27/11/2021
Brejinho, na capital, se tornou parque municipal; conquista de 20 anos de luta foi celebrada com belos depoimentos, plantio de mudas, contação de histórias e música
Moradores, movimentos ambientalistas e grande parte das pessoas que acompanharam a luta pela consolidação do Parque do Brejinho, no bairro São Francisco, na Pampulha, se reuniram nesta sexta-feira, 26, para celebrar uma grande conquista. A Prefeitura de Belo Horizonte finalizou as obras de readequação e entregou o parque oficialmente em setembro, mas os moradores escolheram essa data para a celebração para que o processo de vacinação na cidade estivesse mais avançado.
O Brejinho, que leva esse nome por suas diversas nascentes e solo pantanoso, é também um dos núcleos Manuelzão. Ele faz parte da microbacia do córrego São Francisco, que engloba bairros localizados no baixo Engenho Nogueira. Na região, há cinco nascentes, que compõem o córrego São Francisco e se encontram com o córrego Engenho Nogueira para desaguar no ribeirão do Onça.
O evento contou com falas dos mobilizadores e moradores da região, que fazem parte dos 20 anos de luta pela preservação e revitalização do Brejinho, além de representantes da Prefeitura de Belo Horizonte, da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, e do Projeto Manuelzão, que atuou na consolidação do Brejinho através do Núcleo Manuelzão Brejinho. Os moradores também levaram crianças para se divertirem e animais para aproveitarem o espaço, que conta com muitas árvores, playground e horta comunitária.
“Estou muito feliz, para mim é uma vida. São décadas de sonhos, indignação, de luta, de correr atrás, de sonhar e sonhar, juntos”, comemora Dalva Lara, pedagoga e mobilizadora do Núcleo Manuelzão Brejinho. “Foi por isso que a gente conseguiu. A minha presença é uma declaração de amor a Belo Horizonte, que embora tenha água, tem também o ferro que traz a indignação das montanhas indo embora. Mas foi pela água que eu descobri o Brejinho. E é pela água do Brejinho que eu trabalhei anos e anos da minha vida, com muita garra. E a continuidade veio. Estou aqui não só como uma declaração de amor, mas de gratidão”.
Em entrevista ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas), Lindaura Santos, ativista comunitária do Projeto Manuelzão, Núcleo do Brejinho e Subcomitê Ribeirão Onça, afirmou não ter palavras para traduzir o que sentia: “Isso é fruto do esforço. O mais gratificante é ver que nós vencemos e hoje estamos aqui comemorando, não tem coisa que paga”. Mas adverte: “A luta continua. O parque ainda não está todo implantado. O próximo passo é fazer os banheiros, os bebedouros. O parque é da comunidade, um parque aberto. Ninguém quer um parque fechado”.
A celebração contou com apresentações de contação de histórias, música e dança do Wontanara Brasil, um grupo de pesquisa e interpretação da Cultura do Oeste Africano, com os artistas Maria Menezes e Jhonson Encina. Depois os participantes se reuniram para um plantio simbólico de mudas e um lanche compartilhado com produtos orgânicos produzidos no projeto de agroecologia. Finalizando o encontro, representantes das diversas entidades inauguraram a placa na portaria do Parque.
A história de mobilização pelo Parque do Brejinho começou em 1997, quando a comunidade iniciou a luta pela preservação da área em oposição aos loteamentos e estradas que invadiram a área do brejo. Em 2006, por meio do Orçamento Participativo, foram conquistados cerca de R$2 milhões para a aquisição da área do parque. Com essa verba foram realizados somente a construção da portaria e o cercamento do terreno e depois disso o Brejinho continuou abandonado.
Em 2017, o CBH Velhas investiu na recuperação das nascentes do Brejinho por meio do Projeto de Valorização de Nascentes Urbanas. Em parceria com o Subcomitê do Ribeirão Onça, foram realizados serviços de limpeza, plantio de mudas nativas, identificação de área e construção de passarela no Brejinho. Mais recentemente, em 2019, foi criado o projeto agroflorestal em parceria com o Manuelzão e a Secretaria de Segurança Alimentar da Prefeitura de Belo Horizonte. O coletivo desenvolve mutirões e mantém a agrofloresta e a horta comunitária do Brejinho viva.
Lívia Silva, estudante de Ciências Socioambientais da UFMG, auxiliou na implantação do parque e conta que a mobilização pelo Brejinho tem várias frentes. Ela também contribui no coletivo de agroecologia Taboa, fruto do projeto agroambiental do Brejinho. “Nesse tempo, nos reunimos por meio de mutirões, fizemos carnaval, bicicletadas. Buscamos levantar as bandeiras, politizar o movimento, a partir da partilha de saberes. Parece pouco mas é tanto mais o que acontece. Quando vemos relatos de como isso aqui é uma alegria para as pessoas, ajuda na depressão, ansiedade. A união jovem deu um gás no movimento e aqui é símbolo de como a agroecologia pode fazer redes”, conta Lívia.
Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Manuelzão, ressalta a importância do Parque do Brejinho para aumentar as áreas verdes e de permeabilização da cidade, que são também áreas de convivência e partilha. “Vivemos na cidade uma briga com as nossas águas. Nós não existimos sem ar, sem verde, sem biodiversidade. O que nós estamos falando é de uma área de quase 67 campos de futebol, que na época de chuva vai ajudar na infiltração e evitar inundação. Isso aqui era um grande brejo, com uma imensidão de nascentes, por isso o nome. Essas mangueiras são antigas”, conta, apontando para as árvores do Brejinho.
E completa, em relação à importância das áreas verdes urbanas frente às mudanças climáticas: “estamos numa crise climática e a nossa cidade tem que ser resiliente. E o Brejinho representa uma área verde, coletiva e de diversidade. Depois de 20 anos é uma alegria contar essa história. Aqui teve luta, teve conquista, teve empenho e tem esse amor de quem construiu esse espaço. Os sonhos são possíveis, desde que a gente não os perca”.
Confira mais fotos do dia no Brejinho: