16/07/2024
“Quanto Vale o Que Não Tem Preço?” revela como uma barragem em risco de rompimento mudou os rumos da vida da população do distrito de Ouro Preto
O Instituto Guaicuy lançou, no último dia 3, o documentário Quanto Vale o Que Não Tem Preço?, que retrata os severos impactos à vida da população de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, decorrentes das obras de desmonte de uma barragem da Vale em risco de rompimento. O filme testemunha como a rotina dos moradores foi virada do avesso após a retirada de centenas de famílias da Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem Doutor. Para os que ficaram, foi deixado um cenário desolador.
O Pereira e a Vila Samarco, construída para abrigar os trabalhadores da mineradora de mesmo nome, hoje de propriedade da Vale, estão a poucos metros de 32 milhões de m³ de rejeito. Doutor entrou em nível 1 e em seguida em nível 2 de emergência (o segundo mais alto) pouco depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 2019. Teve início em 2020 a desapropriação das famílias situadas na rota da lama da barragem.
Essas famílias estavam na chamada ZAS, ou “zona de sacrifício”, primeiramente definida pela Lei Mar de Lama Nunca Mais como a área localizada a até 10 quilômetros ao longo do curso do vale ou passível de ser atingida pela lama em menos de 30 minutos. Em caso de rompimento, considera-se essa faixa como aquela em que as autoridades competentes não teriam tempo para agir e as pessoas deveriam se “autossalvar”.
O Instituto Guaicuy atua como assessoria técnica independente (ATI) da população de Antônio Pereira desde dezembro de 2022. No filme é registrada a luta dessas pessoas contra o descaso da Vale, para retomar suas vidas após uma brusca e violenta mudança, que não se sabe ao certo quando chegará ao fim nem mesmo se é passível de ser amenizada.
A previsão para o término da descaracterização da barragem Doutor, segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), é 2029, tendo-se completado 29% das obras.
Até lá, as pessoas que saíram lidam com a impossibilidade de voltar às suas casas, que vão se degradando e sendo saqueadas, enquanto elas vivem em hoteis ou casas alugadas em Mariana ou Ouro Preto. As que permanecem sofrem com perdas de renda e no comércio, desvalorização das propriedades, poeira das obras na barragem. Sem exceção, exilados e remanescentes compartilham a ruptura de laços sociais, aflições psicológicas e a sensação de uma vida em suspenso.
Quanto Vale o Que Não Tem Preço? tem direção de Leo Souza, entrevistas de Laura Maria Souza e imagens de Gabriel Nogueira, Leo Souza e Roger Conrado.
Assista o filme: