Novo núcleo a vista

21/12/2012

Projeto Manuelzão inicia parceria com a comunidade da região do Córrego Capão

Em breve a Bacia do Ribeirão do Onça poderá abrigar um novo núcleo. O projeto é fruto da parceria entre o Projeto Manuelzão, a comunidade e escolas da região do Córrego Capão, que passa pelos bairros Céu Azul e Venda Nova, em Belo Horizonte. As pesquisadoras do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História da Faculdade de Educação e do Centro Pedagógico da UFMG, Dilma Scaldaferri, Roseli Correia e Kelly Amaral iniciaram um trabalho socioeducativo com alunos da rede municipal de ensino e agora pretendem expandi-lo para a população. A valorização do Córrego é o primeiro de muitos passos para recuperá-lo do atual estado de degradação.

O cenário é preocupante: além de ser depósito de lixo e esgoto das casas da região, as margens do Córrego estão cobertas por mato e entulho e animais que podem transmitir doenças aos moradores circulam por lá. Em 2000, a comunidade conseguiu recurso do Orçamento Participativo para um projeto de urbanização do Capão, que previa construção de interceptores de esgoto, canalização e implantação de uma avenida. A obra, entretanto, não foi realizada. Houve uma Audiência Pública em 2009 e ficou acordado que seria feita a retirada do esgoto pelo programa Caça-Esgoto da Copasa, levando os efluentes para a ETE Onça. No entanto, muitos moradores preferem que o Córrego seja canalizado. “Para muitos não interessa, é problema da prefeitura, acham que canalizar, colocar asfalto, tá bom, porque tira a visão feia que se tem agora”, explica a professora Roseli Correia.

O Projeto Manuelzão é contra a canalização, pois essa medida ignora as características naturais do curso d’água e pode causar futuras inundações. “O objetivo é a recuperação ambiental do Córrego, retirando o esgoto e recuperando as margens e, possivelmente, a implantação de um projeto paisagístico que torne a área interessante para a comunidade”, explica o coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinicius Polignano.

Primeiros passos

No dia 15 de dezembro as instituições de ensino envolvidas no projeto “As escolas na Bacia: a história do Córrego Capão na cultura local” promoveram um encontro com apresentações relacionadas ao Córrego. Durante o evento, a estagiária do Projeto Manuelzão e estudante de Geografia, Gabriele Santos, falou sobre mobilização social e o funcionamento de um núcleo. Ela explicou que a parceria está apenas no começo: “Nós [do Projeto Manuelzão] já realizamos um trabalho de campo e conhecemos a área. Sábado estivemos em um evento que reforçou o fato de a comunidade ter toda uma questão cultural com o Córrego. A gente percebe que eles têm um sentimento de pertencimento, os alunos das escolas já fizeram trabalhos culturais, como poesias, murais”.

Desde 2004 a professora Roseli faz trabalhos com seus alunos a respeito do Córrego Capão, trabalhando a questão da identidade local e do sentimento de pertencimento. “Para eles não existia rio perto da escola, não reconheciam como córrego. Agora reconhecem, sabem a história do Córrego Capão, que antes era limpo e que é preciso fazer alguma coisa para que volte a ser”, conta. Segundo a professora, antes desse projeto houve outros trabalhos, mas muito pontuais, restritos ao ambiente escolar. A ideia agora é mobilizar toda a comunidade.

De acordo com Roseli, muitos moradores já estão conscientes da situação do Córrego e de que a saída não é a canalização, mas a revitalização. Porém, mobilizá-los para realizar alguma ação efetiva não é fácil. “As pessoas procuravam as reuniões quando era para discutir quem vai ser realocado ou indenizado [para a retirada do esgoto], eram lotadas. Mas, para revitalizar, é difícil encontrar adesão. As pessoas vão, principalmente, levadas pelos filhos. Todos que estavam lá na reunião do dia 15 eram as mães e os pais dos alunos que participaram do projeto da escola”, afirma. Segundo ela, a parceria com o Projeto Manuelzão será um grande acréscimo pois trará notoriedade, o que pode ajudar na mobilização da comunidade em prol da revitalização do Córrego.

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