12/08/2020
Denúncia foi feita por um pesquisador enquanto observava via satélite a Fazenda Crixá, no sul do Acre, onde está um dos sítios arqueológicos que contam parte da ocupação milenar da Amazônia
Um novo episódio de destruição na floresta amazônica causou perplexidade geral, desta vez não por danos irreversíveis ao meio ambiente, mas ao patrimônio sociocultural da humanidade: desenhos geométricos no solo feitos a cerca de 2 mil anos pelos povos pré-colombianos que ocuparam a região, foram aterrados para plantio de milho e para pasto.
A denúncia foi enviada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ao Ministério Público Federal (MPF). Uma equipe do Iphan foi a campo apurar a denúncia no dia 27 de julho e confirmou o dano ao geoglifo.
O dono da propriedade, conhecida como Fazenda Crixá, é Assuero Doca Veronez, presidente da Federação da Agricultura do Acre. Pecuarista e ruralista acreano, o nome de Assuero acumula multas no Ibama por desmatamentos irregulares na Amazônia e no Cerrado, conforme revelou o site O Eco.
Veronez assumiu a culpa pelo estrago ao sítio arqueológico, mas alegou se tratar de um erro cometido pelo gerente da fazenda.
O paleontólogo Alceu Ranzi, que há 20 anos estuda os geoglifos da Amazônia, foi o responsável pela denúncia. Ele considera “impossível” recuperar o sítio arqueológico destruído.
“Cada um é único, como uma obra de arte. Chama a atenção a monumentalidade e a perfeição geométrica. Esses homens da Amazônia dominavam a geometria ao mesmo tempo em que Pitágoras elaborava o seu teorema. A monumentalidade é tanta que estão registradas em imagens de satélites”, lamentou Ranzi.
Os geoglifos, alguns com centenas de metros de diâmetro, eram utilizados ocasionalmente, com objetivos rituais, de acordo com estudo de um grupo de cientistas britânicos e brasileiros que analisaram a área de dois geoglifos localizados a leste de Rio Branco, no Acre.
O primeiro sobrevoo dos geoglifos da Fazenda Crixá foi feito em 2001. Assim como ele, há centenas de marcações milenares similares espalhadas pelo solo amazônico, algumas talvez ainda desconhecidas sob o dossel da floresta.