Água é insuficiente para a população em mais de 60 áreas de Minas Gerais - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

Água é insuficiente para a população em mais de 60 áreas de Minas Gerais

12/01/2021

Mesmo o histórico volume de chuvas registradas em todo o estado no último ano não reverteu os alarmantes resultados; agropecuária consome 72% de todo volume captado no estado

O aumento do consumo de água e um volume de chuvas abaixo do esperado entre os anos 2012 de 2018 ocasionaram crescimento de áreas de conflito hídrico em Minas Gerais. Esses são dados do relatório Gestão e Situação das Águas em Minas Gerais 2020, que foi publicado no dia 30 de dezembro de 2020 e é produzido anualmente pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Nos últimos cinco anos, o número de locais em que a água captada se mostra insuficiente para o atendimento da demanda de todos os usuários saltou de 57 para 65, o que significa de 14% de ampliação.

No último ano, Minas Gerais sofreu imensos danos por não ter estrutura adequada para receber um volume de chuvas histórico, mas nem mesmo essas chuvas reverteram a crise de abastecimento que o estado tem passado. No relatório, o Igam atribui ao aumento da demanda de uso e a alterações no ciclo hidrológico o agravo nos problemas de conflito pelo uso da água nos últimos anos.

São consideradas áreas de conflito hídrico aquelas nas quais a soma de demandas pela água de uma determinada fonte chega a um nível entre 30% a 50% do volume médio daquele recurso. Nas bacias dos rios Pará, Paraopeba, das Velhas, Jequitaí, Pacuí, Urucuia, Médio São Francisco e Verde Grande, o limite de uso adequado dos recursos é 30% e nas demais bacias hidrográficas mineiras é 50%. Esse valor é definido por um índice que considera o histórico de vazões semanais médias do curso d’água por um período de 10 anos.

Das 65 declarações de áreas de conflito (DAC) emitidas pelo Instituto, a maior concentração das áreas de conflito está situadas na região do Triângulo Mineiro, na Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba e no Noroeste de Minas, na bacia hidrográfica do Rio São Francisco.

O Igam é responsável por conduzir a gestão da água de forma que garanta o atendimento às demandas com a preservação do meio ambiente e a promoção do desenvolvimento socioeconômico de uma região. Um de seus principais instrumentos para a gestão é a outorga de direito de uso da água. A outorga tem como finalidade avaliar demandas e disponibilidades de forma a garantir o atendimento aos usos atuais e futuros da água.

Entre as áreas mais comprometidas, conforme vazão outorgada, estão as bacias hidrográficas dos rios Paracatu, Urucuia, Pardo e Alto Rio Paranaíba. A bacia do rio Paraopeba, devastada pelo rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, pertencente à mineradora Vale, em janeiro de 2019, em Brumadinho, também está entre as de situação mais crítica.

Para enfrentar o problema, no momento em que o Instituto emite uma DAC para determinada bacia, oficializa-se a situação em que todos os usos na área serão analisados conjuntamente, compatibilizando os mais diversos interesses e respeitando a vazão remanescente estabelecida em legislação, buscando manter a vazão mínima no corpo hídrico para a manutenção do ecossistema.

Agropecuária é líder disparada de consumo

No relatório o Igam aponta que o setor agropecuário é o líder disparado no consumo, utilizando 72% dos recursos hídricos captados no estado, seguido pelo abastecimento público e consumo humano, que respondem por 15%, mineração e indústria, que utilizam 9%. Os outros 4% se referem a usos diversos não especificados.

Reutilização pode ser chave para economia

Uma alternativa para aumentar a disponibilidade de água para as regiões com déficit hídrico em Minas Gerais é a implementação da reutilização em algumas atividades que não exigem água potável, argumenta o órgão no relatório. O diagnóstico leva em conta o esperado ganho na disponibilidade de água potável para suprimir outras demandas, além de melhoria da qualidade da água dos corpos hídricos, uma vez que a medida reduziria a carga de poluentes lançados.

Outro fator que realça a importância da alternativa no estado é a grande parcela de água consumida pela agropecuária. O Igam apontou que a grande quantidade de nutrientes presentes nessa água cria condições favoráveis para sua reutilização na fertirrigação, isto é, na adubação que utiliza a própria água de irrigação para levar nutrientes ao solo cultivado.

Desafio da segurança hídrica é crescente

O instituto também lembrou no documento que projeções futuras da Unesco, em nível global, estimam um aumento de pelo menos 30% na demanda de água até 2050, decorrente da semelhante projeção para a produção de alimento, energia e industrial para atendimento da população mundial. Com isso, reforçou o alerta de que, em se tratando de oferecer água de qualidade para todos, os desafios serão cada vez maiores e pedirão esforços também crescentes de gestores, do setor econômico e da sociedade civil.

Confira o relatório na íntegra.

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