Mais quente, das Minas aos GeraisProjeto Manuelzão

Mais quente, das Minas aos Gerais

12/06/2024

Cidades com maiores aumentos de temperatura no Brasil em 2023 estão concentradas em Minas; BH foi a capital que mais esquentou

Em novembro de 2023, Belo Horizonte registrou 4,23°C acima da média para o mês. Foto: Lucas Negrisoli/BHAZ.

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) divulgou em fevereiro um estudo sobre as altas temperaturas registradas no Brasil durante 2023, o ano mais quente da história. Os números obtidos entre setembro e dezembro foram alarmantes, e alguns municípios, especialmente no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, registraram mais de 5ºC acima da média. Belo Horizonte foi a capital que mais esquentou, registrando 4,23°C acima da média de novembro.

Dispondo de dados de temperatura estimados por satélites espalhados pelo Brasil, os pesquisadores do Cemaden, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), analisaram a variação em relação a média das temperaturas dos 5.700 municípios brasileiros.

Os dados indicaram que os meses de setembro a dezembro apresentaram maiores anomalias de temperatura em grande parte do país. Nos meses de novembro e dezembro, foram observadas temperaturas de 4°C a 5°C graus acima da média. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontou que ocorreram seis ondas de calor entre agosto e novembro de 2023.

Em Minas Gerais, 37 municípios registraram 5°C acima da média durante o mês de novembro. Dos 50 municípios com maiores temperaturas, todos estão na região que engloba o Norte de Minas, o Vale do Jequitinhonha e o Sul da Bahia. São 42 em Minas e oito na Bahia. 

Tratando-se de capitais, Belo Horizonte bateu o maior aumento geral de temperatura — 4,23°C — em novembro. Os últimos quatro meses do ano foram especialmente quentes, todos pelo menos 1,6 °C acima da média. Se considerarmos o último quadrimestre, BH ficou atrás apenas de Cuiabá, no Mato Grosso, que acumulou 0,8°C a mais nesse período.

Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden, explica que, para o estudo, foi utilizada uma base de dados de superfície do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) junto com estimativas derivadas das estações meteorológicas. Os dados são estimados pois o país carece de um número adequado de estações meteorológicas por município para uma análise abrangente em todo o país. 

As medições da Organização Meteorológica Mundial (WMO, da sigla em inglês) e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, do inglês) indicaram 2023 como o ano mais quente desde o começo da medição de temperatura em 1850, registrando a média de 14,98°C. No Brasil, a temperatura média foi 24,92ºC, também a maior da série histórica de registros

De acordo com o Relatório do Clima de 2023 da NOAA, o El Niño pode ter contribuído para tal aquecimento anômalo. De fundo, ao que tudo indica, também está a influência do aquecimento da atmosfera do planeta

Belo Horizonte em detalhe

Lizandro Gemiacki, coordenador do 3º Distrito de Meteorologia do Inmet em Belo Horizonte, aponta um aumento na frequência com que as ondas de calor vêm acontecendo na capital. Essas ondas, normais a partir do mês de outubro, no início da estação chuvosa, tem acarretado ultimamente um aumento da temperatura fora do padrão. 

De acordo com o meteorologista, desde 2012 a temperatura vem quebrando recordes de alta que não aconteciam desde a década de 1980. 

“Empiricamente, esses fenômenos extremos, ou seja, que saem fora da estatística, estão ficando mais intensos e mais frequentes. Nos últimos anos, não só em Belo Horizonte, em Minas Gerais no geral, tivemos as três maiores ondas de calor, a maior onda de frio, em maio de 2020, uma das maiores secas durante 2014 e 2015, a maior chuva diária em Belo Horizonte e a maior chuva mensal [também em BH] durante janeiro de 2020”, lista o coordenador do Inmet.

Além do El Niño e do aquecimento global, Belo Horizonte também lidou com um inimigo interno em 2023. O Jornal O Tempo mostrou, a partir de dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, que a prefeitura cortou 7.326 árvores, a maior marca em quatro anos. 

Supressão de árvores na Praça da Liberdade, no Centro de BH, em 2018. Foto: Rodrigo Clemente/PBH.

As árvores são peça fundamental para o controle térmico de uma cidade. Além de proverem sombra, suas folhas transpiram, resfriando o ar circundante, e no processo da fotossíntese, capturam carbono da atmosfera, contribuindo para absorção de gases de efeito estufa. Áreas arborizadas apresentam temperaturas consideravelmente menores que as desmatadas.

“Na atmosfera, todos os efeitos são contrabalanceados: ou somados, ou diminuídos. Existe uma série de fatores que vão desde a grande escala, como o caso do El Niño, até fatores locais. O corte das árvores, propriamente dito, seria um fenômeno local que potencializa esse efeito de ilha de calor. Então quando você começa a substituir áreas arborizadas por asfalto, você promove o aumento na temperatura”, avalia Gemiacki.

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