Novas imagens de uma velha história

04/04/2014

As fortes chuvas que caem em BH trouxeram à tona problemas que sempre acontecem nesta época do ano. “Desastre Natural ou insanidade Humana?”, é o que pergunta o coordenador do projeto Manuelzão, Marcus Polignano, em artigo.

 

Belo Horizonte não está se
preparando para prevenir enchentes

Artigo de Marcus Vinicius Polignano, coordenador
geral do Projeto Manuelzão

Belo Horizonte, novembro de 2009

Enchente no ribeirão Arrudas em 2003 (Foto: acervo Projeto Manuelzão)Estamos
assistindo, neste mês, ao mesmo que ocorreu no final de 2008: enchentes em
vários pontos de Belo Horizonte, em especial na região do Ribeirão Arrudas. As
enchentes fazem parte do ciclo das águas e rios. As tragédias, não
necessariamente.

Se olharmos em direção à Serra do Curral, podemos perceber claramente
que Belo Horizonte foi assentada num fundo de vale, incrustada num relevo
montanhoso. Pela própria conformação geográfica, a tendência natural é de
escoamento das águas para os fundos de vales, como os córregos que fluem para o
Ribeirão Arrudas.

Ocorre que, ao longo de sua história, Belo Horizonte, ao invés de
inserir os cursos d´água no seu cenário, procurou fazer um traçado
perpendicular aos mesmos e adotou sistematicamente a prática da canalização.

Ao mesmo tempo, outros processos contribuíram para agravar as
conseqüências das enchentes na cidade. Erosão, ocupação desordenada do solo de
fundo dos vales, manejo inadequado do solo e de microbacias hidrográficas,
desmatamento. E também impermeabilização, ocupação inadequada das encostas, baixa
capacidade de infiltração das águas pluviais, canais assoreados devido à grande
quantidade de sedimentos e de lixo doméstico.

As causas são sistêmicas e têm a ver com o território de bacia
hidrográfica. As enchentes que ocorrem em pontos do Ribeirão Arrudas estão
relacionadas com o que ocorre nas suas cabeceiras, nos córregos que são seus
afluentes. Com a ocupação desordenada e ausência de solo permeável, que
funciona como uma esponja que segura a água, o volume de água que volta para o
rio aumenta muito, e o risco de acontecer uma enchente “desastrosa” é muito
grande.

A manutenção do modelo de canalização de córregos agrava o problema. Nós
transformamos córregos e rios em avenidas e depois nos espantamos quando as
avenidas e ruas se transformam em córregos. Belo Horizonte não vem tratando
sistemicamente o problema. A construção de piscinões ou aprofundamento do leito
do rio são medidas paliativas, que tiram o foco da discussão das verdadeiras
causas do problema. É preciso acabar com a indústria das enchentes que propõe
investimentos e obras faraônicas que não resolvem os problemas. A história da
cidade demonstra isso. Quando aumentaram a caixa de concreto do Ribeirão
Arrudas na década de 1980, afirmaram que não teríamos mais enchentes.

É necessário que o modelo de gestão das águas de Belo Horizonte seja
revisto: proibindo-se novas canalizações; fazendo “descanalizações” para que os
cursos d´água possam correr livres no seu leito natural, como já ocorre em
países da Europa; aumentar a permeabilidade do solo; rever a lei de uso e
ocupação do solo para garantir a preservação das cabeceiras dos cursos do
d´água; aumentar as áreas verdes em pontos estratégicos na cidade; “disseminar”
fundos de quintais de áreas públicas, dentre outras. Não podemos dominar a
natureza, mas podemos aprender como conviver com ela e evitar os danos e
tragédias.

 

 

 

Página Inicial

Voltar