22/05/2023
Carona de Miami a Belo Horizonte, exposta por reportagem da Revista Piauí, abriu dúvidas sobre relação de Jarbas Soares Júnior com setor minerário
Um grupo de procuradores de Justiça e promotores do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pede a apuração de condutas do atual procurador-geral de Justiça Jarbas Soares Júnior, chefe da instituição. Uma reportagem da Revista Piauí aponta que o procurador-geral teria pegado uma “carona” com o empresário Lucas Kallas, condenado por tráfico de influência, e que possui projetos aprovados no MPMG, inclusive com a assinatura de Jarbas.
A representação é endereçada ao corregedor-geral do MPMG e requer a abertura de procedimento de apuração sobre a conduta de Jarbas Soares. Os promotores e procuradores solicitam o esclarecimento dos detalhes da viagem internacional e a natureza de acordos firmados com o Grupo Cedro, de propriedade de Lucas Kallas.
“O certo é que, em razão da dimensão do cargo que ocupa, o procurador-geral de Justiça não pode receber dóceis regalias de nenhuma pessoa, tornando-se ainda mais grave quando o mimoseio provém de um empresário que ostenta antecedentes exatamente por tráfico de influência”, argumenta o documento.
O pedido de apuração do caso é assinado pelos procuradores de Justiça Antônio Sérgio Tonet, que chefiou o MPMG de 2016 a 2020, Antônio de Padova Marchi Júnior, Marcos Tofani Baer Bahia, Gilvan Alves Franco, Edson Ribeiro Baeta e Heleno Rosa Portes, e pelos promotores Carlos Henrique Torres de Souza, Kátia Suzane Lima e João Medeiros Silva Neto.
As suspeitas sobre as relações entre o procurador-geral de Justiça e o empresário Lucas Kallas começaram após uma reportagem veiculada pela Revista Piauí. Jarbas e a esposa, Cristiana Nepomuceno de Sousa Soares, teriam viajado para os Estados Unidos para uma visita oficial ao Ministério Público da Flórida, em 20 de julho de 2022.
A viagem oficial teria durado até 24 de julho, mas o casal permaneceu em Miami e só retornou a Belo Horizonte em 30 de julho, no jatinho particular de Lucas Kallas, de quem Jarbas afirmou ser amigo, ainda segundo a Piauí.
Para os promotores e procuradores que assinam a representação, a solicitação ou aceitação de uma “carona” configura uma vantagem de natureza econômica e vai contra as disposições legais e regulamentares do Ministério Público mineiro.
Com a amizade de “longa data”, segundo a assessoria do empresário à Piauí, vindo a público, acordos entre empresas de Lucas Kallas e o MPMG entram em suspeição. O Grupo Cedro teria firmado diversos instrumentos negociais com o Ministério Público de Minas, entre eles, um “Termo de Adesão” aos projetos “Caminhos” e “Cidadania em Rede”, em 21 de setembro de 2021, com a participação de Jarbas.
Outro acordo teria sido firmado em 28 de outubro de 2021, segundo apontou a representação.
A requisição entregue ao corregedor-geral do MPMG questiona, ainda, a participação de Cristiana Nepomuceno de Sousa Soares, esposa de Jarbas, em reuniões do Centro de Autocomposição de Conflitos e Segurança Jurídica (Compor) da instituição, presidido pelo procurador-geral de Justiça.
“A dra. Cristiana Nepomuceno de Sousa Soares participou de outras reuniões no mencionado órgão, não estando claro de quais compromissos tratou”, afirmou o documento.