O Velho Chico e sua agonia

13/10/2014

Recursos federais para revitalização do Rio São Francisco caem 70%. Em uma série especial, o jornal Estado de Minas, mostra que investimento em preservação encolheu, enquanto verba para retirar recursos hídricos da bacia cresceu 47%.

 As erosões
que por anos escavaram pastagens nas barrancas do Rio São Francisco, despejando
terra, raízes, galhos e árvores inteiras no leito, formaram um dique nos
pilares da ponte que corta Iguatama, a primeira cidade por onde passa o curso
d’água, no Centro-Oeste de Minas. Por causa da seca, pescadores viram quando
essa represa se formou sobre os bancos de areia e reduziu o Velho Chico, de uma
c alha de 40 metros de largura e quatro metros de profundidade, a um estreito
corredor de 17 metros, tão raso que mal chega a 40 centímetros nas canelas de
quem passa por ele. Mas a estiagem não é a única vilã desta que é considerada a
pior situação do manancial em todos os tempos. Desde 2011, a região deixou de
receber investimentos para ações de preservação, como a conservação de margens,
cercamento de nascentes e recomposição de matas ciliares. Está longe de ser uma
situação isolada: ela se repete ao longo dos 2.700 quilômetros do curso por
cinco estados, já que a União fechou a torneira para a preservação do rio, ao
mesmo tempo em que aumentou os investimentos para retirar água da bacia, com as
obras de transposição.


 
Usando a metodologia dos auditores do Tribunal de
Contas da União, que avaliaram as 41 ações do Programa de Revitalização do Rio
São Francisco entre 2004 e 2011, a reportagem do Estado de Minas constatou que
os investimentos da União em revitalização encolheram 68,4% nos últimos três
anos – de R$ 363 milhões, em 2012, para R$ 115 milhões neste ano, segundo dados
da Controladoria-Geral da União. Do total de ações que compõem o programa, 25
simplesmente deixaram de ser aplicadas. Enquanto isso, os investimentos para a
transposição das águas do Velho Chico para canais no semiárido nordestino
aumentaram 47% desde 2012, saltando de R$ 703 milhões para R$ 1,035 bilhão no
mesmo período.

“Em 2006, o presidente Lula garantiu que, para cada real gasto na transposição
do Rio São Francisco, um real seria investido em revitalização. Só que esse
nível de investimentos nunca ocorreu. A situação do rio só piorou”, considera o
presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo
Miranda. Hoje, a entidade destaca que o curso d’água principal e seus afluentes
enfrentam a “mais grave crise de todos os tempos”.

Coordenador do Programa de Revitalização, o Ministério do Meio Ambiente admite
a seca em várias ações de conservação e melhoria da qualidade das águas do
Velho Chico, que agora passam por reavaliação técnica. Contudo, enquanto os
recursos para aumentar a quantidade e a qualidade de água da bacia hidrográfica
somaram R$ 760 milhões desde 2012 e agora estão paralisados, o aporte para as
obras de transposição alcançou R$ 2,7 bilhões no triênio, e chegará a R$ 8,2
bilhões em dezembro de 2015, quando a obra deve iniciar a operação de
bombeamento de água.

Matéria
publicada pelo Jornal Estado de Minas –  Repórter: Mateus Parreiras
Publicação: 12/10/2014
06:00 Atualização: 12/10/2014 10:31

A matéria pode ser acessada no site: www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/10/12/interna_gerais,578838/recursos-federais-para-revitalizacao-do-rio-sao-francisco-caem-70.shtml


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