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Na cidade de Santa Bárbara, alerta em barragem da AngloGold gera pânico em moradores

18/10/2022

Em reunião com famílias, mineradora afirmou que, mesmo com duas trincas, estrutura está segura

[Reportagem de Ana Carolina Vasconcelos para o Brasil de Fato Minas Gerais publicada nesta terça-feira, 18 de outubro; a edição é de Larissa Costa.]

Após a barragem Córrego do Sítio (CDS) II, da AngloGold Ashanti, no município mineiro de Santa Bárbara, ser elevada a nível 1 de alerta, moradores das comunidades do entorno relatam medo e preocupação. O motivo da mudança de nível foi a identificação da presença de duas trincas na estrutura.

Segundo as famílias, elas foram informadas da situação por panfletos e mensagens em redes sociais. Posteriormente, elas relatam que se criou um clima de pânico generalizado.

“Foi um fim de semana bem tenso. Já estávamos com roupas e documentos dentro de bolsas esperando um soar de alarme. Aqui estamos com muito medo. É uma tensão de 24 horas. Há pais que não querem deixar os filhos irem para a escola, por medo”, conta Grazielle Fernandes, da comunidade Brumal.

Com o objetivo de compreender as reais condições de segurança, os moradores solicitaram reunião com a mineradora. No encontro, que aconteceu na noite da última segunda-feira, 17, o engenheiro da AngloGold Leonardo Padula afirmou que a medida foi tomada por precaução e que a estrutura da barragem está segura.

Mesmo assim, os moradores afirmam que, além de não responder a todos os questionamentos, a mineradora não assumiu nenhum compromisso com as famílias.

Sirene “acidental”

Nos últimos três anos, as comunidades conviveram com quatro acionamentos “acidentais” de sirene, que indicavam rompimento da barragem. Os episódios se tornaram traumáticos e geraram uma série de transtornos para os moradores que, no início deste ano, buscaram o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

Para reparar os impactos, o MPMG montou uma mesa de negociação. Porém, a mineradora não quis dar seguimento ao processo. Em resposta, o órgão ajuizou uma Ação Civil exigindo que a empresa pagasse indenização de R$ 60 milhões às comunidades, por danos coletivos e sociais.

Diante desse acúmulo de situações, Roseni Ambrósio, moradora de Santa Bárbara e militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), conta que as comunidades seguem atentas.

“Nossa preocupação é de que a empresa tenha informações deturpadas sobre a situação atual, porque ela nunca demonstrou ter clareza nem transparência nos episódios anteriores”, explica.

Falta de assistência

Perguntada pelo Brasil de Fato MG sobre como tem sido o relacionamento da AngloGold Ashanti com as famílias do território, Roseni conta que a realidade é de desinteresse e desassistência.

“A mineradora vem se mostrando cada dia mais desinteressada com a nossa situação, deixando a comunidade de lado e não atendendo os nossos apelos. Fizemos um apelo, com ofício, para que eles abrissem a comunidade para passagem de carros, em situações de emergência, já que estamos ilhados. Não mandaram nenhum carro de apoio para que tivéssemos uma sensação maior de assistência”, relata.

Já Grazielle, conta que, ainda que a empresa possua um canal direto de atendimento, por telefone, com as famílias, ele apresenta falhas. A maior parte das informações são divulgadas virtualmente, o que impede que parte dos moradores tenham acesso.

“Tem muita gente idosa nas comunidades, que não acessam as ferramentas digitais. Eles ficam sabendo por meio do ‘boca a boca’”, conta.

Grazielle acredita que uma das formas de assistência que a mineradora poderia prestar às comunidades seria disponibilizar profissionais da saúde mental aos moradores.

“Isso afeta o psicológico das pessoas, traz transtorno de pânico, ansiedade e depressão, por exemplo. Então, uma psicóloga seria muito viável, no sentido de ajudar as pessoas, para que elas tenham com quem conversar e falar sobre seus medos. Isso deveria ser feito com uma profissional diariamente dentro das comunidades. Não adianta eles responderem que tem uma psicóloga online”, completa.

O outro lado

Procurada pelo Brasil de Fato MG para comentar sobre a situação, a AngloGold Ashanti informou que concluiu “o preenchimento das trincas na barragem” e que, desde que o problema foi detectado, “equipes da empresa estão em campo visitando pessoalmente as casas da comunidade para tranquilizar os moradores e esclarecendo as dúvidas”. A mineradora reforçou que faz um “trabalho constante de diálogo aberto e transparente com as comunidades, com comunicados sistemáticos de atualização”.

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