Rompimento da barragem de Fundão faz três anos

12/11/2018

A história do maior desastre ambiental de todos os tempos segue seu curso sob o pano de fundo de lutas, impunidades e esperança

Na última segunda-feira, dia 5 de novembro, completaram-se três anos o trágico rompimento de Fundão, barragem operada pela Samarco (Vale e BHP Billiton), no município de Mariana. O “acidente” provocou a liberação de cerca de 50 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos no ambiente. A onda, chamada por alguns de “tsunami”, chegou a 10 metros de altura e destruiu tudo que encontrou pela frente, inclusive 19 pessoas, que morreram em meio à lama de rejeito de minério de ferro. A primeira comunidade atingida foi Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, onde morava cerca de 600 pessoas.

A lama poluiu a bacia do rio Doce e o mar de Espírito Santo, provocou a morte de toneladas de peixes, deixou pescadores e agricultores sem o alimento e o sustento e indígenas, tiveram também suas referências culturais violadas. As alterações na qualidade da água impediram o uso para o abastecimento nas cidades ribeirinhas, que ficaram em situação de calamidade pública, sem água pra beber. Em 10 dias, a lama percorreu cerca de 550 quilômetros, chegou ao Oceano Atlântico e formou uma grande mancha marrom que se espalhou por cerca de 20 quilômetros mar adentro e 40 quilômetros rumo norte.

Mais um ano desta história, e a vida daqueles que sofreram diretamente as consequências do “mar de lama” continua sem norte.  Nesse tempo, os atingidos tentam sobreviver e lutam para conseguir reconhecimento e ressarcimento pelos muitos danos sofridos em decorrência da negligência, do descaso e da injustiça por parte das empresas responsáveis e pelo poder público. Os danos às comunidades afetadas são imensuráveis, – perda de vida, doenças psiquiátricas, impactos socioambientais, rupturas culturais.  Para Simone Silva, que se apresenta como atingida pelo crime da Samarco, Vale, BHP, Renova, “não tem sido fácil enfrentar esses gigantes. São três anos de lama e de luta, três anos de silenciamento por parte de quem deveria nos ajudar. Todos os dias a gente é injustiçado, criminalizado, e por isso somos obrigados a resistir. Vamos continuar em luta, resistindo pra poder existir”.  Em sua apresentação, Simone, moradora de Gesteira, comunidade também afetada, conta que desde de criança ouvia o avô contar a história do monstro “lá de cima” e que poderia estourar e destruir a comunidade. “Mal sabia o meu avô que 13 anos depois de sua morte a profecia iria se cumprir. O monstro rompeu, matou pessoas e continua matando”, disse a atingida, em referência ao aumento de casos de depressão, suicídio e tentativas. “Em Gesteira, cinco pessoas tinham problemas mentais antes da barragem romper e, atualmente, são mais de 60”, conta Simone em apresentação no Seminário “Balanço de 3 anos do rompimento da barragem de Fundão”, no qual atingidos, acadêmicos, militantes e religiosos se reuniram no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, no dia 6, para discutir o andamento das resoluções por parte das empresas envolvidas e pela justiça. O evento, organizado pela Rede de Pesquisa Rio Doce e pelo Ocmal – Observatorio de Conflictos Mineros de America Latina, fez parte da programação realizada entre os dias 5 a 8, em Mariana, Ouro Preto e Casa Branca.

No dia 5, uma comissão internacional de 50 representantes de organizações de treze países e participantes de dez estados brasileiros fizeram uma visita a Bento Rodrigues, guiado pelo morador de Bento, Manuel Marcos Muniz, e sua sobrinha, Lucimar Muniz, representante dos atingidos. A caminho de lá, o grupo pôde observar, da estrada, o local onde será construída a nova comunidade, ao lado de um aterro sanitário, cercado por plantações de eucaliptos. Em Bento, a delegação caminhou pelos escombros, fotografou, se emocionou. Em frente ao local onde antes era sua casa, Marquinhos, como é chamado, conta, com a voz embargada, como era sua vida, desde os 6 anos de idade, “no Bento”. “Perdemos muito!  Perdemos história, convívio familiar, lembranças, ficou tudo perdido, muito triste ter acabado assim.” Paralelamente, em Mariana, houve um ato na praça da cidade e uma missa, em homenagem aos mortos. A programação seguiu com o Abraço dos Povos e Águas da América Latina, na manhã do dia 7, no mirante da Serra do Rola Moça, em Casa Branca. Na quinta-feira, dia 8, roda de mulheres, noite cultural e um banquete agroecológico também compuseram o ciclo de atividades.

Também foi realizado, durante a semana, o encontro de mulheres e crianças atingidas pela barragem do Fundão nos dias 04 e 05 de novembro, em Mariana, que marcou o início das atividades da Marcha “Lama no Rio Doce – 3 Anos de Injustiça”. Organizada pelo MAB, a marcha irá percorrer o trajeto da lama de rejeitos, partindo de Mariana rumo a Vitória/ES. Vão ser aproximadamente 650 km de marcha, que passará por 14 municípios, onde serão realizadas manifestações, atos culturais, celebrações religiosas e assembleias, visando denunciar a lentidão da empresa e da Justiça na reparação dos atingidos.

 

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