Por uma boa causa

26/03/2012

No Dia da Água, Movimento Águas do Gandarela reforçou a luta pela preservação da Serra

Na última quinta, 22 de março, comemorou-se o
Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas há dez anos
para criar um momento de reflexão e discussão sobre os temas relacionados à
água. E o Movimento de Preservação da Serra do Gandarela (Águas do Gandarela)
não deixou a data passar em branco: foi realizado um manifesto de proteção e
sensibilização na Praça Sete de Setembro, em Belo Horizonte. Segundo a integrante do
Movimento, Maria Tereza Corujo, a Teca, o objetivo era mobilizar as pessoas
pela preservação da Serra. “Escolhemos o Dia da Água pela importância que a
Serra do Gandarela tem na questão dos recursos hídricos, não só nos municípios
onde a Serra está quanto para o abastecimento futuro de Belo Horizonte.
Atualmente, as águas que descem do Gandarela já colaboram com a qualidade do
Rio das Velhas”, diz.

O evento aconteceu das 9h às 16h e teve a
distribuição de informativos sobre o Dia Mundial da Água e a coleta de
assinaturas para um abaixo-assinado em favor da criação do Parque Nacional da
Serra do Gandarela. Segundo outro integrante do Movimento, Saulo Albuquerque,
585 pessoas assinaram o documento e a participação foi muito satisfatória. Teca
conta que o evento atendeu totalmente ao que foi planejado. “O momento de maior
movimento de pessoas participando foi entre 12h e 14h30 , quando aconteceu a
pintura dos rostos de azul e vermelho [o azul simbolizava a água e o vermelho a
mineração]”, fala.


Movimento Águas do Gandarela comemorou o Dia Mundial da Água na Praça Sete de Setembro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais do que importante

Unindo as bacias
hidrográficas do São Francisco e do Rio Doce, o Gandarela forma um corredor
ecológico natural com a Serra do Caraça. A Serra do Gandarela abrange os municípios
de Barão de Cocais, Caeté, Itabirito, Raposos, Rio Acima e Santa Bárbara, na
Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Ela possui grande importância
ambiental: além de contribuir para o abastecimento de água da RMBH, a Serra é
rica em biodiversidade. Lá está a maior e mais preservada área de Mata
Atlântica de toda a região. O local guarda também uma das maiores
geodiversidades do Quadrilátero Ferrífero: mais de 50 cavernas e um sítio
Paleontológico de grande importância já foram cadastrados.

Atualmente, existem duas grandes propostas para o
destino da região. A primeira, baseada em estudos feitos pela Universidade
Federal de Minas Gerais, pela Universidade Federal de Ouro Preto e pelo Estado,
propõe a preservação da Serra por meio da criação do Parque Nacional do
Gandarela. A segunda propõe que a companhia de mineração Vale implante na
região a Mina Apolo, um projeto de extração de minério de ferro na Serra do
Gandarela.

Após muitas discussões, o governo estadual criou os
chamados GTs, grupos de trabalho que reuniram setores da mineração, do governo
estadual, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e
dos movimentos sociais – dos quais o Manuelzão participou – para discutir a
criação de áreas de preservação na região do Gandarela. Esse debate aconteceu entre
setembro de 2011 e janeiro de 2012. “A gente viu que vários empreendimentos
tentaram compatibilizar os seus projetos com o Parque. Infelizmente, uma única
mineradora não procurou avançar nesse processo de discussão: a Vale”, conta o
coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano. “A falta de
diálogo por parte da mineração inviabilizou em grande parte esse processo de
avanço na construção do Parque”.

Tirando o corpo fora

Diante desse impasse, o governo do Estado, recentemente, resolveu não
assumir uma posição e passou a decisão sobre o Parque para a responsabilidade
da esfera federal. Como o ICM Bio, órgão do Ministério do Meio Ambiente ,
havia feito a proposta do Parque, todo o processo vai ser conduzido agora pelo
Ministério do Meio Ambiente, que deve realizar consultas públicas nos
municípios do entorno da Serra. Para o coordenador do Manuelzão, o Estado não
deveria se afastar da discussão e nem se tornar omisso a ela, uma vez que se
trata do destino de uma região importante dentro do contexto regional.

“A União não tem a mesma proximidade com a questão. O que vai ser
decidido diz respeito a uma região estratégica para todas as comunidades do
entorno, para a Região Metropolitana e para a Bacia do Velhas”, pondera. Por
isso, o Projeto “estranha” esse afastamento do Estado, que inclusive foi quem
criou os GTs. “Diante de um impasse, ele se omitiu quando na verdade deveria
continuar trabalhando no sentido de avançar na questão do Parque”, diz
Polignano. Em breve, o ICMBio vai divulgar o calendário de realização das
consultas públicas sobre o Parque, que devem acontecer no mês de maio.

 

 

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