22/03/2020
Moradores de comunidades e favelas enfrentam incertezas financeiras e sanitárias; No Rio de Janeiro, há denúncias de falta de água há doze dias.
Com a atual crise sanitária global em decorrência do novo coronavírus, um dado tem chamado a atenção de pesquisadores e movimentos sociais: estima-se que mais de 13 milhões das pessoas vivem em comunidades e favelas em todo o país. Nessas regiões, com menos acesso à água tratada e saneamento básico adequado, os riscos de disseminação do novo vírus é muito maior.
De acordo com o levantamento mais recente do Instituto Trata Brasil, 46,85% dos brasileiros não têm cobertura de coleta de esgoto. Também 16,38% não contam com abastecimento de água, ou seja, quase 35 milhões de pessoas. Neste Dia Mundial das Águas, a realidade dessas pessoas merece atenção especial.
Em entrevista à BBC Brasil, o presidente da União de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, destaca como as regiões periféricas do país estão em grande perigo com a atual pandemia. “É onde mais vão se registrar casos [de covid-19, a doença causada pelo vírus], vai ser nas favelas. Porque como é que um idoso vai entrar em uma situação de isolamento em uma casa com dez pessoas e dois cômodos? Esse isolamento é um isolamento para ‘gringo ver’, para rico. O pobre não tem condição de fazer. Vamos ter muitas perdas nas favelas, infelizmente”, afirma Rodrigues.
Além da dificuldade de isolar casos mais graves em habitações reduzidas, as orientações preventivas das autoridades sanitárias impõem desafios particulares a essas populações. Distanciamento social para muitos trabalhadores autônomos e informais que se sustentam com renda baixa, uso de insumos pressionados pelo aumento de preço (álcool em gel, sabão, máscaras etc), além do difícil acesso a água de qualidade para a higienização.
Rodrigues adverte que em favelas do Complexo do Alemão, no Rio, moradores denunciam estar há 12 dias sem água, impedidos de higienizar-se adequadamente contra o novo vírus. “Daqui a pouco vai aparecer um número gigante [de casos confirmados de covid-19], não só em Paraisópolis mas em outras favelas do país, e vão fazer da favela uma grande vilã. Só que a favela é a grande vítima”, denuncia Rodrigues.
Diante deste cenário caótico, a Central Única de Favelas (Cufa) divulgou um 14 ações humanitárias emergenciais para conter os danos nas comunidades do país.
“Sabemos que são necessários bem mais ações e que este conjunto de medidas visa alcançar um público que ficou fora das medidas formais adotadas até aqui. Em particular, os que se encontram economicamente fragilizados e habitantes em territórios de desigualdade. Os números, que nos ajudam a focalizar estas medidas, são: 77 milhões de pessoas estão no cadastro único; 66 milhões de pessoas de renda muito baixa (menos de ½ SM per capita); 41 milhões no bolsa família; 11 milhões com renda não muito superior a ½ SM”, diz o comunicado.
Conheça as medidas emergenciais reivindicadas:
Leia as propostas na íntegra, clicando aqui.
Com informações da BBC Brasil.