Rio das Velhas está sendo contaminado por possível vazamento de rejeitos - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

Rio das Velhas está sendo contaminado por possível vazamento de rejeitos

30/03/2023

Mortandade de peixes, água extremamente turva e lama brilhante depositada nas margens do Rio das Velhas estão sendo observadas desde 21 de março

Quem olha para as águas do Velhas depois da cidade de Rio Acima, ainda na região do Alto Rio das Velhas, imagina estar diante do Rio Doce ou do Paraopeba após os rompimentos das barragens de Fundão e Córrego do Feijão, em 2015 e 2019. Mas não: esse observador está em março de 2023, anos após os desastres-crimes das mineradoras Samarco e Vale, novamente atônito com o soterramento das águas e da vida marinha de Minas Gerais.

A partir de denúncias de moradores de Honório Bicalho, em Nova Lima, a TV Record produziu uma reportagem em 21 de março sobre a mortandade de peixes no distrito, que segundo os relatos começou semanas antes. Desde então, constatou-se que o Rio das Velhas tem sido o depósito do vazamento de um material que rapidamente o deixou com a aparência de um rio de lama. As primeiras avaliações indicam que a origem da contaminação está no Córrego Fazenda Velha, que deságua no Velhas em Rio Acima, pouco abaixo da divisa com Itabirito.

Há indícios de que o material seja proveniente de barragens de rejeito de mineração.

Aspecto do Velhas em Honório Bicalho, em Nova Lima, onde está estação da Copasa que abastece RMBH. Foto: Romero Bicalho.

O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas) informou que está em contato com as prefeituras de Itabirito, Nova Lima, Rio Acima e Ouro Preto, que acompanham o caso, e que Copasa e Polícia Ambiental realizaram varreduras nos dias 23 e 24, não encontrando anomalias. O CBH Velhas também oficiou o Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) na manhã desta terça-feira, 28, solicitando “a devida fiscalização”.

No último sábado, 25, o ambientalista Rafael Bernardes, profundo conhecedor da região e um dos três canoeiros da lendária expedição Manuelzão Desce o Rio das Velhas, publicou um vídeo no encontro do Córrego Fazenda Velha com o Rio das Velhas, indicando o nítido tom terroso das águas do córrego. Ele pergunta: “de onde vem este barro sem chuva?”

A partir do vídeo, o ambientalista e atual assessor da deputada estadual Duda Salabert (PDT), Gustavo Gazzinelli, verificou pelo programa de imagens via satélite Google Earth a existência de ao menos quatro barragens e um dique da barragem de Vargem Grande, da Vale, na área da cabeceira do Córrego Fazenda Velha. Ele informou a situação ao Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público do Trabalho, à Defesa Civil do estado, à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) e à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), na segunda-feira, 27.

As barragens indicadas por Gazzinelli pertencem à antiga Namisa, hoje Minérios S/A (pertencente à Companhia Siderúrgica Nacional [CSN] e a um consórcio asiático, com o complexo Fernandinho). São elas: B1, Auxiliar, Ecológica 1 e Ecológica 2. Por sua vez, a barragem do complexo Vargem Grande, da Vale, está na bacia do Rio do Peixe, mas seu dique de sela — estrutura de auxílio à barragem para proteção contra cheias — está sobre a cumeeira que divide a sub-bacia do Rio do Peixe e a micro-bacia do Córrego Fazenda Velha.

“Por enquanto não se pode imputar a qual delas — Vale ou Namisa — a produção dessa lama de cor intensa. Se está vazando desta ou daquela barragem (certamente não provém da natureza). Para isso existe a fiscalização. Hoje sabemos que andamos bem a pé neste quesito – pois ninguém mais confia nos órgãos fiscalizadores, muito menos em mineradoras”, escreveu Gazzinelli em uma publicação, lembrando também que como a Namisa atualmente não opera na área, “todas as jazidas em exploração são operações da Vale”.

O ambientalista demanda fiscalização imediata, transparente e em tempo real. Marcus Vinicius Polignano, coordenador do Manuelzão e também secretário do CBH Velhas, disse ao site do Cômite: “Estamos tentando identificar a causa. Temos certeza de que foi algum tipo de estrutura que provocou esse derramamento para dentro do rio. Há muitas empresas de mineração na região, mas quem faz nunca aparece, ainda relutam em assumir responsabilidades, o que é nefasto para todo mundo”.

Mapa do Córrego Fazenda Velha e estruturas minerárias próximas; a micro-bacia é delimitada pela linha verde. Imagem: Gustavo Gazzinelli.

Enquanto entes e órgãos responsáveis começam a agir, um desastre vai tomando forma no Rio das Velhas. Outro em meio a tantos.

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