Moradores de Moeda denunciam falta de ação em combate aos incêndiosProjeto Manuelzão

Serra da Moeda é devastada por incêndios, e moradores denunciam negligência do poder público

08/10/2024

Descaso impõe graves perdas ambientais e coloca em risco a vida da população, que tem agido por conta própria; inoperância da Prefeitura de Moeda é criticada

Incêndio na comunidade de Vieira, em Moeda, em 5 de setembro. Foto: Reprodução/Denúncia moradores.

A região do Monumento Natural Estadual (Monae) da Serra da Moeda, nos municípios de Itabirito e Moeda, vem sofrendo com incêndios de grandes proporções há quase dois meses. O fogo, que assola áreas de grande valor ecológico e ameaça a segurança das comunidades, persiste sem uma resposta à altura por parte das autoridades locais. Especialmente em Moeda, moradores denunciam uma preocupante falta de ação da prefeitura.

Desde de 19 de agosto, focos de incêndio se espalham por diversas áreas rurais de Moeda, atingindo as comunidades de Moeda Velha, Morro do Cruzeiro, Pai Pedro, Pessegueiro, Vieira, Vila Côco, Contenda, Sertãozinho e o Residencial Moeda. Em denúncia enviada ao Projeto Manuelzão, moradores relatam que estão combatendo o fogo sem ajuda profissional na maioria das vezes.

Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), quase 3 mil hectares foram queimados no Monae Serra da Moeda e em sua zona de amortecimento, a faixa no entorno de uma unidade de conservação (UC) que ajuda a protegê-la e onde as atividades humanas estão sujeitas a normas especiais. No interior da UC foram 894 hectares perdidos. No entorno, 2.030 hectares.

A Serra da Moeda integra a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e possui grande importância biológica, turística e científica. Mesmo assim, as ações de preservação têm sido mínimas. Apenas no primeiro incêndio ocorrido na região neste ano, no fim de julho, 536 hectares de área protegida foram consumidos pelas chamas.

Brigadistas da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda) atuam na região por meio de um termo de ajustamento de conduta (TAC) com a mineradora Gerdau. No entanto, com apenas três profissionais, sobrecarregados pelo excesso de demanda, não é possível conter incêndios de grandes proporções.

Morador combate fogo sozinho em Moeda Velha, Moeda, em 20 de agosto. Foto: Reprodução/Denúncia moradores.

A ausência de uma brigada local no município agrava o problema. Embora haja equipamentos e funcionários da Prefeitura de Moeda treinados para combate a incêndios, moradores denunciam que nenhum deles tem sido mobilizado para atuar nas ocorrências recentes. Registros fotográficos de 20 de agosto, dia em que focos de incêndio surgiram em Moeda Velha, mostram abafadores usados por brigadistas encostados na sede da prefeitura.

A situação tem forçado os moradores a agir por conta própria. Os relatos dão conta de que “o fogo chega muito perto das casas, das caixas d’água, da fiação elétrica”.

Os moradores também relatam dificuldades em acionar o Corpo de Bombeiros. Quando é discado na região, o número de emergência (193) é redirecionado para Conselheiro Lafaiete, o que dificulta ainda mais o socorro. Os profissionais, quando são enviados, vêm de outras localidades.

Leia a íntegra da denúncia dos moradores de Moeda

À própria sorte

Giancarlo Borba, ambientalista e residente do entorno da Serra da Moeda, ressalta as consequências desse descaso. “Quem acaba pagando o fogo é a gente, que não tem treinamento nem equipamento. O fogo só não queimou a maior mata que ainda está de pé aqui, que é a Mata da Conceição, porque nós aqui, eu, meu irmão e mais dois vizinhos, que nasceram e cresceram aqui e conhecem todos esses matos, subimos e conseguimos conter antes de entrar na mata mais fechada”.

Segundo Giancarlo, o fogo continua descontrolado na região. Desde o domingo, 6, um novo incêndio tem se alastrado rapidamente numa área próxima da comunidade quilombola Marinho da Serra. Aviões e helicópteros do Corpo de Bombeiros e da Polícia Rodoviária Federal foram enviados até Moeda, depois de bastante barulho da população.

“Um dos principais problemas aqui, que também é uma questão em todo lugar, é que esses bombeiros não são treinados para esse tipo de situação, eles protegem as casas mas não entram no campo. Então a vegetação queima igual, a natureza continua queimando”, avalia Giancarlo.

A população local ainda denuncia a falta de fiscalização e pede por melhorias. Entre as demandas, estão a instalação de câmeras de vigilância para identificar os responsáveis pelos incêndios e a decretação de estado de emergência devido à seca severa e aos recorrentes incêndios florestais.

Com o meio ambiente, a fauna e a vida das pessoas em risco, moradores de Moeda pedem uma resposta efetiva das autoridades. O apelo é urgente. “Nunca houve, nos últimos anos, nada comparado ao que está ocorrendo agora e é necessário uma investigação e uma ação rápida de proteção e reparação”, finalizam os moradores na denúncia.

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