Tragédia-crime do rio Doce ainda está em cursoProjeto Manuelzão

Tragédia-crime do rio Doce ainda está em curso

11/11/2019

Seminário às margens do Doce debateu a situação da população e o processo de reabilitação do meio ambiente

Pelo quarto ano consecutivo, a UNIVALE e parceiros (universidades públicas e ONG´s) discutiram a situação da população atingida e o processo de reabilitação do meio ambiente físico da bacia do Rio Doce, que sofreu o maior desastre ambiental da história do Brasil, em 2015. O evento aconteceu em Governador Valadares-MG, nos dias 6 a 8 de novembro, na campus da UNIVALE, que fica às margens do Rio Doce, e contou com o apoio institucional do Ministério Público do Estado de Minas Gerais – MPMG.

“A iniciativa da UNIVALE e instituições parceiras reúne, anualmente, profissionais de diferentes áreas do conhecimento e busca, dentro de uma perspectiva interdisciplinar, tirar uma radiografia da realidade da bacia do Rio Doce. Nos 3 dias de nosso Encontro discutimos desde a situação dos pescadores ao longo do Rio, como também as estratégias corporativas da Vale S.A e do neo extrativismo global. Na Carta de Governador Valadares apresentamos recomendações para se resolver os inúmeros problemas econômicos, sóciais e ambientais ainda presentes”, afirmou o coordenador geral do 4º SIRD, Prof. Haruf Espíndola.

O primeiro dia foi dedicado ao diálogo com representantes das populações atingidas para avaliar sua situação depois de quatro anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, e discutir o papel dos diferentes atores envolvidos com as medidas de compensação e reparação. Estiveram presentes representantes dos atingidos dos municípios de Conselheiro Pena, Barão de Cocais e de Brumadinho, além de vários bairros de Governador Valadares. O Encontro com os atingidos aconteceu às margens do rio Doce, no bairro São Tarcísio, onde se iniciou a formação da cidade.

A representante dos atingidos de Brumadinho levou as fotos das 272 vítimas da tragédia e as dispôs no chão. Em sua fala, ilustrou como a VALE manipula, desrespeita e controla o processo de indenizações na cidade. O representante de Barão de Cocais falou sobre a construção de um muro de proteção, já finalizado pela VALE, para conter a lama da Barragem Sul. Segundo seus relatos, a população entende o muro como uma segunda barragem, além de incerteza e ansiedade continuarem presentes na vida de uma parcela significativa daquela população.

O dia 7 foi dedicado ao debate sobre os rumos das pesquisas desenvolvidas pelas universidades no processo de reabilitação do rio Doce, envolvendo o Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Gestão Integrada do Rio Doce – GIT/Univale, Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH/UFSC, Rede Interinstitucional de Pesquisa Socioambiental – RIPS/Univale-UFJF-IFMG, Rede Terra Água/UFV-UFOP-Univale, Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce e Centro Agroecológico Tamanduá – CAT.

Foram avaliados os monitoramentos da qualidade da água em diferentes partes do rio Doce, discutidos temas como aproximação dos cientistas com a população atingida, o uso da pesquisa científica como referência nas decisões judiciais, como também na defesa de interesses econômicos ou para fundamentar peças forjadas de comunicação social. Foi enfatizada a necessidade de aprofundar os estudos de saúde pública da população atingida nos vários municípios e não apenas em Mariana e Barra Longa.

À noite, aconteceu o Painel: Estratégias corporativas da Vale S.A e o neoextrativismo global, seguido de debate entre os professores Haruf Espindola (Univale), Bruno  Milanez ( UFJF), Gustavo Soares (UFV/Rede Terra Água) e Klemens Laschefski (UFMG).

No último dia, foi realizada a mesa-redonda “Do Rio Doce ao Velho Chico”, com a participação do Consultor Cláudio Guerra, Prof. Haruf Espindola, Prof. Sérvio Ribeiro (UFOP), Marina Oliveira (representante dos atingidos de Brumadinho) e do Procurador Helder da Silva (MPF).

A discussão mostrou algumas semelhanças entre as tragédias do rio Doce e de Brumadinho e também a importância da organização social e da ação política, principalmente dos atingidos diante das estratégias da VALE. Também foi detalhada a situação das 15 barragens de rejeitos da empresa, que não têm o documento de declaração de estabilidade, estando três delas na situação extrema, podendo romper a qualquer momento. Foi sugerido também que a Carta de Valadares, contendo questionamentos e recomendações do 4º SIRD, seja enviada ao CIF(Comitê Interfederativo).

O 4º SIRD se encerrou com a elaboração da Carta de Valadares, contendo recomendações para as políticas de enfrentamento das tragédias e valorização da população atingida e para o direcionamento das pesquisas nas universidades envolvidas.

“Este Seminário se tornou uma referência na discussão da tragédia do rio Doce, uma vez que reúne professores, pesquisadores, lideranças comunitárias, de diferentes instituições, a partir de fatos e dados da realidade hoje naquela bacia hidrográfica. O 4º SIRD é uma prova de resistência às mazelas e às lamas da grande mineração em Minas Gerais e um lócus do conhecimento que adota uma linha propositiva para se resolver os inúmeros problemas presentes ainda hoje na região”, concluiu um dos coordenadores do 4º SIRD, o consultor ambiental Claudio Guerra.

 

Texto: Claudio B.Guerra

Fotos: ASCOM/Univale

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