Mineração na Serra do Curral pode impactar abastecimento de 2,5 milhões de pessoas - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

Mineração na Serra do Curral pode impactar abastecimento de 2,5 milhões de pessoas

16/05/2022

Complexo minerário ameaça estrutura da Copasa e terá implicações a longo prazo na recarga de aquíferos

Além das consequências para a fauna e flora, a paisagem sonora e a qualidade do ar, a implantação do Complexo Minerário Serra do Taquaril (CMST) pode impactar o acesso à água de cerca de 2,5 milhões de mineiros. A escassez hídrica pode se dar de dois modos: o risco de rompimento de uma adutora da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que traria efeitos imediatos, e o rebaixamento dos aquíferos, cujo impacto pode ser aterrador ao longo do tempo.

A intensa circulação de caminhões de grande porte, prevista para fazer o transporte do minério de ferro, é o grande motivo que pode desencadear o rompimento da adutora, um conjunto de tubulações usado para conduzir água para e da estação de tratamento. Construída em 1929, a estrutura passa no interior da propriedade da Tamisa, a fazenda Ana da Cruz.

A adutora bombeia água até a estação de tratamento de água de Bela Fama, no distrito de Nova Lima, que fica a 25 quilômetros do Centro de Belo Horizonte. O equipamento tem 2 metros de diâmetro e é capaz de processar 8 mil litros de água por segundo. A estação Bela Fama é responsável pela água de 70% da população da capital e 40% da região metropolitana.

O engenheiro ambiental Felipe Gomes, um dos integrantes do movimento Tira O Pé Da Minha Serra, afirma que “se ela [a adutora] desmoronar, é certo que Sabará ficará sem água e precisará ser abastecida com caminhão-pipa”.

Rebaixamento dos aquíferos

O impacto na recarga dos aquíferos deve ser consequência direta da destruição das montanhas que o CMST pretende levar a termo. Esse processo pode gerar uma alteração substancial do ciclo da água na região. Os aquíferos são reservas hidrológicas subterrâneas que, quando cheios, fazem brotar água nos solos sob a forma de nascentes, olhos d’água e pântanos, por exemplo.

Eles são enchidos principalmente pela infiltração de água da chuva nos topos dos morros, isto é, nas regiões mais altas dos territórios, que justamente por isso são chamados de zonas de recarga hídrica e são considerados Áreas de Preservação Permanente (APPs) segundo o Código Florestal.

Vista aérea da vegetação de Campo Rupestre Ferruginoso sobre Canga. Imagem: Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).

Quando as montanhas são dinamitadas, em geral, sua capacidade de absorção é afetada, o que impacta na quantidade de água que chega a esses reservatórios subterrâneos. Estes são fundamentais para a manutenção da estabilidade dos cursos d’água superficiais – lagos, nascentes, rios etc. – e para a absorção do excesso de água da chuva. Portanto, o rebaixamento dos aquíferos da região da Serra do Curral pode gerar efeitos em cadeia para todo o complexo hídrico da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas com o passar dos anos.

Na área do projeto ocorrem também afloramentos de rochas e cangas ferruginosas, formações geológicas superficiais privilegiadas para a infiltração da água no solo, rica em ferro e muito resistente à erosão.

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