20/04/2022
O diagnóstico do ecossistema irá envolver diversas áreas de conhecimento e é o passo inicial para a revitalização da lagoa
Em estudo inédito, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) irá elaborar um diagnóstico multissetorial da Lagoa Santo Antônio, em Pedro Leopoldo, a 46 quilômetros da capital. Uma equipe multidisciplinar composta por doze pesquisadores, incluindo professores e estudantes de graduação e doutorado, irá se aprofundar na realidade da lagoa, que é localizada na mesma região onde foi encontrado o crânio de Luzia, fóssil mais antigo encontrado na América.
A Lagoa de Santo Antônio se encontra dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa. Sua revitalização é uma antiga reivindicação dos moradores de Pedro Leopoldo, e finalmente teve início em 2021. A APA Carste de Lagoa Santa e o Sítio Arqueológico Lapa Vermelha são considerados Geossítio de Relevância Internacional pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos, e foram instituídos com a intenção de proteção e conservação de suas cavernas e sítios arqueológicos, englobando toda a sua biodiversidade.
Um estudo deste nível, envolvendo diversas áreas do conhecimento, nunca havia sido realizado em uma região com este tipo de relevo. A partir da assinatura do contrato nesta quarta-feira, 20, a previsão é que o diagnóstico fique pronto em um ano e seis meses.
O diagnóstico realizado pela UFMG é a primeira etapa do projeto de revitalização da lagoa, executado por diretrizes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o ICMBio e a Copasa e proposto pelo Ministério Público Federal. O diagnóstico também faz parte do projeto de extensão da UFMG pela Fundação Christiano Ottoni (FCO). A partir destes estudos, os resultados se tornarão uma referência para outras lagoas na mesma região.
As pesquisas terão início com o Departamento de Cartografia, responsável pela avaliação da topografia da região. A partir dessa base, outros pesquisadores irão avaliar a lagoa também em ações relacionadas aos seus recursos hídricos, envolvendo a qualidade da água e sua relevância para a região.
Além da questão hídrica, serão estudadas as áreas da botânica, fauna e flora, e como a pressão urbana impacta o ambiente. Também serão analisados o subsolo da lagoa e o estado de assoreamento de possíveis aquíferos subterrâneos.
O programa de revitalização da Lagoa Santo Antônio vai passar por três etapas: diagnóstico – realizado pela UFMG –, conceitual e a etapa de execução das ações.
A articulação para a revitalização da lagoa acontece entre a ONG Movimento Lagoa Viva, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, Copasa e Frente Socioambiental de Pedro Leopoldo.
A Lagoa Santo Antônio é um ambiente cárstico de fundo de dolina – uma depressão circular, composta por estruturas naturais subterrâneas com ecossistemas peculiares, sem presença de luz e de vegetações – localizado na APA Carste, a menos de 5 quilômetros do Parque Estadual do Sumidouro. Possui uma grande variação de volume hídrico, apresentando momentos de seca e inundações em diferentes períodos do ano.
Uma de suas características mais marcantes é o alto risco de contaminação. Por estar situada em fundo de dolina, uma grande quantidade de lixo e material tóxico carregado pelas chuvas acaba sendo depositada dentro da lagoa.
A região possui um longo histórico de degradação pela mineração em seu entorno, além da construção de uma estrada que corta a área no meio, histórico de contaminação e barramento de seu sumidouro.
Em sua proposta, o Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFMG define a Lagoa Santo Antônio como um local de referência a ser reconhecido mundialmente para estudos arqueológicos e fossilíferos.