Seminário de Revitalização de Rios – (Des) Construções

12/05/2010

Assim como as rodovias, às vezes é preciso desconstruir modos de pensar e criar uma nova mentalidade

seminario_coreano
Uma das principais discussões foi como a sociedade civil pode participar da revitalização de rios Foto: Renato Cobucci

Seul é a capital e maior cidade da Coreia do Sul e foi de lá que veio o professor Soo Hong Noh, para falar na tarde de ontem, 11, no Seminário Internacional de Revitalização de Rios. Mas o que tem Seul a ver com o Manuelzão? Ambos têm em comum a revitalização de seus rios. Seul tem um rio chamado Cheoggyecheon, que havia se transformado num esgoto, que foi coberto por concreto nos anos 50. O trecho recebeu uma via elevada de seis pistas e ali passou a circular um trânsito intenso. Hoje, o rio corre limpo e a céu aberto, cercado por um parque. O que aconteceu para tornar isso possível foi um grande projeto de demolição das autopistas e criação do parque, que dá passagem novamente ao leito natural do rio com suas águas já tratadas. O rio foi desenterrado, literalmente. O projeto de recuperação começou em julho de 2003, durou 2 anos e 3 meses e teve resultados muito bons.

A temperatura média na região central da cidade diminuiu, com as correntes de vento que começaram a circular, e o número de espécies vegetais e animais aumentou. E houve também um surpreendente resultado: a remoção das ruas movimentadas não reduziu a velocidade média dos veículos. Aconteceu na Coreia uma explosão de projetos de revitalização de rios após o projeto de Seul, mostrando que um exemplo puxa outros.

Mas, para isso, foi necessário haver uma mudança de mentalidade dos moradores de Seul. A população participou do processo e a vida cultural da cidade foi renovada. “A melhor educação não é na sala de aula. Ter a experiência de contato com os rios, descer até as águas, essa é a melhor forma de educar as pessoas”, esclareceu Noh.

E nós com isso?

Mas uma questão pairou durante a sua apresentação: e com o Ribeirão Arrudas, é possível fazer o mesmo? O professor coreano deu a resposta: “nossa experiência não é única de Seul”. Ele deixou a dica de que o mais importante é a inclusão na agenda pública e que, para se chegar a isso, as figuras públicas como jornalistas, escritores e professores têm que se envolver. “E então os políticos, porque querem votos e é só assim que eles escutam”, finalizou Noh, recebendo aplausos.

Na segunda parte da tarde, o coordenador do Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, apresentou a atuação do Projeto e a experiência do Rio das Velhas, iniciando com a afirmação de que “só um imaginário novo constrói coisas diferentes”. Ele observou que, pela primeira vez na história, as políticas públicas estão sendo avaliadas pela qualidade das águas do rio. Em seguida, José Carlos Carvalho, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, apresentou a visão governamental da experiência mineira. “Temos tecnologia para fazer o que precisa ser feito, mas por que os rios continuam morrendo?”, questionou o secretário. Ele pontuou também a importância da adoção do projeto de revitalização do Rio das Velhas, nascido no seio da sociedade, pelo governo estadual. Polignano concluiu com “o processo de revitalização é irreversível porque é um projeto da sociedade, ou melhor, de uma nova sociedade”.

Página Inicial

Voltar