Repeteco

03/12/2010

Enchentes indicam que a gestão das águas na capital mineira deve ser repensada

Fim de ano lembra Natal, que lembra Papai Noel, que lembra presente, certo? O que muitos não esquecem nos finais de ano de Belo Horizonte tem haver com o céu, mas não vem de trenó. Todo ano enchentes alagam trechos da cidade trazendo muita confusão. Na virada de 2008 para 2009, o Ribeirão Arrudas transbordou e alagou parte da Avenida Tereza Cristina. Agora, em 2010, foi a vez do Córrego do Onça, que na madrugada do dia 22 para o dia 23 de novembro invadiu a Avenida Cristiano Machado e trouxe dor de cabeça para que mora nos bairros da região da Pampulha, Norte e Nordeste de Belo Horizonte. 


Em 2003, a enchente no Ribeirão Arrudas causou prejuízos para quem morava às suas margens. (Foto: Acervo Manuelzão)

Moradora do bairro Suzana, na região da Pampulha, Danielle Anatólio, conta que sua família está na região desde a década de 40 e que, apesar de enchentes no local serem comuns, essa foi a mais forte. Segundo boletim da Defesa Civil, choveu o esperado para 15 dias do mês na capital. Danielle mora em frente ao córrego do Onça, na Avenida Cristiano Machado e conta que todas as casas do bairro foram atingidas, com exceção das que ficam na Rua Piracema. Além de roupas, móveis e alimentos, muitos perderam dias no trabalho para retirar o barro das casas. “O que deve acontecer é a solução do problema na raiz, ou seja, tratar o córrego do Onça e a Lagoa da maneira correta”, defende Danielle. A água liberada pelo vertedouro da Lagoa segue para o Ribeirão Pampulha e depois para o Córrego do Onça, que passa pelos bairros que foram inundados.

Para o engenheiro civil e presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas, Rogério Sepúlveda, a Pampulha pode ter reduzido os impactos dessa enchente. Segundo ele, se a água armazenada na Lagoa durante a chuva tivesse escoado de uma só vez, a velocidade e a força que ela ganharia poderia ter causado estragos maiores dos que aconteceram. Rogério observa que é difícil afirmar que as obras da Linha Verde tenham influência na enchente. Ele acredita que essas inundações são a combinação de fatores como a chuva excepcional, alto grau de impermeabilização do solo e a obstrução do canal do Rio por lixo ou entulho. Tudo isso mostra o quanto a gestão das águas precisa ser repensada na cidade.

Segundo a assessoria da Prefeitura, o prefeito Márcio Lacerda solicitou projetos de obras no Córrego Cachoeirinha e Ribeirão Pampulha, mas ainda não há ações definidas para o Onça.

Rogério afirma que obras de canalização criam a ilusão de segurança, mas que em eventos de chuvas excepcionais elas são insuficientes para deter a cheia dos rios. “Todo rio inunda, só que o rio em área urbana inunda muito mais porque a água não infiltra”, pontua. Segundo ele, o grau de impermeabilização em BH é tão alto que não é possível acabar com o problema das enchentes. Há, no entanto, ações que ajudam a minimizar suas ocorrências como mais áreas permeáveis em cada lote, obrigatoriedade de sistemas de armazenamento da água da chuva para empreendimentos e construção de bacias de detenção. Para o Córrego do Onça, ele aponta que podem ser criados mecanismos que diminuam a velocidade das águas e que protejam as margens.

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