06/06/2025
Presença do jovem animal, que agora é monitorado, indica qualidade do ecossistema na unidade de conservação
Uma jovem onça-parda (Puma concolor), saudável e arisca, foi capturada no último dia 28, na região da Mutuquinha, próximo ao Viaduto da Mutuca, dentro do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na Grande Belo Horizonte. A operação, conduzida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) com apoio da empresa Prime Ambiental, teve como objetivo instalar uma coleira de monitoramento no animal, que foi devolvido ao seu habitat natural no mesmo dia.
Batizada de Caetano em homenagem ao neto recém-nascido do biólogo Joaquim de Araújo Silva, o Quincas, responsável técnico pela ação, a onça agora integra um importante programa de monitoramento de mamíferos carnívoros no vetor sul da capital mineira. Com a tecnologia, é possível observar a movimentação de Caetano e zelar pela segurança do espécime.
trata-se de um animal jovem, com cerca de dois anos de idade, saudável, já independente da mãe e em plena condição física. “Ele foi capturado na mesma semana do nascimento do meu neto. Resolvemos dar esse nome como uma forma de afeto e também de criar mais conexão entre a cidade e a fauna silvestre que ainda resiste por aqui”, contou Quincas.
Segundo o biólogo, trata-se de um animal jovem, com cerca de 2 anos de idade, saudável, já independente da mãe e em plena condição física. “Dentes, garras, pelagem: tudo em ótimo estado. É um indivíduo no início de sua jornada solitária”, explica.
A captura de Caetano é considerada um marco: trata-se do primeiro registro de uma onça-parda capturada e monitorada em uma área tão próxima do meio urbano da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Para o especialista, isso ressalta a importância ecológica do local:
“A presença de um predador de topo de cadeia como esse é um forte indicativo de que o ecossistema ainda está funcionando. A onça é o que chamamos de espécie guarda-chuva, sua presença ajuda a proteger todo um conjunto de outras espécies e ecossistemas.”
Além de Caetano, o programa de monitoramento já acompanha outros carnívoros na região, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a jaguatirica (Leopardus pardalis) e o gato-do-mato (Leopardus guttulus). Esses animais atuam como indicadores de saúde ambiental e ajudam os pesquisadores a entender como a fauna silvestre resiste em áreas sob pressão da urbanização e da mineração.
De acordo com Quincas, “encontrar um animal jovem em boas condições também indica a existência de um casal reprodutivo por perto. Isso nos diz que há uma população ativa de onças na região”. A pesquisa faz parte das condicionantes ambientais impostas pelo Ibama à mineradora Vallourec, cujas atividades afetam diretamente a biodiversidade local. O programa é realizado em parceria com o Centro de Ecologia Aplicada da Prime Ambiental e mapeia a movimentação desses animais nas paisagens fragmentadas do bioma Mata Atlântica.
“Nossa ideia é enxergar a paisagem com os olhos dos animais. A gente espera que seja cada vez mais raro esse encontro, mas é, de alguma maneira, também um outro lado natural da gente registrar a presença desses animais nessas regiões, sobretudo nessa porção sul de Belo Horizonte”, explica o biólogo.
Inaugurado em 1994, o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça ocupa 4.015 hectares entre Brumadinho, Belo Horizonte, Nova Lima e Ibirité. É uma unidade de conservação de proteção integral, reconhecida como um dos principais espaços de lazer e contato com a natureza na Grande BH.
O parque abriga diversas nascentes e seis mananciais que ajudam a abastecer a capital e cidades vizinhas. A Serra do Rola-Moça, visível de vários pontos da cidade, é uma continuidade da Serra do Curral, protegida como patrimônio natural, histórico, artístico e paisagístico.
A região do Mutuquinha, onde Caetano foi localizado, está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Sul, que reúne unidades de conservação de proteção integral, como o próprio Parque Estadual da Serra do Rola-Moça e a Estação Ecológica de Fechos. A paisagem é marcada pela diversidade de ecossistemas (campos rupestres, cerrado, fragmentos de Mata Atlântica) e por corredores ecológicos ainda preservados, apesar das pressões urbanas.
O coletivo Rola-Moça Resiste, que atua na defesa da Serra e combate à mineração predatória e à especulação imobiliária na região, destacou o simbolismo da presença da onça. “A vida resiste aqui. Caetano não é só uma onça, é um chamado à consciência. Que ele inspire mais amor, mais proteção e mais luta pela Serra do Rola-Moça”.