Minas Gerais é o estado que mais polui o Rio São Francisco

28/09/2015

Estudos divulgados pelo comitê de bacia mostram que Minas é o estado que mais contribui com o volume do Rio da Integração Nacional, mas é também o maior responsável pela degradação de suas águas

Uma riqueza jogada pelo ralo, a
opulência dos afluentes mineiros do São Francisco é responsável por nada menos
que 80,7% da vazão da bacia, mas é também essa água a principal fonte de
contaminação do Rio da Integração Nacional. Só a Bacia do Rio das Velhas, a
segunda em volume, depois do Rio Paracatu, descarrega seus 321,9 metros cúbicos
por segundo (m3/s) de água cheia de poluição por esgotos – constatada em 54,4%
das amostras colhidas em seu percurso – e de mineração, detectada em 28% dos
testes, sob a forma de altas cargas de arsênio, um semimetal tóxico que em
concentrações elevadas pode provocar câncer de pele, pâncreas e pulmão, abalos
ao sistema nervoso, malformação neurológica e abortos. Poluição em níveis acima
dos tolerados pela legislação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) é
encontrada também nas bacias dos rios Paraopeba e Pará, sexto e sétimo maiores
afluentes do Velho Chico, respectivamente. Os dados são um retrato atual e
preocupante da situação do São Francisco, referentes aos estudos divulgados
neste mês pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do manancial (CBHSF) e que foram
reunidos pela consultoria Nemus para nortear o Plano de Recursos Hídricos de
2016 a 2025 da entidade.

As análises do Velhas mostram que
há poluição também por cádmio, chumbo, cianeto, cromo, mercúrio e zinco em
concentrações acima das toleradas pela legislação Conama. As fontes poluidoras,
de acordo com os relatórios de campo, são esgotos, mineradoras, curtumes,
frigoríficos, fábricas têxteis, usinas de ligas metálicas e siderurgia,
principalmente na Grande BH, todas despejando efluentes sem tratamento e
impunemente. Pelo relatório divulgado pela CBHSF, a situação das águas do rio
que abastece 70% de Belo Horizonte e da Grande BH é “uma das mais problemáticas
em termos de qualidade das águas superficiais, no conjunto da bacia
hidrográfica do Rio São Francisco e até em nível nacional”.

Desde 2003 tentaram-se ações
caras para aplacar os lançamentos de esgotos na Grande BH, mas o relatório é
claro ao dizer que isso pouco afetou o problema. “Houve investimentos em
Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) no (Ribeirão) Arrudas e (Ribeirão do)
Onça, mas o Índice de Qualidade da Água (IQA) continua ruim. Importa salientar
que a situação global do Rio das Velhas permanece bastante crítica, com
destaque para as zonas urbanas da cabeceira (Grande BH)”, conclui o relatório.

EMISSÁRIO E POLUIÇÃO

Toda essa carga de imundície
viaja com o Velho Chico por longas distâncias, tornando suas águas impróprias
ao consumo humano e animal, e perigosas para usos como a irrigação e a pesca.
“A contaminação do Velhas polui o São Francisco por dezenas de quilômetros,
pois quando ocorre o encontro dos dois, em Várzea da Palma (Norte de Minas), o
volume dos corpos hídricos é quase igual. Assim, o São Francisco não tem volume
para depurar toda a contaminação que chega”, afirma o biólogo e consultor em
recursos hídricos Rafael Resck. Ainda de acordo com ele, a diluição da poluição
é dificultada pela seca e pelos lançamentos de esgotos e efluentes industriais
que continuam a ocorrer ao longo da bacia. “Para melhorar a qualidade do Velhas
não tem receita milagrosa: é tratamento sanitário nas cidades, principalmente
as da Grande BH. Em segundo lugar, um controle maior das indústrias que ainda
despejam nele rejeitos químicos”, avalia o especialista.

Um dos pontos mais deteriorados
do Velhas é justamente o encontro em Sabará do manancial com o Ribeirão
Arrudas, que chega ao corpo principal depois de atravessar Belo Horizonte e
Contagem. Nessa conjunção, as cargas de detritos e poluentes já são visíveis. A
água do Arrudas vem escura, densa e quase parada, com partículas sólidas
saturando o volume líquido, trazendo sacolas de lixo e garrafas plásticas. Nas
margens dos dois mananciais, soterradas pela terra e as pedras de enchentes
passadas, despontam pneus de caminhões, armações de camas e sofás. Cães e gado
bebem dessa água e também aplacam seu calor com incursões no leito malcheiroso.
Dezenas de cágados que conseguem sobreviver à poluição ainda aproveitam as
rochas do leito raso para seus banhos de sol.

Matéria veiculada pelo jornal Estado de Minas –  postado em 28/09/2015 06:00 / atualizado em 28/09/2015 10:15

Repórter: Mateus Parreiras

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