27/01/2017
Resultados preliminares de uma pesquisa revelam que fertilizantes usados na agricultura que caem em córregos podem impactar a qualidade da água, reforçando a necessidade de se recuperar e proteger matas ciliares.
De acordo com os resultados preliminares de uma pesquisa realizada na
Fazenda Tanguro (MT) fertilizantes usados na agricultura que caem em córregos
podem impactar a qualidade da água nas propriedades e até fora delas,
reforçando a necessidade de se recuperar e proteger matas ciliares. O estudo é
conduzido por cientistas americanos em colaboração com o IPAM (Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Um experimento mostra que o nitrogênio, ao cair em um córrego, pode viajar
até um quilômetro, com potencial de atingir rios maiores. O fósforo, por sua
vez, é em grande parte absorvido localmente, o que estimula a produção de
algas. Elas alteram a disponibilidade de oxigênio na água e modificam a cadeia
alimentar do local.
“O ideal é que estes nutrientes agrícolas sejam processados antes de chegar
na água, mas é preciso investigar as possibilidades”, explica a cientista
KathiJo Jankowski, do Marine Biological Laboratory (MBL). “Se você consegue
prever as consequências, é possível definir as melhores alternativas.”
O estudo começou no início de 2016 e uma nova rodada de experimentos e
coleta de dados na fazenda foi feita em outubro. A boa notícia é que tanto
o solo quanto a mata ciliar preservada servem como filtros desses
fertilizantes. Na mesma Tanguro, estudos realizados desde 2008 mostram que
esses elementos tendem a nem chegar na água, ficando estocados abaixo de dois
metros de profundidade no solo agrícola.
“Os produtores devem maximizar a produtividade minimizando os impactos.
Utilizamos os experimentos para identificar corretamente o ponto em que esse
equilíbrio acontece”, afirma o co-autor da pesquisa, Christopher Neill, do
Woods Hole Research Center (WHRC).
Dinheiro rio abaixo
Jankowski conta que, nos Estados Unidos, gasta-se milhões de dólares todo
ano para melhorar a qualidade da água do Rio Mississipi, e que o Golfo do
México apresenta zonas mortas (sem oxigênio), porque está saturado com
nitrogênio e fósforo.
No Brasil, o Código Florestal prevê essa proteção na figura das APPs, ou
áreas de preservação permanente. São trechos de vegetação situadas às margens
de corpos d´água, como córregos ou nascentes, além de topos de morro e
encostas, fundamentais para manter a segurança e a qualidade da água e dos
ecossistemas ali existentes.
“As florestas ripárias, junto a um bom manejo, oferecem um caminho para
evitar danos ecológicos associados à produção agrícola e mantêm a integridade
de ambientes aquáticos”, afirma a pesquisadora Marcia Macedo, também do WHRC.
Ao sombrear o córrego, as árvores deixam cair folhas, insetos e galhos
dentro da água, formando micro-habitats que são importantes para a vida
aquática. Além disso, a vegetação regula a temperatura da água, pois barra a
entrada excessiva de luz.
“O Brasil tem a oportunidade de manejar a paisagem de forma mais sustentável
do que o resto do mundo. Imagina o quanto pode-se poupar por não precisar
restaurar rios, apenas fazendo o manejo da forma mais adequada e protegendo as
APPs”, diz Jankowski.
“É essencial conservar as florestas. Para isso a intensificação da produção
pode ser um caminho. Ter APPs devidamente protegidas é bom para o ecossistema
aquático, para os animais que utilizam como corredores ecológicos e para a
produção de alimentos”, explica Neill.
Segundo o Instituto Internacional de Nutrição Vegetal, que congrega grandes
empresas produtoras de fertilizantes do mundo, em 2015 o Brasil apresentou um
consumo aparente de 3,64 milhões de toneladas de nitrogênio e 4,66 milhões de
toneladas de fósforo.
Impacto no clima
Além da água, outro efeito do uso de fertilizantes sintéticos na agricultura
é a emissão de gases do efeito estufa. Segundo o SEEG (www.seeg.eco.br), seu uso responde a emissão
de 13,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2015.
Na Fazenda Tanguro, um estudo de 2013 concluiu que a quantidade de adubação
nitrogenada utilizada para a plantação de soja (80 quilos por hectare)
minimizou as emissões de N2O e maximizou a produção.
Fonte: EcoDebate