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Um balanço das cheias do Rio das Velhas

13/01/2022

A cheia do Velhas atingiu várias cidades da bacia, em especial Itabirito, Rio Acima, Raposos, Nova Lima, Sabará, Santa Luzia, Jequitibá, Sete Lagoas e Santo Hipólito

[Matéria de Celso Martinelli publicada no site do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas na quarta-feira, 12 de janeiro. Fotos: Marcos Neves. Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas: TantoExpresso.]

No último domingo (09), no ponto de captação da Copasa, em Nova Lima, o Rio das Velhas atingiu uma vazão de incríveis 530 m³/s – como comparação, no período mais crítico da estiagem, em setembro de 2021, o manancial registrava aproximadamente 10 m³/s.

Ainda segundo a Copasa, os índices pluviométricos indicam que, neste mês, choveu no sistema produtor do Rio das Velhas quase que o dobro da média histórica para janeiro. Em relação ao mesmo mês em 2021, já choveu cinco vezes mais no sistema somente nestes primeiros dias.

O secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, destacou os recentes conflitos da nossa sociedade com a água durante os períodos de estiagem e de chuva. “Foram três anos seguidos com volumes de vazões do rio extremamente baixos. Há pouco estávamos discutindo a escassez e, agora, estamos falando sobre quase esse dilúvio que chegou de repente. Devemos aprender que não dá para brigar com a chuva, um fenômeno natural, e também não dá para brigar com a cheia do rio, que é absolutamente natural, não tem como dimensionar o volume de água que vai cair”, provocou.

Para ele, respeitar toda a natureza, inclusive do rio, é o primeiro passo. “Quando vemos inundações em cidades dentro da Bacia do Velhas, diversas dessas casas estavam praticamente às margens do rio. Margem do rio, é do rio, e não para nossa ocupação. Se ficarmos brigando por esse modelo de ocupação, vamos perder todas. A partir de agora é convocar as prefeituras para pensar em um plano de realocação das comunidades mais carentes, que todos os anos sofrem com as inundações e são vítimas do mesmo processo. É preciso ter políticas públicas para dar segurança a essas pessoas, e um Plano Diretor que seja respeitado”, completou Polignano.

Sobre as barragens de rejeito de mineração que ameaçam o Rio das Velhas e a população da Região Metropolitana, Polignano destacou: “A sociedade fica sempre em estado de alerta e preocupação porque temos uma situação de barragens que foram construídas ao longo dos anos sem a segurança devida. A gente tem, na verdade, é muita falta de informação sobre qual a real situação das barragens, como da Vallourec, na BR-040, que sequer estava no nosso radar”.

Ainda sobre as estruturas, Polignano mostrou preocupação com novos transbordamentos ou mesmo rompimentos. “O que a gente sabe é que temos três barragens na bacia do Rio das Velhas, na região de Macacos, a B3 e B4, além da Forquilha I e III, entre Ouro Preto e Itabirito. A preocupação é alta porque temos um volume muito grande armazenado de rejeito. O volume de água também é grande e podemos ter sérios problemas de abastecimento também na capital se o Rio das Velhas for atingido pelo rejeito desses barramentos, em caso de rompimento”, ressaltou Polignano.

O CBH Rio das Velhas fez um levantamento de cada uma das regiões mais atingidas pelas chuvas e a consequente cheia do rio:

Itabirito

Desde domingo (9) foi declarado estado de calamidade pública pela Prefeitura Municipal de Itabirito. O Executivo justificou a medida, citando o “cenário de destruição provocado pelo histórico volume de chuvas”. No início da semana, o Corpo de Bombeiros foi acionado para um risco de desabamento e desmoronamento na rua Primo Cavaliere, no Centro. O transporte público também foi afetado e estava paralisado em função das interdições de vias públicas, decorrentes das chuvas. Doações estão sendo recebidas para pessoas que perderam seus bens durante os temporais.

Rio Acima

No final de semana, o Rio das Velhas transbordou em Rio Acima e atingiu grande parte da cidade. Pessoas tiveram que ser resgatadas de barco. A Prefeitura também foi tomada pela água no domingo (9) e a contabilidade perdeu documentos, arquivos e computadores. As casas da cidade amanheceram cobertas de lama e mais de mil pessoas estão desalojadas O acesso da cidade por Itabirito chegou a ser interrompido. A cidade ficou ilhada durante todo o fim de semana, já que a MG-030 também sofreu danos. Por fim, o sistema de captação de água foi afetado e o abastecimento público suspenso.

