Suspensão da votação de tombamento provisório da Serra do Curral rende protesto em frente ao TJMGProjeto Manuelzão

Suspensão da votação de tombamento provisório da Serra do Curral rende protesto em frente ao TJMG

28/07/2022

Presidente do tribunal acatou pedido da mineradora Tamisa e determinou que audiência de conciliação seja realizada antes de votação

Movimentos em defesa da Serra do Curral foram à porta do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) em protesto contra a decisão do presidente do tribunal, o desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho, que cancelou a votação do tombamento provisório da serra, que aconteceria na tarde desta quarta-feira, 27.

Pereira Filho acatou parcialmente um pedido da Tamisa para suspender a reunião do Conselho Estadual de Patrimônio (Conep) que referendaria a Portaria 22/2022, publicada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), que definiu o acautelamento provisório da Serra do Curral.

Os manifestantes questionaram a decisão do presidente do TJMG de convocar uma audiência de conciliação entre a Tamisa e representantes do poder público mineiro. Eles ressaltam que a maior parte das instituições convocadas, como o governo estadual e a Prefeitura de Nova Lima, são favoráveis à mineração da Tamisa, e que a sociedade civil, principalmente o movimento Tira o Pé da Minha Serra, não foi consultado; assim como as comunidades tradicionais que serão diretamente impactadas pela exploração da Serra do Curral.

“O que o TJMG está dizendo para Minas Gerais com essa posição? ‘Pode destruir a Serra do Curral! Nós não temos interesse nenhum com a justiça socioambiental.’ É esse o recado do  TJ para Minas Gerais”, protestou a vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT). “Fica aqui o nosso repúdio a essa instituição [o TJMG] e ao seu presidente, por ter censurado a votação do tombamento provisório da Serra do Curral de forma autoritária”, completou.

A vereadora também citou a minero-dependência de Minas Gerais, atividade que no entanto representa apenas 4% do PIB, 1,3% dos empregos e 2% dos impostos no estado. “Não podemos seguir dependentes de um processo tão violento. Dizem que nosso estado tem vocação para a mineração. Nós devemos ter orgulho de moer montanhas, destruir aquíferos, produzir barragens como as de Mariana e Brumadinho? Devemos ter vocação para produzir ciência, tecnologia, não triturar pessoas, intoxicar pessoas, como está acontecendo aqui no [bairro] Taquaril. Nós perguntávamos, no começo, ‘você bebe minério?’ Antes vinha uma interrogação, mas agora é uma exclamação, porque as pessoas estão literalmente intoxicadas pelo minério”.

Manifestantes alertaram para o impacto catastrófico que mineração pode ter nos recursos hídricos da região. Foto: Mariana Lage

Chuva de impactos

A sombra que paira sobre o abastecimento hídrico da Região Metropolitana de Belo Horizonte também foi discutida. Além das consequências para a fauna e flora, a paisagem sonora e a qualidade do ar, a implantação do Complexo Minerário Serra do Taquaril (CMST) pode impactar o acesso à água de cerca de 2,5 milhões de mineiros.

A escassez hídrica pode se dar de dois modos: o risco de rompimento de uma adutora da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) próxima à área do projeto, que traria efeitos imediatos, e o impacto silencioso mas drástico no nível da água subterrânea reservada nos  aquíferos, cujo impacto pode ser aterrador ao longo do tempo, secando nascentes e comprometendo a resiliência de bacias hidrográficas a quilômetros de distância.

A bióloga e ativista Ana Flávia Quintão ressaltou a importância de se discutir o impacto de atividades extrativas como a mineração nas mudanças climáticas. “Essa casa de Justiça, o Executivo e o Legislativo seguem licenciando destruição de estruturas aquíferas que são extremamente necessárias para a adaptação à emergência climática. A mudança do clima representa a extinção da espécie humana no planeta, isso não pode ser mais negado. É um genocídio anunciado, não podemos abrir mão das nossas águas, de nenhum aquífero”.

A vereadora de Belo Horizonte Iza Lourença (Psol) questionou a intervenção do TJMG para impedir a discussão da proteção da Serra do Curral. “Não existe justiça quando os donos do poder não estiverem nem aí para a vida do povo e para o nosso planeta, enquanto tratarem a vida do povo como descartável. É assim que eles tratam os moradores da serra, a população que vai ficar sem água”, protestou. “O que a gente tá fazendo aqui hoje é dizer que não aceitamos. E se acham que atrás desses gabinetes mandam e desmandam no nosso estado e o povo vai ficar calado, estão muito enganados.”

Cerca de 100 pessoas compareceram à porta do TJMG, no bairro Serra. Um ofício foi protocolado pelo gabinete da vereadora de Belo Horizonte Bella Gonçalves (Psol), assinado também pelas vereadoras Duda Salabert, Iza Lourença e Juliana Sales (Cidadania), de Nova Lima, solicitando uma audiência com o presidente José Arthur de Carvalho Pereira Filho. Durante o ato, o presidente foi convidado a descer e conversar com os participantes, o que não aconteceu.

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