Excesso de poluição do Rio das Velhas se repete depois de primeiras chuvas após longa estiagemProjeto Manuelzão

Excesso de poluição do Rio das Velhas se repete depois de primeiras chuvas após longa estiagem

10/10/2022

Água do Velhas é impactada novamente pelas primeiras chuvas após o longo período de estiagem que atingiu todo o estado

[Matéria de Celso Martinelli para o site do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas publicada nesta sexta-feira, 7 de outubro, e republicada qui com algumas edições.]

Mais uma vez a captação de água do Rio das Velhas é impactada pelas primeiras chuvas após o longo período de estiagem que atingiu todo o Estado. Sete Lagoas, que depende da captação superficial que é feita em Funilândia, teve que suspender esta semana o processo pelo excesso de detritos e rejeitos que foram carregados rapidamente para os corpos d’água. A Estação de Tratamento de Água (ETA) ficou impossibilidade de tratar a água tamanho o volume de poluentes. Mortandade de peixes também foi detectada na região.

O diretor-presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Robson Machado, explicou o a dificuldade. “Em dias de fortes tempestades, como a da madrugada da última terça-feira, 04, o rio fica extremamente poluído, com excesso de efluentes, impossibilitando assim temporariamente a captação e o tratamento da água”.

Segundo ele, só não faltou água para mais de 40 bairros graças a um reservatório de 10 milhões de litros que foi construído no ano passado. “Graças ao reservatório conseguimos manter o abastecimento de aproximadamente 40 bairros por cerca de 12 a 15 horas. Ele tem sido fundamental nestes momentos. Porém, pelo histórico recente, às vezes são necessárias 24 horas sem captação até que a qualidade da água do rio volte a padrões aceitáveis”, completou Robson.

Quando a captação é suspensa e a ETA para de enviar água para o abastecimento público, moradores de diversos bairros vivem um verdadeiro drama, sem saber se terão água no dia seguinte. São diretamente afetados a população dos bairros Emília, São Vicente, São João, São Pedro, Braz Filizola, Olinto Alvim, Santa Marcelina, New York, Esperança, Bom Jardim, Aeroporto, Jardim Europa, Bernardo Valadares, JK, Alvorada, Planalto, Interlagos, Luxemburgo, Montreal, Canadá, Monte Carlo, Tamanduá, CDI, Industria, Indústrias, Santa Maria, São Sebastião, Centenário, Morro do Claro, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora das Graças, Portal da Serra, Manoa, São Francisco, Brejinho e Jardim Primavera.

Poliana Valgas, presidenta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), afirmou que é preciso avançar nas políticas de saneamento. “A Grande BH como um todo avançou muito em relação às políticas de saneamento básico nos últimos 20 anos – cerca de 70% desse esgoto hoje é coletado e tratado. Mas os 30% restantes, em se tratando de uma metrópole desse porte, impactam em muito a qualidade e saúde ambiental do Rio das Velhas. E Sete Lagoas, estando imediatamente a jusante da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), observa claramente isso. Assim como Sete Lagoas precisa iniciar o tratamento dos seus esgotos, é fundamental que a RMBH avance ainda mais em saneamento”, afirmou.

Para Poliana, a mortandade de peixes também preocupa. “Infelizmente, toda a poluição difusa que é carreada para dentro do rio, juntamente com o revolvimento dos sedimentos depositados no leito do Velhas, impactam diretamente a qualidade das águas. Isso inviabiliza captações, como a que ocorreu em Sete Lagoas, mas também culmina na mortandade de peixes, infelizmente comuns nessa época do ano no Médio e Baixo Rio das Velhas”, completou a presidenta do CBH Rio das Velhas.

Sem oxigenação na água, mortandade de peixes foi observada em vários pontos do Médio Rio das Velhas. Foto: Divulgação

Sem tratamento não há solução

De acordo com o biólogo, mestre em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, e pesquisador do NuVelhas – Projeto Manuelzão, Carlos Bernardo Mascarenhas, após um período longo de estiagem, as áreas urbanas acumulam muito material no terreno impermeabilizado pelo asfalto, concreto e pavimentações. São áreas urbanas e industriais, postos de gasolina, pátios e que mantém parte de seus rejeitos acumulados. “Nas primeiras chuvas, toda a bacia de drenagem é “lavada” (lixiviada) e todo tipo de detrito e rejeito é carreado rapidamente para os corpos d’água”, completou. Para minimizar os impactos deste tipo de situação, o profissional afirma que a coleta/tratamento dos esgotos domésticos e industriais é o primeiro passo.

Ainda segundo Mascarenhas, as alterações na qualidade da água provocadas por esse drástico despejo geralmente provocam a morte de peixes e outros organismos aquáticos. “Soma-se a isso o fato de o aumento da vazão provocar o revolvimento dos sedimentos depositados no leito dos rios durante o período de estiagem, trazendo à coluna d’água um excesso de matéria orgânica acumulada que também provoca a diminuição dos níveis de oxigênio dissolvido e que, igualmente, pode ser letal para peixes. Esse fato é mais comum no início do período chuvoso. Após as primeiras chuvas, a carga tóxica do material acumulado na bacia de drenagem tende a diminuir”, apontou Carlos Mascarenhas.

Comparação sobre águas captadas no Rio das Velhas, pelo SAAE de Sete Lagoas. Foto: Divulgação

Segundo ele, o Brasil está pelo menos 50 anos nas políticas públicas de saneamento por falta de interesse político. “A disposição correta de resíduos sólidos também é importante para evitar que o lixo chegue aos rios. O tratamento terciário nas ETEs também ajuda a evitar uma carga grande de poluentes. Por fim, um tanto como utópico para o Brasil, mas comum em países desenvolvidos na Europa, por exemplo, é a interceptação e coleta das águas das primeiras chuvas e envio por tubulação própria para as ETEs. Há muito ainda a ser feito”, finalizou.

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