 1 e em seguida em nível 2 de emergência (o segundo mais alto) pouco depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 2019. Teve início em 2020 a desapropriação das famílias situadas na rota da lama da barragem.

Essas famílias estavam na chamada ZAS, ou “zona de sacrifício”, primeiramente definida pela Lei Mar de Lama Nunca Mais como a área localizada a até 10 quilômetros ao longo do curso do vale ou passível de ser atingida pela lama em menos de 30 minutos. Em caso de rompimento, considera-se essa faixa como aquela em que as autoridades competentes não teriam tempo para agir e as pessoas deveriam se “autossalvar”.

O Instituto Guaicuy atua como assessoria técnica independente (ATI) da população de Antônio Pereira desde dezembro de 2022. No filme é registrada a luta dessas pessoas contra o descaso da Vale, para retomar suas vidas após uma brusca e violenta mudança, que não se sabe ao certo quando chegará ao fim nem mesmo se é passível de ser amenizada.

A previsão para o término da descaracterização da barragem Doutor, segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), é 2029, tendo-se completado 29% das obras.

Até lá, as pessoas que saíram lidam com a impossibilidade de voltar às suas casas, que vão se degradando e sendo saqueadas, enquanto elas vivem em hoteis ou casas alugadas em Mariana ou Ouro Preto. As que permanecem sofrem com perdas de renda e no comércio, desvalorização das propriedades, poeira das obras na barragem. Sem exceção, exilados e remanescentes compartilham a ruptura de laços sociais, aflições psicológicas e a sensação de uma vida em suspenso.

Quanto Vale o Que Não Tem Preço? tem direção de Leo Souza, entrevistas de Laura Maria Souza e imagens de Gabriel Nogueira, Leo Souza e Roger Conrado.

Assista o filme:

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