Nove anos do rompimento em MarianaProjeto Manuelzão

Nove anos do rompimento em Mariana

05/11/2024

Natureza padece contaminada por metais pesados; injustiças e descaso com as pessoas atingidas se amontoam em uma pilha mais alta que a barragem

Lama na foz do Rio Doce em Linhares, Espírito Santo, nove meses após o rompimento. Foto: Júlia Pontés.

Em uma tarde de 5 de novembro de 2015, tomava palco o maior desastre ambiental da história do Brasil. Do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, a lama liberada pelo rompimento da barragem do Fundão seguiu pela Bacia do Rio Doce até o mar, no litoral do Espírito Santo. Foram 19 pessoas mortas e ao menos 1,4 milhão de pessoas atingidas em mais de 40 cidades mineiras e capixabas e em quatro terras indígenas.

As responsáveis pela tragédia-crime são as mineradoras Samarco e suas controladoras Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.

Os 44,5 milhões de m³ de rejeito contaminaram 675 quilômetros da Bacia do Doce, deixando 11 toneladas de peixes mortos apenas nos primeiros dias. Até hoje as empresas retiraram apenas 2,5% do total da lama que repousa no Rio Doce e no fundo do mar e que desencadeou uma contaminação dramática da fauna aquática, começando pelos bentônicos e hoje já chegada às baleias, no topo da cadeia.

Na foz do Doce, onde a pesca ainda é proibida, espécimes apresentaram concentrações aterradoras de Elementos Potencialmente Tóxicos (EPTs): mil vezes superior para cádmio (Cd), 5.566 vezes para cromo (Cr), 534 vezes para cobre (Cu), 3.074 vezes para ferro (Fe), 1.102 vezes para manganês (Mn) e 300 vezes para chumbo (Pb).

Estudos contratados pelo Ministério Público Federal (MPF) apontam que a remoção do rejeito do fundo do rio por processos naturais levará cerca de 160 anos. Chegando ao mar esse material, o prognóstico é de catástrofe.

À época dos sete anos do rompimento, publicamos na Revista Manuelzão 92 a reportagem “Sete Anos do Crime que Durará Um Século”, analisando os relatórios do Instituto Lactec, contratado pelo MPF para avaliar os impactos ambientais do rompimento, o diagnóstico mais abrangente que se tem até então. Leia a íntegra nas páginas 16, 17 e 18.

Se a natureza foi deixada à própria sorte, para as pessoas o tratamento não foi muito diferente. Injustiças e descaso se amontoaram em uma pilha mais alta que a barragem. Nem mesmo aqueles que perderam suas casas no rastro da lama foram definitivamente realocados, muitas pessoas morreram antes de receber as chaves dos imóveis.

Milhares ainda lutam por reconhecimento e uma reparação justa. O julgamento da BHP Billiton no Reino Unido é uma ponta de esperança de mitigar o desamparo geral.

Foi esse julgamento que levou as mineradoras a correrem para fechar o acordo de repactuação para a reparação do desastre-crime no Brasil. Novamente, o acordo privilegiou as empresas, e a voz das pessoas atingidas passou ao largo.

Foram indiciadas 22 pessoas, as três mineradoras e a consultoria VogBR, que atestou falsamente a segurança da estrutura que se rompeu, pelos 19 homicídios. Essas acusações foram engavetadas e, hoje, apenas sete pessoas e as quatro empresas são rés por crimes ambientais.

Até o momento, ninguém foi responsabilizado criminalmente. A luta por justiça e reparação segue.

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