Raposos

Já em Raposos, cidade com aproximadamente 16,5 mil habitantes, quase 66% dos moradores precisaram deixar suas casas devido a inundações provocadas pelos temporais dos últimos dias. De acordo com levantamento da Prefeitura, aproximadamente 2 mil pessoas ficaram desabrigadas, enquanto outras 9 mil foram desalojadas.

Uma ponte na divisa do município também foi tomada pela água, com moradores ficando ilhados. Ainda segundo o Executivo municipal, 500 pessoas estão em abrigos improvisados, como escolas e a própria Prefeitura. Já outros desalojados e desabrigados estão em casas de parentes ou vizinhos que moram na parte mais alta da cidade. No entanto, faltam itens básicos, como cesta básicas e colchões.

Nova Lima (Honório Bicalho)

No distrito de Honório Bicalho, em Nova Lima, a situação mais crítica foi no domingo. Segundo o Corpo de Bombeiros, a água do Rio das Velhas subiu aproximadamente 2,5 metros, alagando grande parte da localidade. Os militares foram acionados para socorrer pessoas ilhadas e, em algumas áreas, o acesso só foi possível de barco.

Sabará

Em Sabará, famílias seguem limpando as casas após o período mais crítico da cheia do Rio das Velhas, que também atingiu o município. A Defesa Civil daquela cidade, segundo assessoria, já realizou 243 vistorias em diferentes regiões. O principal chamado é para os deslizamentos de terra. Foram registrados 24 desabamentos de muros e outros 32 imóveis apresentaram trincas, rachaduras e infiltrações. Ao todo, 100 pessoas ainda estão desabrigadas e assistidas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. O principal pedido, neste momento, é por doação de materiais de limpeza e alimentos não perecíveis, que podem ser entregues em um dos 11 pontos de apoio.

Santa Luzia

Um cenário de guerra foi deixado pelas fortes chuvas em Santa Luzia, na Grande BH. A água que desceu após o transbordamento do Rio das Velhas invadiu casas, comércios, avenidas e pontes. Até esta quarta-feira (12), moradores, funcionários públicos, lojistas e voluntários pegavam pesado na limpeza de algumas áreas atingidas. No domingo, várias vias precisaram ser interditadas para assegurar a segurança de quem tentava transitar pela cidade.

Jequitibá

No município, que historicamente convive com as cheias do rio, o Velhas transbordou e as ruas próximas do curso d’água já estavam alagadas desde a última terça-feira (11). Famílias em situação de risco foram retiradas de suas residências conforme orientação da Defesa Civil. Elas foram alojadas na Estadual Professor Vitor Pinto, um dos pontos mais altos do município.

Conforme monitoramento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil, atualizado a cada 15 minutos na plataforma Sace (Sistema de Alerta de Evento Críticos), Jequitibá, Rio Acima e Raposos já atingiram sua cota de inundação. A água, inclusive, já passou sobre ponte na MG-238, que liga Jequitibá a Santana de Pirapama. Nesse trecho, a pista foi totalmente interditada pela Polícia Militar Rodoviária.

Sete Lagoas

Em comunicado enviado na segunda-feira (10), o Serviço Autônomo (SAAE) de Sete Lagoas informou que, “devido às fortes chuvas que caem ao longo desses últimos dias e no último final de semana em praticamente toda a região sudeste, sobretudo na região metropolitana de Belo Horizonte, o Rio das Velhas encontra-se com grande volume de água, o que impossibilita a captação de seu leito, uma vez que os motores ficaram submersos. Dessa forma, está temporariamente suspensa a captação e o tratamento de água do rio, até que a vazão caia para limites que possibilitem o funcionamento dos motores”.

Em função disso, pelo menos 19 bairros de Sete Lagoas podem ter o abastecimento de água prejudicado: São João, Braz Filizolla, Santa Marcelina, New York, Bom Jardim, Esperança, Aeroporto, Industrial, CDI II, Interlagos, Luxemburgo, JK, Planalto, São Vicente, Emília, Montreal, Alvorada, Canadá, Jardim Europa e adjacências.

A operação da Estação de Tratamento de Água (ETA), localizada em Funilândia, só será reiniciada assim que as condições da água do Rio das Velhas a ser captada/tratada melhorarem. O SAAE recomenda, ainda, que a população economize para manter os reservatórios de casa cheios durante o período.

Santo Hipólito

A Prefeitura de Santo Hipólito divulgou nesta quarta-feira (12) a interdição total da ponte sobre o Rio das Velhas no distrito de Senhora da Glória. Condutores de veículos devem ficar em alerta ao se deslocarem pela região. A ponte interditada fica na LMG-278, acesso também para Curvelo.

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