27/05/2025
Tal evento não tem respaldo dos movimentos historicamente ligados à defesa do meio ambiente em Minas Gerais
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O evento Águas para o Futuro, num primeiro momento, nos surpreendeu positivamente. Anunciado por intensa campanha publicitária para os dias 3 a 5 de junho de 2025, no Centro Cultural Unimed-BH do Minas Tênis Clube, centrado no tema água, seria tudo de bom. Mas, infelizmente, tem causado muita polêmica, dúvidas e desinformação.
Os comentários apontam a grande presença de estrangeiros alheios ao que se passa aqui, bem como a ausência dos mais representativos movimentos ecológicos e ambientais estaduais. Pareceu uma futurista nave espacial aterrissando na maltratada Minas Gerais prometendo a defesa dos rios, das serras, das águas subterrâneas, da cobertura vegetal dos ecossistemas de Minas Gerais. Mas, basta lembrar que somos o Estado internacionalmente conhecido pelas mazelas tecnológicas e irresponsabilidade socioambiental das grandes mineradoras que aqui operam. As tragédias que destruíram dois grandes ecossistemas hídricos, os rios Doce em 2015 e Paraopeba em 2019, somaram quase 300 pessoas mortas e enormes prejuízos materiais e ambientais. E a Unesco sabe disso. As grandes mídias mineira e internacional também. Dá vontade de gritar: Brasil, mostre a sua cara! A não-verdade agride, é injustiça! Mas o mimetismo revela admiração. Estamos sendo inconscientemente prestigiados. François de la Rochefoucauld, moralista francês do século XVII, escreveria: “Essa encenação é a homenagem que o vício presta à virtude”.
Não têm credibilidade afirmar que garantirão água para o futuro sendo que estão destruindo hoje os nossos melhores e maiores aquíferos no Quadrilátero Hidro-Ferrífero. Não haverá paz, água e alimentos com a destruição de rios, dos aquíferos e da vegetação que se processa no presente, em negação cabal da ciência e do ciclo hidrológico. Isso não merece o nome de economia e sim de predação neocolonial, além de não agregar valor tecnológico nem gerar empregos qualificados. A seca subterrânea está sendo produzida por quem autoriza os abusos da grande irrigação e da mineração, não controla as outorgas e não exige o pagamento do valor de mercado dessa água bruta. E sofre a população que assume os custos com os consequentes aumentos das tarifas de água e energia gerado por essa escassez hídrica, apesar das chuvas torrenciais que alagam a Região Metropolitana de BH! Temos vivido sobressaltos rotineiros de alarmes constantes de sirenes nos territórios da mineração, lembrando a possibilidade de novos tsunamis de lama invadindo casas, estradas, povoados, matando pessoas, animais terrestres, peixes e rios. Em Minas, a RMBH arrisca ter comprometido a curto prazo o abastecimento doméstico e comercial de água potável.
A COP 30, programada para Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025, não pode ser usada dessa forma, comprometendo o papel do Brasil na questão ambiental, acumpliciando o nome da Unesco e de convidados que possam estar acreditando nesse marketing. Esse cenário desmerece a dedicação de quem luta no Brasil pelo meio ambiente sofrendo represálias constantes. Não poderia ser pior o momento, quando o Senado acaba de aprovar o PL 2.159/2021 que cria a Lei Geral do (des)Licenciamento Ambiental, que libera ainda mais o desmatamento. E Minas tem sido campeã da destruição do que resta da Mata Atlântica.
Assim sendo, em nome da verdade histórica e dignidade da informação, declaramos, formalmente, que tal evento não é promoção dos movimentos historicamente ligados à defesa do meio ambiente em Minas Gerais. E cuja luta, em décadas, é amplamente reconhecida e muitas pessoas têm pagado com a vida ou sofrendo perseguições pessoais, políticas e judiciais por denúncias dos crimes ambientais. A verdade precisa prevalecer. Assinamos e aceitamos adesões.
Belo Horizonte, 27 de maio de 2025.
Assinam:
Assine também nosso manifesto ESCLARECIMENTO AO PÚBLICO acima publicado, enviando a adesão de entidades, ONGs e movimentos sociais, autorizando a publicação pelo e-mail do Projeto Manuelzão: manuelzao@manuelzao.ufmg.br
Mas antes, conheça o texto divulgado por eles, do evento Águas para o Futuro, do qual não fazemos parte e discordamos, no seguinte enderço: https://aguasparaofuturo.com
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