Sustentar a diversidade

27/10/2010

Três maiores biomas do país foram tema de discussão no primeiro dia do Seminário Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável

Por Alba Salles e Natália Ferraz,

Estudantes de Comunicação Social da UFMG

 Na última quinta-feira, dia 21 teve início o Seminário Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, promovido pela UFMG. Estudantes universitários, professores e pesquisadores estiveram presentes. Participaram da mesa o professor e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), José Marengo, o reitor Clélio Campolina e o Diretor de Desenvolvimento e Sustentabilidade da UFMG, Fausto Brito, que coordenou o seminário.

Amazônia: até onde chegar?

A abertura foi marcada pela conferência “Biodiversidade e Mudanças Climáticas: o caso da Amazônia” dada pelo professor José Antônio Marengo. O pesquisador do INPE mostrou dados e discutiu sobre a necessidade de se repensar a ocupação da Amazônia, que é de extrema importância para a estabilização do clima. As queimadas e o desmatamento na floresta constituem atualmente 75% das emissões brasileiras de CO2. Além disso, a pecuária, uma questão importante de ordem tanto econômica quanto ambiental para a floresta, cresceu 144%, quase 4 vezes mais do que no resto do país. Marengo ainda destacou que as mudanças climáticas ocorrem naturalmente e que a atividade humana está acelerando, de forma preocupante, isso: “O que era para acontecer em milhares de anos está acontecendo em décadas”, alertou.

Após a Conferência a mesa foi aberta para debate no qual todos os presentes manifestaram sua preocupação e discutiram sobre a necessidade de se pensar um modelo alternativo de ocupação da região amazônica. O reitor da Universidade também se pronunciou, ressaltando a necessidade de se repensar os modelos produtivos vigentes, e a importância das universidades nas discussões acerca do futuro do meio ambiente brasileiro. De acordo com Campolina, é essencial que várias áreas do conhecimento colaborem para propor soluções para os problemas socioambientais.

Marengo destacou a necessidade de inverter a relação produção x ambiente, e de criar um novo modelo para as regiões tropicais. Após a palestra, em entrevista, o professor Fausto Brito, coordenador do seminário, contou sobre a proposta de criar um fórum em 2011 que agregue pesquisadores e professores da universidade para discutir a formação de um modelo sustentável de desenvolvimento.

A vez do Cerrado    

Conjunto de ecossistemas terrestres climaticamente controlados. Essa foi a definição de bioma apresentada pelo professor Geraldo Wilson Fernandes, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, ao iniciar sua participação no Seminário Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável. Em sua conferência, foram abordados aspectos necessários à compreensão da sustentabilidade, com ênfase na situação do Cerrado. 

De acordo com o professor, “biodiversidade não é um número”, pois os biomas são muito complexos e dependem de clima, temperatura, pluviosidade, solo, altitude, continentalidade e interações. No Brasil há sete: Amazônia, Caatinga, Campos Sulinos (Pampas), Cerrado, Costeiros, Mata Atlântica e Pantanal.

Mesmo ocupando 24 % do território do país, 11 estados brasileiros e sendo a 2ª maior formação vegetal da América do Sul, o Cerrado está longe de receber toda a atenção que deveria. “Nós enxergamos a Amazônia, a Mata Atlântica e esquecemos outros tipos de vegetação, como o Cerrado”, explica o professor.

O bioma possui diversidade altíssima de formações vegetais – 21% das plantas do Brasil – e as chuvas são abundantes, mas 90% delas ocorrem em uma única estação. Também abriga nascentes importantes, como a do Rio São Francisco, e 45% do total de espécies de peixes do Brasil. Há também diversidade social, com quilombolas e 38 grupos étnicos indígenas.

As taxas de desmatamento são maiores do que na Amazônia, apenas 2,2% de sua extensão está em Áreas de Proteção Ambiental. Há erosão, invasão biológica e, das 537 espécies de plantas em extinção em Minas, 424 estão no Cerrado.

Segundo Geraldo Wilson, para pensar em sustentabilidade do bioma, é preciso mapear e monitorar a cobertura do solo, verificar os índices de degradação, estabelecer estratégias de restauração e promover o gerenciamento e conservação dos recursos hídricos.

O estudante de Ciências Biológicas que assistia à conferência, Arthur Fernando Vieira, disse que estava indignado com a falta de preservação dos biomas do nosso país, mas que, por meio desse seminário, pôde conhecer trabalhos de vários pesquisadores e descobrir que temos “a faca e o queijo na mão” para fazer mais pela preservação de nossos biomas.

 

A Mata ainda vive

O pró-reitor de Extensão da UFMG, professor João Antônio de Paula, iniciou sua conferência no seminário enfatizando a importância da busca de diálogo e de mudanças culturais em relação ao meio ambiente: “esse trabalho aqui [seminário] é a prova da riqueza de um trabalho em conjunto”.

Ele explicitou a diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico: o segundo pressupõe, entre outras coisas, distribuição primária de renda, apoio à ciência e tecnologia e reforma educacional. Em sua opinião, o Brasil é pobre apesar de moderno, industrializado e urbano porque não criou condições para o desenvolvimento.

O professor João Antônio acrescentou que, ao longo do tempo, vem se percebendo que o desenvolvimento não deve ser visto somente do ponto de vista econômico, mas também cultural, social, institucional e ambiental. A questão ambiental coloca em cena uma barreira ao sistema capitalista: o esgotamento dos recursos naturais que limita a capacidade de acumulação de bens.

“O problema ambiental não é um problema da biologia ou da geografia, é um problema social. Desenvolvimento sustentável só é possível com o fim do capital”. Essa é a opinião do professor, que também acredita que a degradação é resultado do mau uso dos recursos naturais.

A questão da Mata Atlântica foi o último tópico de sua palestra: em 1500 ela ocupava 15% do território brasileiro e 1/3 do que veio a se tornar Minas Gerais. Atualmente, só restam 7% de tudo o que havia antes. E mesmo assim, ainda há nela grande concentração de espécies endêmicas de vegetais e animais. Segundo o professor, a história da Mata Atlântica deve servir de alerta para que medidas sejam tomadas em relação ao desmatamento da Floresta Amazônica.

Durante o debate, o professor afirmou não acreditar “que qualquer transformação possa acontecer sem que haja uma nova ótica cultural”. Ele também disse que o dinheiro não pode ser regulador da política ambiental. “A constituição brasileira é avançada. O problema não é a legislação, a questão é quem tem poder”, afirma.

No último dia do Seminário, foram apresentadas discussões sobre a recuperação da bidiversidade e as políticas públicas. Confira.  

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