Expedição desce o Paraúna e adverte para a situação do Médio e Baixo rio

01/09/2017

Entre os dias 25 e 27 de agosto, a equipe iniciou a jornada, passando por Gouveia, navegando até a comunidade quilombola Capão, na região de Presidente Juscelino, e finalizando na Fazendo do Brejo.

120 km de águas;
grande diversidade de fauna e flora; alto índice de preservação: essas são
características do Rio Paraúna, um dos principais afluentes do Rio das Velhas.
Localizado na região central de Minas Gerais, o Paraúna é um dos poucos rios
que beiram cidades e que possui qualidade de água Classe 1. Segundo a resolução
CONAMA 357, essa classificação é dada para águas que “podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano,
após tratamento simplificado”, ou seja, a água precisa apenas ser filtrada,
purificada e, se necessário, com pH corrigido.

Essa harmonia ambiental é colocada em cheque quando nos deparamos com
graves situações no Médio e no Baixo Paraúna. Na primeira, a urbanização é
intensa e, apesar da presença de redes de esgoto na maioria dos municípios que
compõem a área, apenas a cidade Presidente Kubistcheck os trata de forma
adequada. No restante, os rejeitos são jogados nos cursos d’água. O engenheiro
ambiental e canoísta, Leandro Durães, enumera ainda outros fatores que colocam
em risco a natureza local. “É também
nessa área onde se concentram as grandes plantações, a pecuária extensiva, as
rodovias e as “florestas de eucalipto”. E não é só. As queimadas, os
empreendimentos minerários e as grandes voçorocas estão concentradas nessa
região.” 

O Baixo Paraúna, por sua vez, apesar de estar bem preservado, abriga uma
grande Usina Hidrelétrica (UHE) da CEMIG. “A presença da usina é um fator
preocupante do ponto de vista ambiental, principalmente quando tratamos da
retenção de sedimentos e da regulação da vazão do Rio.”, explica Leandro.

A partir dessa crise ambiental, a ONG
Caminhos da Serra com apoio do Projeto Manuelzão concebeu a 3ª edição da
Expedição Paraúna. Entre os meses de Agosto e Novembro equipes de canoístas,
ambientalistas e parceiros farão uma jornada pela calha e pelas margens do Rio
Paraúna, visando monitorar a qualidade das águas do rio e denunciar ações de
degradação ambiental. “A Expedição começou com os questionamentos: “que rio temos?”;
“qual rio queremos?”; e “que rio podemos ter?”, conta o fundador da ONG
Caminhos da Serra e coordenador da expedição, Alex Mendes.

Entre os dias 25 e 27 de agosto, a
equipe iniciou a jornada, passando pelo município de Gouveia, onde se localiza
a sede da ONG, navegando até a comunidade quilombola Capão, na região de
Presidente Juscelino, e finalizando na Fazendo do Brejo, próximo ao distrito de
Senhora da Glória. Durante os três dias iniciais, discussões, observações da
calha e planejamentos futuros fizeram parte do dia-a-dia do grupo.

Realizado como parte preparatória para
a Expedição Paraúna, o 2º Fórum de Discussões “Incêndios em Vegetação Nativa na
Serra do Espinhaço” recebeu, na sexta-feira (25), membros de diversas brigadas
de incêndio de Minas Gerais. Anderson de Freitas, integrante da Brigada 1,
ativa em Belo Horizonte e região metropolitana, ressaltou a importância de
conhecer as causas e épocas mais comuns de incêndios florestais para evita-los.
“A maioria das queimadas são provocadas de forma criminosa, sobretudo no
período da seca. Entre junho e novembro vemos graves incêndios, que podem durar
até 15 dias”. E ainda reitera o papel da população na prevenção dessas
intempéries ambientais. “Com a natureza não se pode ser negligente. Por isso,
não se deve usar fogo como fonte de eliminação de lixo, é preciso incentivar a
realização de mais fóruns de discussões para esclarecer sobre o que pode ser
feito para evitar incêndios e identificar os pontos críticos nas regiões, além
de promover mais educação ambiental.”.

Descendo o
Rio Paraúna

Durante o dia 26 de agosto, entre o Rio
Galheiros e a comunidade quilombola Capão, foi possível observar oito canoístas
navegando as águas do Paraúna. Cerca de 22 km foram percorridos em um intervalo
de 5 horas, nos quais a equipe se deparava com águas cristalinas, grandes
peixes e diversos animais silvestres.

Assim se deu o início da navegação da
Expedição Paraúna, que pretende percorrer toda a extensão do manancial, em
torno de 120 quilômetros, para fazer um diagnóstico de toda a bacia. Esta é a
terceira edição da jornada por esse rio, que já recebeu canoístas e
mobilizadores sociais nos anos de 2007 e 2012. Para o piscicultor e integrante
do Projeto Manuelzão, Erick Sangiorgi, foi um grande desafio tirar do papel a
Expedição de 2017. “Nas últimas edições, nós tivemos apoio de universidades
federais, prefeituras e empresas, mas hoje, estamos efetuando a Expedição
apenas à base de ONGs”. Para ele, a crise econômica do país é grande
responsável pela redução desta assistência institucional.

 Próximas
etapas

A segunda etapa
da Expedição será diferente. Enquanto na primeira a equipe navegou nas águas do
rio, desta vez, o trajeto será realizado por terra. Em um lugar conhecido
popularmente como “canion Paraúna”, localizado acima da UHE, os expedicionários
subirão o rio pelas margens. Entre os dias 6 e 10 de setembro, trilhas tortuosas
e de grande exigência técnica marcarão o ambiente de pesquisas e diagnósticos
do grupo.

Posteriormente,
após o início do período chuvoso e o aumento da quantidade de água do rio, a
navegação será retomada. A redução da vazão do Paraúna é um dos fatores que
mais preocupam ambientalistas. Segundo dados da Agência Nacional das Águas, dos
anos 1970 até hoje houve uma redução de cerca de 50% da vazão média anual. Além
disso, Leandro também se atenta para outras alterações no clima. “Verificamos junto aos dados do
Instituto Nacional de Meteorologia que a temperatura na região aumentou, tem
chovido menos e a água dos reservatórios evaporam muito mais quando comparados
a anos anteriores.” 

O plano para o final da Expedição é
refazer o trecho percorrido neste final de semana de agosto para apresentar os
resultados dos levantamentos realizados durante o percurso.

 

 

 

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