Mais uma barragem pode se romper em Minas

17/11/2015

A Barragem de Germano, a maior do complexo de mesmo nome da Samarco em Mariana, na Região Central do estado, opera com nível de segurança abaixo do recomendável.

O diretor de Projetos e Ecoeficiência da empresa, Maury
Souza Júnior, informou que uma das paredes de sustentação da estrutura está com
coeficiente de segurança de 1,22, abaixo do que a empresa considera como mínimo,
que é 1,30. Segundo ele, são quatro paredes, sendo que o dique principal tem
coeficiente de 1,98. O diretor informou que estão sendo feitas intervenções
para acrescentar blocos de pedra na contenção da parede afetada, conhecida como
Selinha, até que seja alcançado o coeficiente de 1,30. Apesar disso, ele
garantiu que a barragem está estável. Posteriormente, as intervenções vão
continuar para que os coeficientes das três paredes cheguem a 1,7, por medida
de segurança. Além do dique principal, as paredes são Selinha (1,22), Tulipa
(1,46) e Sela (1,48).

Segundo o engenheiro geólogo Edézio Teixeira de Carvalho,
professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o índice
de 1,22 no coeficiente de segurança é muito baixo. “Esse valor é calculado com
a relação entre as forças resistentes (que dão sustentação à estrutura) e as
forças solicitantes (que fazem pressão sobre ela). O ideal é que esse número
seja próximo de 2, sendo que, na minha avaliação, o mínimo para que a barragem
esteja segura é a partir de 1,5. Se estão dizendo que esse índice é 1,22,
significa uma folga de apenas 22% na relação das forças resistentes e
solicitantes”, explicou o especialista. “Se o valor chega a 1, é o perfeito
equilíbrio, significa que a barragem está em seu limite, perto de romper”,
acrescentou. Valor abaixo disso significa colapso. “O cálculo tem que dar no
mínimo 1”, afirmou.

(…) Na manhã de ontem, o prefeito de Mariana, Duarte
Júnior, também havia confirmado a existência de uma fissura em uma das três
contenções da Barragem Germano. Segundo o prefeito, a estrutura está sendo
monitorada 24 horas por dia, com base em cálculos que medem o risco de
rompimento. Por enquanto, o governo de Minas não deve enviar equipe ao local,
segundo Duarte Júnior. “Qualquer pequena fissura para nós é muito grande”,
disse o prefeito, que acrescentou temer que um novo rompimento leve uma
enxurrada ainda maior de rejeitos de minério à comunidade de Camargos.

SEM RESPOSTAS: Na quarta-feira, o presidente da Samarco,
Ricardo Vescovi, deu entrevista coletiva e se limitou a dizer que as estruturas
da barragem estavam estáveis, mas admitiu que foi necessário aumentar seu “grau
de segurança”. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) deu prazo de 48
horas para que a mineradora apresentasse uma projeção de impactos causados por
um eventual rompimento da Barragem do Germano. Além disso, determinou que a empresa
relacionasse as ações emergenciais a serem conduzidas no caso de mais um
desastre.

As informações ainda não foram repassadas. Restam perguntas
ainda sobre as duas estruturas que se romperam, liberando um fluxo de água e
lama de 62 milhões de metros cúbicos, equivalente a nove vezes a Lagoa da
Pampulha. “Se as duas barragens tinham um corpo geotécnico trabalhando 24
horas, quero saber se foi percebido o erro que resultaria no rompimento e, se
foi notada a falha, por que ela não foi sanada a tempo”, avisou Carlos Eduardo
Ferreira Pinto, coordenador do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais
(Nucam) do Ministério Público de Minas Gerais. A partir da semana que vem, o
promotor de Justiça começa a interrogar, um a um, os funcionários, engenheiros
e técnicos envolvidos na operação das minas em questão. No total, entre
terceirizados e trabalhadores diretos da Samarco/Vale/BHP Billington, devem ser
ouvidas até 15 pessoas.

Estado de Minas (14/11/2015). Por: Guilherme Paranaíba, João
Henrique do Vale, Marcelo Faria e Sandra Kiefer

 

Página Inicial

Voltar