Os filósofos morreram?

13/01/2011

Artigo escrito pelo Engenheiro Geólogo, Edézio Teixeira de Carvalho

Geocentelha 321

Geólogo, busco enquadramento
lógico na atuação profissional e referências fora da minha área porque a lógica
é uma só em todos os domínios científicos — suas vestimentas é que mudam. Com alguma
experiência acumulada, faço leituras críticas de temas recorrentes sobre a
água. Repito 2 linhas de argumentos: A primeira diz que 70% da superfície da terra
é água (oceanos, salgados). Descartando, além da água salgada, a das calotas
polares e a subterrânea de difícil acesso, teria a humanidade acesso apenas a
cerca de 0,001% da água planetária. Fica parecendo que o planeta foi mal
projetado, com muita água inútil e pouca utilizável. Dois equívocos num só,
primeiro porque a água oceânica nada tem de inútil, sendo a mais abundante
reserva de água doce existente, contaminada por sal, que fica todo para trás na
evaporação, a ponto de poder o paulistano beber hoje a água que evaporou ontem
ao largo do litoral de Santos, e que, voltando ao mar (segundo equívoco)
poderia tornar várias vezes ao ano à mesma função. A segunda afirmativa é a que
associa a produtos a quantidade de água que sua produção consome. Na realidade
a água atravessa o processo de produção do boi, da galinha e do repolho. Então,
sejamos claros: o que é consumido é o processo de colocação da água à
disposição de cada uso.

Então lembro-me do mito da
caverna, alegoria imaginada por Platão em conseqüência da condenação à morte, por
dizer a verdade, de seu mestre Sócrates: Lá, fora da caverna, à luz do dia, a
realidade mostra que não existem monstros, pois em verdade o que assim parece
são sombras dos próprios cavernícolas projetadas nas paredes da gruta pela
fogueira acesa.

Então nem temos à disposição
apenas 0,001% da água da terra, nem consumimos de fato uma gota d’água  na produção de qualquer coisa. Toda aquela
gigantesca quantidade de água está à nossa disposição todo dia, e ela, na
condição de residuária, de um modo ou outro, poderá voltar a uso útil em sua
odisséia de volta ao mar, passando pela elaboração em série de vários produtos
(reúso).

A insuficiência lógica daquelas
afirmações está em não perceberem onde está o verdadeiro problema que de fato
existe: a dependência total das águas pluviais da existência de quantidade de
solo suficiente para abrigá-las numa estada idealmente prolongada sobre a
terra. Essa quantidade de solos está em franca redução desde a revolução
agrícola, por questão de lógica extremamente simples: Desmatando
indiscriminadamente, e permitindo a erosão do solo, teremos sempre menor
eficiência na infiltração da água no solo desmatado, e teremos sempre menos
solo para receber a água, porque o ciclo da água que pede abrigo é anual,
enquanto o tempo de reposição do solo perdido é milhares de vezes mais
prolongado. Então a lógica nos diz que antes de faltar água, falta solo para
recebê-la. Os filósofos citados estão vivíssimos e há um em cada ser humano que
resolva pensar.

edeziotc@gmail.com

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