Vale é a 12ª corporação mais envolvida em conflitos extrativistasProjeto Manuelzão

Vale é a 12ª corporação mais envolvida em conflitos extrativistas no mundo

02/07/2025

Estudo mostra que 100 corporações são responsáveis por 20% dos casos; Atlas de Justiça Ambiental registra 31 conflitos envolvendo a Vale

Somente no Pará e em Minas Gerais, Vale registra 13 ocorrências, incluindo o rompimento na bacia do Paraopeba. Foto: Júlia Pontés.
* Matéria de Laura Garcia publicada no site do Instituto Guaicuy nesta quarta-feira, 2 de julho.

Um estudo do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambientais da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB) mostrou que 100 corporações são responsáveis por 20% dos conflitos extrativistas no mundo. Intitulado “Driving ecologically unequal exchange: A global analysis of multinational corporations’ role in environmental conflicts” (Impulsionando trocas ecologicamente desiguais: uma análise global do papel das corporações multinacionais em conflitos ambientais), o artigo apresenta a maior análise estatística já realizada sobre o papel das corporações em conflitos ambientais. Para isso, o pesquisador Marcel Llavero-Pasquina utilizou dados do Atlas de Justiça Ambiental, que documenta mais de 4.300 conflitos ambientais.

Publicado na revista Global Environmental Change (Mudança Ambiental Global), o estudo elencou as empresas envolvidas em mais conflitos pelo mundo. Na lista, estão a Vale, em 12º lugar (31 conflitos), e a AECOM, empresa auditora do Plano de Recuperação Socioambiental da Bacia do Paraopeba, em 94º lugar (8 conflitos). A BHP Billiton, australiana corresponsável pela barragem rompida de Fundão, em 2015, ocupa o 15º lugar da lista. Outras multinacionais conhecidas por violações de direitos que também figuram nesse rol são Coca-Cola, Bayer-Monsanto, e a petroquímica Shell.

Confrontadas por ativistas e pesquisadores por seu envolvimento em conflitos ambientais e violações de direitos humanos, as corporações têm adotado iniciativas de ESG (ambiental, social e governança) para, supostamente, mitigar seus impactos e reforçar uma imagem positiva para a sociedade. Essas ações se baseiam em teorias controversas de desenvolvimento econômico, que afirmam que o investimento estrangeiro permite que empresas multinacionais contribuam para o crescimento econômico de países considerados em desenvolvimento.

O artigo de Llavero-Pasquina cita, ainda, casos de articulações internacionais por justiça para comunidades atingidas por essas empresas, já que os governos de países “em desenvolvimento” tendem a facilitar as atividades extrativistas de multinacionais, às custas das populações locais. Um dos exemplos é o julgamento da mineradora BHP Billiton (acionista da Samarco) em Londres, pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana, em 2015.

Os resultados do estudo mostram também como corporações multinacionais, majoritariamente sediadas no chamado “Norte Global”, estão envolvidas em conflitos ambientais no “Sul Global”. Conflitos ambientais com a presença de empresas estrangeiras envolvem, de forma desproporcional, commodities que facilitam a troca desigual e apresentam mais impactos socioeconômicos e desfechos piores do que os casos sem empresas estrangeiras. A conclusão coloca em xeque o discurso de sustentabilidade corporativa, baseado em dados autodeclarados pelas empresas, e conclama profissionais e pesquisadoras(es) a colocarem no centro de suas análises as realidades vividas pelas pessoas que resistem ao extrativismo, a fim de avaliar o real desempenho socioecológico dessas empresas.

“Uma pesquisa como essa nos mostra como essa lógica do lucro privado (e estrangeiro) submete as populações locais a riscos mortais, como foi o caso das 272 vítimas do desastre-crime da mineradora Vale, que um ano após o rompimento da barragem de rejeitos, acumulou um lucro de quase 300%, sem nenhuma garantia de reparação ou qualquer retorno às populações locais”, diz Carla Wstane, doutora em Geografia e diretora do Instituto Guaicuy. “Seis anos depois, o crime segue continuado”, completa.

Leia o artigo completo (em inglês).

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