07/05/2024
Propostas foram debatidas em roda de saberes; movimentos cobram, entre outras ações, alternativas ecológicas à construção de bacias de detenções de cheias
Nove movimentos ambientais que atuam na Sub-bacia Hidrográfica do Córrego Cercadinho, em Belo Horizonte, promoveram no último dia 18 uma roda de saberes sobre os problemas e as potencialidades locais. Além de abordar os problemas históricos do Cercadinho, o encontro discutiu estratégias de atuação e apresentou uma carta aos pré-candidatos à prefeitura da capital, aprovada durante o evento.
Entre outros assuntos, a carta destaca as demandas para a Sub-bacia do Cercadinho, afluente do Ribeirão Arrudas, enfatizando sua riqueza em biodiversidade e possibilidades ambientais, contrastando com décadas de negligência por parte do poder público, que gerou problemas impulsionados pela especulação imobiliária. O Arrudas, junto do Ribeirão do Onça, são os afluentes da capital que desaguam no Rio das Velhas e impactam muito nas condições do rio daí em diante.
Os moradores expressaram preocupação com projetos de construção de bacias de detenção de cheias, conduzidos sem diálogo com os coletivos ambientais e associações de bairros, além da falta de informações sobre desapropriação e reassentamento.
Diante desses desafios, os movimentos solicitam aos candidatos à prefeitura soluções sensíveis aos temas ambientais e a novos modelos de cidade, que não sejam reféns do concreto. Entre outras demandas está a preservação do Centro Municipal de Agroecologia e Educação Ambiental para Resíduos Orgânicos (Cemar), a suspensão da construção das bacias de contenção e a recomposição e manutenção das áreas verdes e matas desde a nascente até a foz do Cercadinho.
“Esperamos que vossa senhoria assuma publicamente esses compromissos junto às nossas comunidades, coletivos e associações de bairro para que, se eleito, abra o diálogo a fim de buscarmos soluções para que Belo Horizonte seja uma cidade mais humanizada e ecologicamente justa”, lê-se em trecho da carta.
Assinam a carta as associações de moradores do Bairro Havaí (ADUSCD) e do Bairro Estoril (APIMBE), o Coletivo Cercadinho Vivo, a Horta Coletiva Cemar-Estoril, o Instituto Guaicuy, o Movimento SOS Mata do Havaí, o Projeto Manuelzão e o Núcleo Manuelzão Cercadinho e o Projeto Ponte Queimada-Cercadinho Córregos Vivos.
Leia a íntegra da carta para os pré-canditados à prefeitura de BH.
Desde a fundação dos bairros Buritis e Estoril nos anos 1970, na Região Oeste da capital, a Sub-bacia do Cercadinho enfrenta problemas como adensamento populacional desordenado e especulação imobiliária. O zoneamento foi alterado nos anos 90, favorecendo a construção de prédios, resultando em problemas viários, impermeabilização do solo e esgotamento sanitário precário.
Os moradores criticam a construção das bacias de contenção, alertando para riscos como extravasamento durante chuvas intensas, além de desvalorização imobiliária e supressão de áreas verdes essenciais para infiltração de águas pluviais.
Maria Araújo, do Cemar, e Neide Pacheco, do Núcleo Manuelzão Cercadinho, são contra as bacias de detenção, enfatizando que a área já funciona naturalmente como uma bacia de infiltração.
A geógrafa Márcia Marques, do Projeto Manuelzão, concorda que as bacias não são adequadas para a região, devido ao risco de danos ambientais e geológicos, como deslizamentos, além ser uma solução que segue ignorado as causas do problema: a impermeabilização do solo e o desprezo às dinâmicas hidrográficas do território.
A Sub-bacia do Cercadinho é marcada pela história da antiga Fazenda do Cercado, considerada o principal manancial da cidade. O Córrego Cercadinho e seu afluente Ponte Queimada passam pelos bairros Olhos D’água, Belvedere, Estoril, Buritis, Palmeiras, Marajó, Havaí e Cinquentenário, até desaguar no Ribeirão Arrudas no Salgado Filho. Saiba mais sobre a atuação do Núcleo Manuelzão Cercadinho.
Além das questões ambientais, a região enfrenta desigualdades sociais típicas das áreas urbanas brasileiras.