Seminário de Revitalização de Rios – Entre o discurso e a prática

13/05/2010

Polêmicas e discussões no último dia do Seminário

No começo da manhã de ontem dia 12, o coordenador do Núcleo de Projetos Especiais de Saneamento da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Ricardo Aroeira, apresentou o programa de recuperação ambiental de Belo Horizonte – DRENURBS-, levantou alguns pontos: “nosso grande desafio é atuarmos para, literalmente, sairmos bem na foto” pontuava Ricardo enquanto mostrava uma imagem com lixo jogado nos córregos da cidade.

Ele destacou, ainda, a necessidade de sensibilizar a população: “O primeiro sentimento da população é o de rejeição do córrego, do esgoto a céu aberto que traz doenças. O trabalho de educação ambiental que vem sendo feito atua para mostrar que existem alternativas social e ambientalmente mais adequadas”. A atuação do  Projeto Manuelzão junto à prefeitura nesse projeto também foi mencionada. Apesar dos avanços do DRENURBS, Ricardo Aroeira mostrou que, em se tratando da descanalização do Arrudas, a prefeitura considera a obra inviável frente a “demandas mais importantes”, como o trânsito .

Após a apresentação de Ricardo, o representante da Comissão Internacional para a Proteção do Rio Danúbio, Wolfgang Staltzer, tomou a palavra. Ele mostrou a experiência dos 14 países da bacia do Danúbio que firmaram um contrato para se dedicar à gestão sustentável do Rio. O funcionamento da Comissão – que consegue elaborar um plano de gestão das águas a ser seguido por cada país com suas especificidades locais – mostrou como é possível lidar com um rio de forma consciente e sustentável.

Ao fim da manhã  o representante europeu fez um apelo para os brasileiros: “O Brasil é um pais lindo, vocês tem o maior rio do mundo e devem cuidar deste cenário para o futuro. Nós tratamos nossos rios como esgotos e agora temos que recuperá-los, por favor não cometam os mesmos erros que a gente, sejam mais criativos no futuro!”

Descartando conselhos

Um dos principais debates foi sobre a revitalização do São Francisco   Foto: Renato Cobucci/Secom/MG
Um dos principais debates foi sobre a revitalização do São Francisco Foto: Renato Cobucci/Secom/MG
No início da tarde, o fundador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, e o representante do Ministério da Integração Nacional, (MMI) José Luiz de Souza, polarizaram o debate sobre a revitalização do Rio São Francisco. José  Luiz apresentou o programa do Governo Federal de Revitalização da Bacia. As ações se iniciaram em 2004 e estão em andamento. Elas preveem esgotamento sanitário, contenção da erosão, manejo de resíduos sólidos e obras de intervenção no São Francisco. O representante destacou o Projeto Água para Todos, que busca atender à demanda da população difusa do Nordeste por meio da captação da água da chuva.  Também foi citado o Programa de Geoprocessamento e Cadastramento de Propriedades Rurais no Oeste da Bahia.

Apolo Heringer criticou as ações do Governo Federal: “Não existe nenhum programa de revitalização no São Francisco. Se existe, me apresente porque eu não vi”. De acordo com Apolo, a transposição é  incompatível com a revitalização. Ele acrescenta que não foram feitos estudos na região do Semiárido. A água do São Francisco seria suficiente para abastecer estados do Nordeste Setentrional, desde que bem distribuída. Os barramentos também entraram na pauta. Para Apolo, obras desse tipo são construídas com o nome de revitalização, mas, na realidade, acabam com a piracema – migração sazonal dos peixes –  e alteram o curso natural do rio. José Luiz não concordou com o direcionamento do debate. Para ele, a reunião deveria ser sobre revitalização e não sobre Transposição. “Lamento a gente perder esse tempo”, afirmou.

Após as falas de Apolo e José Luiz, foi a vez do público expor suas opiniões sobre a revitalização do Velho Chico. Muitos participantes questionaram o que foi apresentado pelo representante do Ministério da Integração Nacional (MMI) e, novamente, a Transposição do São Francisco foi colocada em debate. Um dos pontos mais discutidos foi o conhecimento da população sobre as ações propostas para o São Francisco. A coordenadora de Geoprocessamento do Projeto Manuelzão, Lussandra  Silva questionou a ausência de dados e informações sobre o andamento das obras em uma plataforma pública que permitisse o acesso da população. Ao final do debate todos se juntaram próximos ao palco em um abraço simbólico pela revitalização dos rios. Os convidados estrangeiros fortaleceram o elo com o exemplo das iniciativas em seus países.

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