19/08/2016
Segundo Suassuna, caso não chova no SF até o final de novembro, a situação do rio ficará insustentável. Daí a preocupação técnica, de que as represas de Sobradinho e Três Marias entrarem em seus volumes mortos com antecedência.
As autoridades do setor elétrico
mineiro (Cemig) haviam adotado política de gestão nas defluências de Três
Marias, com o propósito de auxiliar na manutenção da vida das lagoas marginais
do Rio São Francisco, bem como na tentativa de recuperação volumétrica da
represa de Sobradinho. A política foi iniciada no mês de maio, defluindo da
represa cerca de 230 m³/s, até se atingir, no mês de outubro, uma defluência de
280 m³/s, de maneira a se estabelecer um percentual de cerca de 10% da
capacidade da represa de Três Marias, até o final de novembro. No dia primeiro
de julho a Cemig, em claro desrespeito a essa política, elevou a defluência de
Três Marias para 320 m³/s. Com a seca avassaladora que persiste na bacia do
Velho Chico, a situação se agravou: a defluência foi elevada para 383 m³/s.
Essa manobra fez variar, de forma
discreta, os volumes nos postos de observação de Morpará e São Francisco,
passando, respectivamente, de 489 m³/s e 435 m³/s, da semana anterior, para 489
m³/s e 431 m³/s nesta semana. Praticamente os volumes do Rio São Francisco
permaneceram inalterados naquela região. O aumento da defluência de Três Marias
já está chegando a Bom Jesus da Lapa com 546 m³/s e Sobradinho, cuja afluência
está em cerca de 400 m³/s. Esses acréscimos nos volumes afluentes, em
Sobradinho, são a prova clara de que as autoridades estão tentando postergar o
início do volume morto dessa represa, que estava previsto para o mês de
novembro, para períodos subsequentes.
O que preocupa nessa manobra, é
que, antes, as perspectivas de exaustão estavam voltadas para a represa de
Sobradinho. Agora, os cuidados deverão estar voltados para Três Marias, que
certamente alcançará, de forma antecipada, os 10% anteriormente previstos de
sua capacidade. Em Sobradinho, o percentual volumétrico continua despencando,
passando de 17,40% para 16,30% de seu volume útil. A barragem, hoje, ainda
continua com seu percentual volumétrico um pouco melhor do que aquele
verificado em igual período do ano anterior (atualmente 16,30% – ano anterior
14,20%). O ano de 2016 está confirmado como seco na bacia do Rio São Francisco
e de enormes preocupações, principalmente no tocante à geração de energia no
complexo da Chesf.
Segundo previsões de
especialistas, se fosse mantida a variação de afluência e defluência, antes da
política de gestão das águas de Três Marias, a represa de Sobradinho chegaria
ao volume morto no mês de novembro de 2016. Com a adoção da nova defluência, em
Três Marias (383 m³/s), o prazo de colapso em Sobradinho deverá ser postergado
por mais algum tempo. Nessa semana (19/08), as vazões do São Francisco
permaneceram estáveis nos postos de observação de São Romão e São Francisco –
489 m³/s e 431 m³/s – se comparadas àquelas da semana anterior – 489 m³/s e 335
m³/s -, respectivamente. As vazões no posto de observação de São Francisco,
ainda continuam menores do que aquelas verificadas no posto de São Romão (431
m³/s – 489 m³/s). A vazão afluente em Sobradinho foi estabilizada em cerca de
400 m³/s. Isso significa dizer, que os volumes adicionais oriundos de Três
Marias (383 m³/s), já começam a chegar na represa de Sobradinho.
Detalhes:
Essa vazão afluente em Sobradinho
(400 m³/s) é menos da metade daquela praticada na defluência da represa,
atualmente em cerca de 818 m³/s. Preocupadas com esse fato, as autoridades
responsáveis pelo setor hidrelétrico comunicaram da necessidade de reduzirem a
vazão defluente em Sobradinho para o patamar de 700 m³/s. Essa baixa
defluência, em Sobradinho, aumentará os problemas da progressão da cunha salina
na foz do rio, fato esse que vem dando certos transtornos no abastecimento do
município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de
péssima qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual
situação vivem 60% da população de Aracaju, que são abastecidos com as águas do
Rio São Francisco, por intermédio de uma adutora, em Propriá, município
sergipano localizado em sua margem direita. Esses descompassos nas afluências e
defluências de Sobradinho e Três Marias, irão resultar na rápida depreciação
dessas represas (principalmente a de Três Marias), cuja necessidade de defluir
mais volumes, somada ao consumo excessivo das águas subterrâneas nos principais
aquíferos da bacia hidrográfica do Rio São Francisco e à elevada evaporação
existente em seus espelhos d´água (a evaporação no espelho d´água em
Sobradinho, nessa época do ano, tem ultrapassado os 200 m³/s), serão as
principais causas dessas exaustões. Nesse sentido, é oportuno o acesso
aodiagnóstico da situação atual da bacia hidrográfica do São Francisco
realizado pelo hidrogeólogo, José do Patrocínio Tomaz Albuquerque.
Caso não chova na Bacia do São
Francisco até o final de novembro, a situação do rio ficará insustentável. Daí
a preocupação técnica, de a represa de Sobradinho, e agora Três Marias, caso
permaneça esse quadro de penúria hídrica, entrarem em seus volumes mortos com
certa antecedência! Haveria de se ter muito mais chuvas naquelas regiões do
Alto e Médio São Francisco, para a situação volumétrica do rio e das represas
de Sobradinho e de Três Marias, voltar à normalidade. É por essa razão que as
autoridades do setor eletro-hidrológico (ANA, Cemig e Chesf) já se mobilizam no
sentido de soltarem mais água de Três Marias e programarem a redução das vazões
defluentes em Sobradinho, atualmente de cerca de 818 m³/s para cerca de 700
m³/s, manobra essa, em Sobradinho, ainda não iniciada.
Texto: João Suassuna
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